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01 de Fevereiro de 2018 Aquaculture Brasil
Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ): o início da caminhada

A história da Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ) iniciou através de um acordo firmado entre a Prefeitura do Município de Nova Veneza (GO) e a Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás. A Secretaria de Pesca e Aquicultura do munícipio foi criada em fevereiro de 2013. Nesta data nascia a primeira secretaria municipal com ação exclusiva em aquicultura e pesca no estado de Goiás. O objetivo inicial da Secretaria Municipal de Pesca e Aquicultura (SEPAQ) foi criar um abatedouro para os aquicultores da região e auxiliar na implantação de um Polo Industrial para o município. Logo em seguida, a Prefeitura criou a Lei nº 948/2013, que implementava o Programa Municipal de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Aquicultura Familiar. Em setembro deste mesmo ano, fui convidado a assumir a pasta da SEPAQ.

A primeira ação frente à SEPAQ foi criar um Plano de Gestão Estratégico que pudesse direcionar ações técnicas e gerenciais para os produtores do município e região. Dois meses depois promovemos o I Fórum de Discussões Sobre Pesca e Aquicultura, no qual, apresentamos novas tecnologias aquícolas sustentáveis, como os sistemas RAS (do inglês, Recirculating Aquaculture System), Aquaponia e BFT (do inglês, Biofloc Tecnology). Foi o primeiro evento do município, onde buscou-se reunir os aquicultores de toda a região (Figura 1). Infelizmente, apenas 12 produtores apareceram ao evento. Diante da baixa procura, iniciamos o primeiro trabalho de campo da SEPAQ, buscando conhecer o dia a dia dos produtores, e com isso, estudar soluções mais práticas.

Neste período, com o auxílio do software Google Earth® foi possível identificar cerca de 35 represas e tanques escavados em toda a região, onde visitamos in loco, cada produtor. Nestas visitas percebemos quais seriam as reais ações que a SEPAQ poderia exercer. Na maioria das produções visitadas, não havia controle de gastos de produção, acompanhamento dos parâmetros físico-químicos ou quaisquer informações técnicas que eram fundamentais para iniciar um cultivo aquícola. Adicionalmente, buscamos uma alternativa de gestão que pudesse, ao mesmo tempo, reunir interesses mútuos e diminuir os custos de produção. O modelo de Cooperativismo tornou-se a nossa melhor opção, pelos inúmeros exemplos de sucesso em todo o país.

 

 

Início da COOPAQ

Em 04 de abril de 2014, realizamos a Primeira Reunião para a Implantação da COOPAQ, Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás. Vinte e três cooperados assinaram a lista de sócios fundadores na primeira reunião. O gerente de Negócios do Banco do Brasil S/A em Goiás, Giovanni Chaves, apresentou as linhas de crédito existentes para o setor aquícola e como a Cooperativa poderia buscar tais financiamentos. No mês subsequente os conselheiros para os Conselhos de Administração, de Ética e Fiscal foram eleitos.  adicionalmente, Estatuto Social da cooperativa foi apresentado. A COOPAQ estava formada e com o propósito de produzir de forma sustentável em um sistema fechado, que permitisse menor impacto ambiental, maior produtividade e biossegurança. Dali em diante, iniciava a busca de uma assessoria técnica para produzir pelo sistema, até então desconhecido por todos.

 

Busca de informações

Diante desta necessidade, o segundo trabalho de campo entrou em prática: conhecer sistemas produtivos sustentáveis e o processamento de pescado. Em junho do mesmo ano, participamos do Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva Goiana de Aquicultura, com a coordenação do SEBRAE-GO, Associação Goiana de Piscicultura (AGP) e demais entidades do setor. Diversos integrantes da pesca e aquicultura goiana se reuniram para formalizar um Caderno de Informações que direcionasse ações no setor aquícola, de 2014-2020. Em julho, visitamos o Frigorífico Netumar Pescados, em Fortaleza (CE), onde foi possível conhecer toda a estrutura e os custos de manutenção de um frigorífico de pescado, que comercializava diversos produtos, dentro e fora do país. 

