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Biotecnologia de algas
10 de Abril de 2020 Roberto Bianchini Derner
As algas na agricultura

A relação das algas com a agricultura vem de longa data, sendo empregadas como biofertilizantes tanto microalgas (biofixação de N2 no solo, por exemplo) quanto macroalgas e, para além deste propósito, as algas têm muito mais a oferecer às plantas.

Por conta do imperativo incremento na produção e na produtividade agrícola, aliado à busca por alimentos mais saudáveis - seja pela redução do uso de implementos químicos quando da propagação das culturas orgânicas -, tem sido observado um crescente interesse na pesquisa e na utilização de compostos bioativos naturais. Particularmente na denominada agricultura de precisão – “onde um dos principais conceitos é a aplicação dos insumos no local correto, no momento adequado, nas quantidades apropriadas, de forma homogênea e em áreas cada vez menores” -, o mercado de produtos baseados em extratos de algas vem apresentando rápida expansão, uma vez que, tanto em nível de bancada quando em escala comercial têm sido verificados efeitos positivos destes produtos sobre o aumento nos rendimentos das colheitas - no Brasil já são utilizados milhares de litros destes produtos.

 

 

Dentre os efeitos/benefícios ocasionados pelo uso dos extratos de algas nas plantas cultivadas (através de aplicação foliar e/ou no solo) podemos destacar: maior enraizamento, brotação e florescimento; frutos de melhor qualidade e maior durabilidade; melhora na tolerância a estresses bióticos (doenças causadas por fungos, bactérias e vírus; danos causados por insetos) e abióticos (solo salino, baixa disponibilidade de água, efeitos do frio, como geada etc.).

Os extratos de algas, além do sais nutrientes (biofertilizantes), contêm diversos outros compostos com propriedades bioativas como: hormônios vegetais (auxinas, giberelinas, citocininas, ácido abscísico etc.), aminoácidos, carboidratos, vitaminas, além de outros compostos não identificados, que atuam como bioestimulantes nas plantas.

Há pouco tempo, os extratos de algas comercializados eram quase que exclusivamente produzidos a partir de macroalgas e, neste caso, a matéria-prima tem sido obtida de algas arribadas (trazidas às praias pela ação das correntes marítimas após desprendimento do substrato ou fragmentação dos talos) ou da coleta em bancos naturais. Cabe aqui arrazoar que a coleta dos bancos naturais, por ser uma atividade extrativista, demanda um manejo adequado visando mitigar possíveis impactos ambientais, ação adotada pela maioria das empresas que se dedicam à produção dos extratos, bem como, pode vir a ser uma oportunidade para o desenvolvimento de cultivos de macroalgas para esta finalidade.

Indiscutivelmente, a macroalga mais empregada na elaboração de extratos para uso na agricultura é Ascophyllum nodosum (Figura 1), uma alga parda, de ocorrência em águas frias do Atlântico Norte que é principalmente coletada de forma manual (Figuras 2 e 3), sendo que o mercado está consolidado e provido por muitas empresas: Acadian Seaplants (Canadá), Algea (Noruega), Arramara Teoranta (Irlanda), North American Kelp (USA), Beijing Leili (China), Goëmar (França), Seasol (Austrália) dentre outras.

Nos anos recentes, a novidade é o ingresso das microalgas neste cenário, uma vez que já existe uma série de empresas oferecendo produtos à base de microalgas (Chlorella spp. e Arthrospira spp. - Spirulina) para uso na agricultura, sendo atribuídas a estes extratos as mesma atividades biológicas verificadas com a utilização dos produtos de macroalgas. Correndo em paralelo, muitas pesquisas têm sido desenvolvidas – principalmente na Europa -, e publicadas nos congressos e periódicos relacionados à agricultura. Tais pesquisas visam à identificação de cepas de microalgas produtoras de compostos bioativos com efeitos bioestimulantes nas plantas, bem como, têm foco no estabelecimento das condições ambientais de cultivo que potencializem a biossíntese destes compostos pelas células microalgais. No Brasil, alguns grupos têm realizado estudos voltados a este tema e, por conta da nossa expressiva produção

agrícola, acredito que esta linha de pesquisa logo venha a ter um superdesenvolvimento, inclusive com a oferta de novos produtos à base de outras espécies de microalgas, sendo esta mais uma das aplicações biotecnológicas das microalgas.

 

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Roberto Bianchini Derner

Biólogo, Mestre em Aquicultura e Doutor em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador e Gerente do Setor de Microalgas do Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC entre 1989 e 2006. Atualmente é professor no Departamento de Aquicultura e supervisor do Laboratório de Cultivo de Algas (LCA). Coordena diversos projetos de pesquisa na área de recursos pesqueiros e engenharia de pesca/biotecnologia, com ênfase em aquicultura/algocultura - cultivo de microalgas para a produção de compostos bioativos (pigmentos, ácidos graxos, polissacarídeos etc.), biocombustíveis (biodiesel, bioetanol etc.) e tratamento de efluentes líquidos e gasosos.

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