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Cultivo de Peixes
15 de Agosto de 2020 Aquaculture Brasil
Uso de hidrolatos como aditivo alimentar e antiparasitário na piscicultura

O uso de produtos de origem natural pelos homens é uma prática antiga. As plantas produzem metabólitos secundários voláteis para suas necessidades não nutricionais, com fins de proteção ou atratividade alimentar (Kéïta; Traore-Keita et al., 2000), além disto, grande parte desses metabólitos possuem atividades farmacológicas com fins medicinais (Koehn; Koehn e Carter, 2005).

Atualmente o uso de óleos essenciais é amplamente estudado pelas instituições de pesquisa, por apresentarem diversas funções bioativas como: promotor de crescimento, aprimorar atividade antimicrobiana, agente antiparasitários, antioxidantes, imunoestimulantes, adjuvantes na preparação de vacinas, anestésicos, entre outras (Silva et al., 2019; Syahidah, A. et al., 2015).

Em geral, os produtos naturais são considerados menos tóxicos e mais seguros do que os sintéticos e alopáticos, além de demonstrarem ser uma alternativa efetiva ao controle de doenças e promoção do crescimento na aquicultura, uma vez que por muitas vezes as drogas sintéticas demonstram efeitos colaterais negativos. Entretanto, seus efeitos às vezes são dependentes da dose e existe um potencial de sub ou superdosagem, esses efeitos negativos podem ser evitados por meio de melhorias no método. Portanto, recomenda-se fortemente a otimização da dosagem em termos de dose ideal, duração e modo de administração para ser estudada (Syahidah, A. et al., 2015).

As substâncias das plantas medicinais podem ser retiradas das folhas, caule, raiz, ramos, sementes e até de algumas flores. Um dos métodos mais comuns é a hidrodestilação com o uso do Aparelho Tipo Clevenger, em que a água, em elevada temperatura, atravessa o tecido da biomassa levando consigo os metabólitos contidos nas plantas (Stangarlin e Pascholati, 1994). O óleo liberado é vaporizado com o choque térmico e conduzido ao condensador formando a mistura de óleo essencial e hidrolato (subproduto) para então serem resfriados, voltando à fase líquida (Souza et al., 2007).

Geralmente o hidrolato (caracterizado como fração aquosa contendo o óleo essencial emulsionado) obtido da hidrodestilação é descartado. Porém, muitos estudos comprovaram a eficácia desse subproduto. Falque et al. (2013), utilizaram hidrolato de Artemisia annua como fármaco para malária. Enquanto o estudo do subproduto da extração de Laurus nobilis (loureiro) mostrou a presença de álcoois terpênicos e fenóis, apresentou-se rico em fibra e foi utilizado na alimentação de ruminantes (Di Leo Lira et al., 2009).

 

 

Hidrolatos na piscicultura

Em 2016 o Laboratório de Aquicultura do Instituto Federal Catarinense (IFC), campus Araquari, iniciou suas pesquisas com os hidrolatos de hortelã-comum (Mentha villosa) e açafrão-da-terra (Curcuma longa), com intuito de avaliar a atividade antiparasitária e melhoria da imunidade, respectivamente.

 

• Menta

A menta ou hortelã-comum (Mentha villosa) é uma planta originária da Europa, pertencente à família Labiatae. É utilizada na fitoterapia por ter propriedades anti-inflamatórias, anti-hepatotóxica, anti-helmíntica e de imunoestimulação, além de também ser consumida in natura, como condimento, e contribuir com sua essência para a fabricação de perfumes, bebidas e doces (Arruda et al., 2006). Os constituintes químicos principais do óleo essencial desta planta são o mentol, mentofurona, pineno, limoneno e cânfora, possuindo também tanino, ácidos orgânicos, flavonoides, heterosídios (De Matos et al., 1999).

 

• Curcuma

O açafrão-da-terra (Curcuma longa) é uma planta herbácea da família Zingiberaceae. Possui folhas grandes e flores amareladas dispostas em espiga. No Brasil o rizoma dessa planta é utilizado como tempero na culinária, pois possui grande quantidade de curcumina no seu rizoma (Marchi et al., 2016).

Os principais componentes dos óleos essenciais são turmerona, dehidroturmerona e cetonas aromáticas (zingibereno, alfa-felandreno, sabineno, cineol e borneol) em menores proporções (Mata et al., 2004). Além disso, a curcuma é utilizada na fitoterapia por ter propriedades anti-inflamatórias, anti-hepatotóxica, anti- -helmíntica (Lorenzi et al., 2008) e de imunoestimulação (Ferreira et al., 2010).