No mesmo mês, conhecemos a equipe da Secretaria Estadual de Agricultura do Espírito Santo (SEAG) e do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF), que trabalham de forma conjunta para desburocratizar, agilizar e fomentar a cadeia de carcinicultura de água doce no Estado do Espírito Santo. De lá, conhecemos a capital do camarão de água doce do país, São Domingos do Norte (ES), sede da CEAq (Cooperativa dos Aquicultores do Espírito Santo). Uma Cooperativa que contém um abatedouro, com 94 cooperados registrados, atendendo mais de 300 carcinicultores no ES. Conhecer a CEAq foi um indicador de que estávamos no caminho certo quanto ao modelo de gestão escolhido. Porém, os cooperados enfrentavam um grande entrave na produção: a baixa oferta de pós-larva do camarão da Malásia (Macrobrachium rosenbergii). Já há alguns anos, a CEAq buscava finalizar um laboratório de pós-larvas, sob coordenação do Engenheiro de Pesca, José Nailton Canuto, do IFES (Instituto Federal do Espírito Santo).

No IFES, orientados pelo Nailton, pudemos conhecer toda a cadeia da carcinicultura do camarão e da capacitação que era exercida na cidade de Colatina (ES) (Figura 2). No caminho de volta para casa, já no início de agosto, visitei o Laboratório de Aquacultura (LAQUA), localizado na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde conheci o Prof. Dr. Kleber Campos, que me mostrou uma nova proposta de produção (Figura 3). Com resultados já promissores para a época, a produção do camarão branco do pacífico (Litopenaeus vannamei) em baixa salinidade, já era realidade. Surgia neste momento, nosso principal desafio na produção aquícola em nosso Estado: a ausência de produção e alta demanda para este tipo de camarão.

No segundo semestre de 2014, realizávamos reuniões periódicas na COOPAQ para apresentar as informações até então coletadas e de como poderíamos executá-las. Firmamos uma parceria com uma empresa de assessoria de Pernambuco. Foram elaborados estudos de viabilidade econômica, projetos individuais e um projeto coletivo, para quem não possuía terra. Ao todo, 19 projetos em sistema Bioflocos foram elaborados a um custo bem menor do que o valor cobrado para a elaboração de licenças ambientais naquele período. A primeira característica do cooperativismo estava sendo adquirida: reduzir os custos por conta do coletivismo. Nossa primeira Licença Ambiental Simplificada (LAS) para o Sistema Bioflocos foi emitida em dezembro de 2015, no âmbito municipal (Pires do Rio, GO), e em dezembro de 2016, no âmbito estadual.

 

Capacitação e cooperativismo

A capacitação dos cooperados foi iniciada em 2015, no nosso primeiro Curso de Capacitação Técnica (junho/2015) e de Cooperativismo (novembro/2015) (Figura 4), no qual, 35 cooperados foram instruídos com as noções básicas da piscicultura, com aulas teóricas e práticas. No mês seguinte, criamos um protótipo com estufa agrícola, visando aplicar os conhecimentos teóricos do sistema Bioflocos, na prática (Figura 5).  recisávamos dominar a técnica para iniciar a produção em escala comercial, e o controle dos parâmetros da água tornou-se o principal desafio. O primeiro floco microbiano demorou 23 dias para ser formado. Utilizamos esterco de gado (fonte de nitrogênio) e melaço de cana de açúcar (carbono orgânico) (Figura 6). Ainda não tínhamos dados de referência para comparar a evolução da formação do Bioflocos e nem de como poderíamos controlar os dados zootécnicos em um cultivo não experimental. Nossa primeira tentativa de povoamento durou uma semana.Cinquenta peixes morreram por falta de oxigênio e acidose metabólica. A orientação técnica tornava-se imprescindível.

