Um novo ano pede novos desafios. Pensando nisto resolvi mudar o foco de minha coluna para uma área da aquicultura ainda pouco divulgada, mas com um enorme potencial de inovação. Esta nova coluna está relacionada profundamente ao meu início na aquicultura. Ainda quando criança mantinha mais de setenta aquários no quarto onde tentava dormir em meio a bombinhas de ar e muita água no chão. Foi onde despertei para a magia de reproduzir peixes e aprender sobre as diferentes espécies e técnicas de cultivo. Até nos dias atuais, desenvolvo a criação de peixes e invertebrados ornamentais no quintal de casa, mantendo a paixão que me trouxe até meu exercício profissional. Nada mais justo do que uma reverência às origens. Nasce a coluna “Aquicultura Ornamental” na Aquaculture Brasil.
Por que escrever sobre isto? Você sabia, caro leitor, que o aquarismo é o segundo maior hobby do mundo, movimentando entre 15 a 20 bilhões de dólares por ano? Sabia que o Brasil ocupa a 13º posição entre as nações envolvidas na exportação de peixes ornamentais? Sabia que existem feiras internacionais (Aquarama, Interzoo) somente para este segmento da cadeia produtiva da aquicultura? Que centenas de milhares de pessoas vivem deste segmento produtivo, que gera emprego e renda a pequenas propriedades rurais alijadas do monocultivo das commodities (soja, milho…).
A aquicultura ornamental também tem muita história!!! Os egípcios foram os primeiros a colocar peixes em grandes tanques, passando horas a observar o comportamento desses animais. Marco Pólo, no século XIII, relatou que os chineses também tinham esse hábito de criar peixes em tanques de vidro. A observação de peixes em cativeiro passou a ser comum na Europa Ocidental apenas no século XVI, ainda que realizada com técnicas rudimentares. Em 1846, a bióloga marinha britânica Anna Thynne realizou o feito inédito de manter por três anos corais e algas dentro de um aquário. Em 1850, na Inglaterra, Robert Harrington publicou no diário Chemical Society, de Londres suas descobertas que explicavam como manter peixes em recipientes com água (!!!) e em 1868, M. Simon, cônsul da França em Ningpo, trouxe da China para Paris alguns peixes-do-paraíso Macropodus opercularis, oferecendo-os a Pierre Corbonnier, que conseguiu a reprodução da espécie em cativeiro. Entretanto, somente no século XX, com o advento da energia elétrica, é que o aquarismo começou realmente a se desenvolver.
Mas o que mudou na aquicultura ornamental no século 21? Durante anos um aquário em casa era sinônimo de uma bola de vidro com um peixe dourado dentro, fazendo o possível para sobreviver a contínuas mudanças de água e a uma dieta de migalhas de pão. Atualmente, a realidade é outra, passando o aquário a ser entendido como uma forma de recriar um espaço da natureza dentro de casa, com finalidades educativas, recreativas e de preservação, onde se busca reproduzir, o mais fielmente possível, o habitat de origem da espécie criada. O aquarismo passa a ocupar espaço no cinema, sendo indiscutível o sucesso do filme “Nemo”, ampliando a visibilidade da manutenção de peixes em aquários.
Atualmente, os maiores mercados internacionais de peixes ornamentais são o Japão, a Europa (principalmente a Alemanha e a Holanda) e os Estados Unidos. Nos Estados Unidos, uma em cada três residências possui aquário. No Japão, de cada duas residências, uma tem aquário. Com estas referências dá para imaginar o imenso potencial do comércio internacional de peixes ornamentais.
Segundo informações do International Trade Centre de 2016, Singapura fatura por ano U$ 44.205 mil em exportação de peixes ornamentais – o pequeno país asiático ocupa a liderança no ranking. Em contrapartida, o Brasil ocupa apenas o 13º lugar, com U$ 6.570 mil em exportações (o que não é nada mal considerando a quase ausência de políticas públicas para este segmento produtivo). Por aqui estima-se que existam cerca de cinco mil lojas que comercializam aquários, peixes e produtos para o setor de aquicultura ornamental, gerando cerca de 25 mil empregos diretos e até 75 mil indiretos.
Portanto meus amigos o que não falta é relevância para escrever sobre este tema. Em paralelo, está mais do que na hora de ampliar a divulgação deste segmento produtivo e trazer aos leitores da Aquaculture Brasil um pouco do que vem sendo feito por esta atividade e despertar o interesse do segmento público e privado sobre as oportunidades estratégicas que o desenvolvimento da aquicultura ornamental pode proporcionar ao nosso país.
Espero aproveitar este espaço para trazer matérias técnicas aliadas a depoimentos e entrevistas visando ampliar o espaço da aquicultura ornamental.
Até breve “Aquicultura de precisão”, seja bem vinda “Aquicultura ornamental”.
Até a próxima coluna!
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