 

Resultados e pesquisas em andamento

A descoberta recente do hidrolato como potencial produto terapêutico emerge a necessidade de avaliar a concentração e tempo ideais para otimizar a ação destes produtos, incluindo em animais. A importância de se avaliar a dose já foi demostrada em estudos na medicina humana. O sistema implantado pelo Food and Drugs Administration, no período de 1993 a 1998, detectou 5.307 casos de erros relacionados ao uso de medicamentos, dentre os erros que induziram a morte dos pacientes, 40,9% foram causados por dose imprópria (Cohen et al., 1996). Assim, foram realizados trabalhos com intuito de definir um protocolo de uso do hidrolato de menta (M. villosa) para tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus), como agente antiparasitário.

O trabalho foi dividido em duas etapas:1ª) para definição da concentração; e 2ª) para definição do tempo. Após a determinação de tempo e dose (Pereira et al., 2020), foi possível observar uma eficácia antiparasitária para brânquias e muco, superior a 80% (Figura 1).

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Portaria n° 48, de 12/05/1997, o registro de produtos antiparasitários para mamíferos domésticos só é possível se sua eficácia estiver acima de 90%. Estudos demonstraram que o hidrolato de M. villosa apresenta o efeito ovicida sobre nematóides gastrintestinais de bovinos no teste in vitro. As concentrações de hidrolato a 80% e 100% mostraram eficácia acima de 98% (98,40% e 100%, respectivamente), valor considerado altamente efetivo (Nascimento et al., 2009).

Entretanto para peixes e organismos aquáticos, não há uma legislação que defina a eficácia de um medicamento para estes animais. Isto pode prejudicar a avaliação de medicamentos para peixes, pois o objetivo dos tratamentos é o controle de parasitos de maneira significativa, e não, necessariamente, sua eliminação acima de 90% (ONAKA et al., 2018).

Já com o açafrão-da-terra (C. longa) foram realizadas pesquisas para definir dose a ser incorporada a ração, assim como, trabalhos para avaliar o uso em conjunto com probiótico.

Na análise de atividade antimicrobiana de tilápias- -do-nilo alimentadas com dietas suplementadas com diferentes doses de hidrolato de curcuma, foi observado uma redução significativa na capacidade antimicrobiana no soro dos peixes alimentados com as maiores doses (Pereira et al., 2020) de hidrolato de C. longa conforme é observado com a regressão polinomial (Figura 2). Essa redução pode ser associada a atividade das substâncias bioativas da C. longa já descritas na literatura como possíveis agentes antimicrobianos (Zorofchian et al. 2014). Além disto, a suplementação com o hidrolato de Curcuma longa não alterou a homeostasia da tilápia-do-nilo (O. niloticus), demonstrando o seu potencial para uso na alimentação desses peixes em doses baixas (2,5% ou menos).

O óleo essencial da curcuma apresentou atividades antibacterianas para Staphylococcus aureus e Bacillus typhosus (Majolo et al., 2014) e Caroccia (2013) comprovou a eficácia do açafrão da terra contra larvas de Toxocara canis. Fato que corrobora com os dados obtidos, demonstrando o potencial farmacêutico da planta à piscicultura.

 

Considerações finais

Atualmente o uso dos óleos essenciais já é uma realidade implantada em diversas áreas da saúde humana e animal, entretanto o uso (pesquisa e comercial) dos hidrolatos ainda está em fase incipiente. Este subproduto da extração dos óleos essenciais possui propriedades farmacológicas com diversas aplicações, entretanto, há necessidade de se definir estratégias de uso quanto: dose, tempo e via de aplicação. Trata-se de uma matéria prima de baixo custo com grande potencial de uso, em especial para tratamentos preventivos, por normalmente não deixar resíduos nos animais e na água, (poderia ser utilizado) permitindo seu uso com periodicidade.

 

Este Trata-se de uma matéria prima de baixo custo com grande potencial de uso, em especial para tratamentos preventivos, por normalmente não deixar resíduos nos animais e na água.

 

Autores: 
Adolfo Jatobá*, Laura Rafaela da Silva, Delano Dias Schleder, Artur de Lima Preto, Fernanda Guimarães de Carvalho, Jaqueline Inês Alves de Andrade, Robilson Antonio Weber, Marina de Oliveira Pereira2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - IFC
Campus Araquari
Laboratório de Aquicultura - Araquari, SC
*jatobaadolfo@gmail.com
2Médica Veterinária
Geneseas Aquacultura
São Paulo, SP

 

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