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Genética
01 de Janeiro de 2019 Rodolfo Luís Petersen
Definição da estratégia de melhoramento: Seleção ou cruzamento? – Parte I: Entendendo a transferência de informações genéticas

Uma vez reunidas as populações base, definida a caraterística a melhorar, para qual sistema e região de cultivo, devemos definir qual será a estratégia de melhoramento. E aqui devemos nos adentrar em princípios da genética que não são muito simples de explicar, nem muito fáceis de entender.

Como já vimos, o FENÓTIPO está composto pela combinação da composição genética e do efeito do ambiente de cultivo. Decompondo isto, podemos assumir que a VARIABILIDADE FENOTÍPICA é igual a somatória da VARIABILIDADE GENÉTICA e a VARIABILIDADE AMBIENTAL. A variância genética tem duas componentes que afetam simultaneamente o fenótipo: os efeitos aditivos e os efeitos de dominância dos alelos. Quando falamos de ALELOS, nos referimos a alternativas observadas nos genes com relação a informação que ele carrega para a produção de uma determinada proteína. Cada gene possui dois alelos (alternativas informacionais) em um indivíduo, porém numa população, cada gene pode ter vários alelos. Uma caraterística quantitativa como as que costumamos escolher para o melhoramento, por exemplo, crescimento ou resistência a determinada doença, é definida por um número elevado de genes atuando sobre a mesma. A combinação dos efeitos aditivos e de dominância das centenas de genes que podem atuar numa caraterística quantitativa, em conjunto com o ambiente, definem o fenótipo do animal.

 

 

A variabilidade genética de uma população estará definida pelo número de alelos de cada gene e suas frequências. Em cada geração de reprodução, os gametas carregam um único alelo do par de alelos que cada indivíduo possui, de cada gene. Quando no momento da fertilização os gametas se encontram, e os alelos se juntam novamente para conformar o genótipo do gene de um indivíduo (combinação de alelos nos cromossomos homólogos), acontece uma reconfiguração da variabilidade genética da população filial (descendentes). Neste contexto, a variância genética total é a combinação dos efeitos aditivos e os efeitos de dominância dos alelos. O efeito aditivo é a somatória do efeito dos alelos individualmente, que contribuem para a caraterística de interesse. Já o efeito de dominância depende de como os alelos que contribuem para a característica se combinam no genótipo, no momento da fertilização. O valor dos efeitos vai mudando ao longo das gerações.

O efeito individual de cada alelo é repassado de geração em geração por efeito da SELEÇÃO. Selecionando os indivíduos estamos selecionando alelos e aumentando sua frequência na população. Já o efeito da combinação de alelos se desmancha em cada geração, pois para cada estação de reprodução existirá a formação de uma nova população de gametas. Os alelos que estavam combinados na geração parental se separam no processo de formação dos óvulos e espermatozoides, mais precisamente na divisão meiótica que acontece na formação das células sexuais. Desta forma, após a cópula, acontecerá uma nova combinação de alelos na geração filial. O efeito dessa nova combinação, onde pode existir uma interação entre alelos dentro de um mesmo gene, é chamada de variância de dominância. A variância genética aditiva é a variância herdável, já que é o efeito dos alelos individuais que são transferidos em função de que, como já foi explicado, a combinação de alelos no genótipo é aleatória no momento da reprodução, e que novas combinações são obtidas em cada estação de reprodução da população trabalhada.

Numa determinada população base, ou numa determinada geração de seleção, a variação genética terá as duas componentes, a quantidade de variação em função da ação aditiva dos genes, como também em função dos efeitos da combinação de alelos, ou seja, os efeitos de dominância. Quando a variância aditiva é baixa, as populações não responderão eficientemente à seleção. Se a variância aditiva é baixa, quer dizer que a variância de dominância é alta. Nesse caso, teremos que abdicar da SELEÇÃO e fazer uso do CRUZAMENTO. A exploração da variância genética de dominância é o princípio básico da hibridação de populações, podendo ser intraespecífica ou interespecífica. Temos ainda a variância genética de epistasia, que nada mais é do que o efeito da interação de alelos de diferentes genes na caraterística de interesse. A variância genética de epistasia é de difícil estimativa do seu valor, e os geneticistas quantitativos a consideram depreciável.

Conhecer o valor destes efeitos e sua proporção dentro da variabilidade fenotípica é o que vai nos dizer a melhor e mais eficiente estratégia a adotar em um programa de melhoramento. A essa proporção se a denomina HERDABILIDADE. Relacionando o tema com a coluna anterior, quando maior for a variabilidade inicial da população base, maior poderá ser a variação genética aditiva inicial (maior número de alelos atuando sobre o fenótipo de interesse), sendo maior a possibilidade do uso da estratégia de SELEÇÃO nos programas de melhoramento.

 

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Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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