Artigos
Cultivo de Camarões
01 de Dezembro de 2017 Aquaculture Brasil
AquaScience: A revolução continua

Introdução

A fazenda Cana Brava, localizada no município de Canguaretama, litoral Sul do Rio Grande do Norte, foi fundada em 1983, sendo a primeira unidade de produção da empresa Camanor Produtos Marinhos. A propriedade operou no modelo semi-intensivo com excelentes resultados até meados de 2011, quando o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) atingiu o Estado e, como é característico desta enfermidade, ocasionou mortalidades massivas. Na época, a sobrevivência despencou para 5 a 10% e a fazenda obteve os menores resultados produtivos de sua história, representando apenas 50 toneladas de camarões despescados ao longo de todo o ano.

 

Primeiros ensaios intensivos

De toda forma, antes mesmo do vírus atingir os cultivos, dentro da empresa já se pensava em um modelo diferenciado de produção. Os primeiros experimentos seguiram o chamado “modelo asiático”, caracterizado por viveiros cujo solo é recoberto com geomembrana, além do aumento da aeração e da densidade de povoamento (100 camarões/m²). A ideia deu certo, sendo realizados quatro ciclos produtivos de sucesso. Com isso, projetava-se fazer a transição deste sistema em escala experimental para o restante da fazenda. Contudo, isto não foi possível, uma vez que a mancha branca também atingiu a unidade experimental. 

Para continuar a produzir foi preciso pensar além, experimentar novamente, mas desta vez com foco total no sistema intensivo e acrescentando elementos que o modelo asiático não preconizava, como por exemplo a tilápia (Oreochromis niloticus), o recobrimento dos viveiros (inicialmente com sombrites) e o sistema de recirculação. Após 10 ciclos consecutivos de tentativa e erro, foi possível encaixar um modelo de produção que apresentava sucesso do início ao fim, sem mortalidades ocasionadas pelo WSSV. Os 10 mil quilos que constam no gráfico de produção (Figura 1) foram resultado deste primeiro sucesso, a partir de 100 camarões/m² e peso final de 10 gramas.

 

O nascimento do “AquaScience”

Naquele momento faltavam ainda alguns aspectos para que o sistema se encaixasse no modelo AquaScience, mas a ideia principal estava concebida: tentar equilibrar o ambiente de cultivo, proporcionando bem-estar aos animais. Dessa forma, mesmo que a doença estivesse presente, os camarões não iriam manifestá-la, porque estavam saudáveis.

A ideia partiu da percepção dos animais em ambiente natural, convivendo com a presença de doenças. A chave estaria em como é possível se manter essa relação. Depois, a observação voltou-se para unidades de tratamento de água e efluentes. Era preciso que a água se mantivesse por vários ciclos recirculando no sistema, sem a necessidade de troca. Juntando os fatos e muita engenharia, surgiu o AquaScience.

 

 

A lógica do sistema AquaScience

O princípio básico do sistema AquaScience é manter a água com os parâmetros de qualidade estáveis, em constante movimento e recirculação, reaproveitando todos os nutrientes e matéria orgânica dentro do próprio sistema. Para isso, extinguiu-se a ideia de viveiros de cultivo, para a concepção de módulos de cultivo.

A estrutura do AquaScience é composta de módulos que contemplam:

  • Dois viveiros de camarão (3500 a 5000m²) com dreno central;
  • Uma estação de recirculação;
  • Dois viveiros de tilápia também com dreno central.

A recirculação dentro do módulo é dupla, tanto saindo dos viveiros para a estação e retornando aos viveiros, quanto do viveiro para a estação, indo para o berçário de tilápia e, após, voltando para o viveiro de camarão. Esse processo é dinâmico, funcionando 24 horas por dia e impede o acúmulo de material orgânico, uma vez que todo resíduo sólido é bombeado aos tanques de tilápia, justamente para que estes animais filtrem e consumam todo esse material, que acaba sendo uma fonte de alimento. Nas fases finais do cultivo de camarão onde o arraçoamento é maior, as tilápias são alimentadas com apenas 20% de ração. Todo o restante da energia necessária à sua manutenção e crescimento é obtido através da filtração dos sólidos. O AquaScience produz tilápias com o mínimo de ração fornecida aos peixes!

Na água há a predominância de bactérias que contribuem para a manutenção da qualidade de água, como as nitrificantes, através da assimilação dos compostos nitrogenados, e as bactérias heterotróficas que realizam a degradação da matéria orgânica convertendo-a em biomassa bacteriana, que também serve de alimento aos animais. Há também a presença de microalgas que atuam na remoção do fósforo e adicionalmente no tratamento do material orgânico.

 

Modelo em constante evolução

Quanto maior a capacidade de ciclagem dos nutrientes maior é a capacidade de estocar animais/m² e consequentemente maior a produtividade. Baseado nisso, a Camanor vem evoluindo constantemente o sistema AquaScience e desde que foi concebido, em 2013, passou por três melhorias, denominadas de G1, G2 e G3. Este último, G3, é o modelo atual que está em ampliação, mas já há estudos para um G4, a ser implantado dentro dos 25 ha que a Camanor projeta expandir. O recorde de produção alcançado em novembro de 2017 com 73,6 t/ha produzidas, já é fruto das novas experiências de ampliação utilizando densidades mais altas.

Em todas as gerações a sobrevivência é próxima aos 90% e é possível realizar 3 ciclos de produção por ano, despescando camarões com peso entre 17 e 18 gramas.

Com a tilápia é possível realizar 2 ciclos por ano, com peso final entre 1000 e 1500 gramas. Em cada tanque de tilápia é produzido de 2 a 2,5 t. Antes atuando somente como componente do sistema, agora as tilápias passaram também a ser comercializadas.

 

Objetivos futuros

Dentre as metas futuras comentadas pela equipe da Camanor para a Aquaculture Brasil estão:

  • Construção de um laboratório para produção própria de pós-larvas de camarão, adaptadas ao sistema AquaScience;
  • Implantação de um sistema bifásico de produção para os camarões dentro do novo projeto de ampliação. Atualmente os crustáceos entram no sistema como PL10 permanecendo até o final do cultivo;
  • Como os alevinos de tilápia são produzidos pelaprópria Camanor em uma unidade denominada Núcleo de Peixes, há estudos visando o melhoramento genético da linhagem para uma maior tolerância a salinidade;
  • Criar um centro de treinamento para capacitação dos funcionários;
  • Criar um centro de pesquisas especificamente voltando à produção. Atualmente os ensaios são desenvolvidos diretamente nos módulos de produção.

Questionados sobre metas de produtividade, o sócio e superintendente da Camanor, Luiz Henrique afirma não terem metas, pois, uma vez que se estabelece uma meta, se estabelece um fim, e se estivessem estabelecido um fim, a produtividade teria parado nos valores do G1. AquaScience, continuando a revolução...

 

Autores:
Jéssica Brol
Diego Molinari
AQUACULTURE BRASIL
*jessica@aquaculturebrasil.com

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

 

Anterior
Próxima

+55 (48) 9 9646-7200

contato@aquaculturebrasil.com

Av. Senador Gallotti, 329 - Mar Grosso
Laguna - SC, 88790-000

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME
CNPJ 24.377.435/0001­18

Top

Preencha todos os campos obrigatórios.

No momento não conseguimos enviar seu e-mail, você pode mandar mensagem diretamente para contato@aquaculturebrasil.com.

Contato enviado com sucesso, em breve retornamos.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Você será redirecionado em alguns segundos!