Paralelamente, protocolamos pela SEPAQ quatro Propostas de convênios com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) em agosto de 2015. Os projetos foram protocolados no MPA em um valor global de 21 milhões de reais, objetivando o fomento para diversas ações e infraestrutura e de fortalecer a cadeia no município de Nova Veneza e região. Entre as propostas cadastradas, foi apresentado um projeto para a construção de um terminal frigorífico no braço sul da ferrovia Norte-Sul e a implantação de um Centro de Pesquisas e

Tecnologias Aquáticas (CENTAQ) em Nova Veneza (GO), cuja Lei municipal já tinha sido aprovada. Pela COOPAQ, trocamos de assessoria técnica, por uma empresa de Goiás, fizemos outro curso de capacitação, mas tudo ainda não ultrapassava a barreira da teoria. Muito empirismo e nenhuma prática. Não tínhamos a segurança que necessitávamos para iniciar a produção da cooperativa.

Em janeiro de 2016, pleiteamos a consultoria de um equatoriano, Sérgio Molina, para poder nos orientar quanto à produção de tilápia e camarão do Pacífico (Litopenaeus vannamei). A experiência de 18 anos em sistema Bioflocos, cultivando camarão do Pacífico em água de 1ppt de salinidade, nos mostrou a realidade da produção de camarão praticada no Equador. Era possível sim produzir em escala comercial no nosso estado, porém, a barreira da língua e o custo elevado da assessoria limitavam a contratação do técnico. Neste período, em nosso protótipo, a formação do bioflocos passou de 23 para 7 dias, utilizando os produtos nas concentrações e momentos corretos (Figura 7). Diante deste cenário, a segunda tentativa de povoamento, com uma densidade de 34 peixes por m³, durou mais tempo: 4 meses, com os peixes atingindo uma média de 300g e um FCA (fator de conversão alimentar) menor do que 1,0. Porém, o volume de sólidos produzidos pelo sistema tornou-se o nosso principal fator agravante.

A busca por assessoria que tivesse dados reais de produção e com experiência no sistema BFT nos levou ao Ceará, o maior produtor de camarão do Pacífico em água de baixa salinidade. Uma comitiva de quatro cooperados visitou uma fazenda de produção no interior do Estado e a própria fazenda de produção da empresa pretendida. Os clientes assessorados pela empresa cearense produziam tilápia e camarão (em baixa salinidade). O modelo do projeto, importado do México, utilizava tanques suspensos redondos, confeccionados com geomembrana PEAD e biofiltro. Estávamos diante daquilo que procurávamos: um sistema que proporcionasse cultivar tilápia e camarão em tanques diferentes, usando a mesma engenharia de produção e tratamento de efluentes. Porém, tínhamos um problema a ser solucionado: qual projeto, qual animal a ser cultivado e quanto em escala comercial precisávamos para iniciar a produção?

Nascia neste momento o Módulo Híbrido (MH) da COOPAQ, pois a proposta inicial foi criar tilápia (200m³) e camarão do Pacífico (1000m³), em tanques separados, usando a mesma estrutura de filtragem de sólidos. Os dados zootécnicos, os custos operacionais e os comerciais obtidos serviriam de suporte para avaliarmos os índices de viabilidade reais e posteriormente, tanto para expandir a produção no próprio MH e para os projetos individuais dos cooperados. No próximo artigo irei abordar como foi nossa primeira experiência no MH e como chegamos ao modelo BRASYS (do inglês, Biofloc, Recirculating and Aquaponics System). Até lá!

 

Autor: Raimundo Lima da Silva Junior
Biomédico, Mestre em Biologia
Núcleo de Pesquisas Replicon, Escola de Ciências
Agrárias e Biológicas, Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC,GO)
Sócio Fundador da Cooperativa de Pesca e
Aquicultura de Goiás (COOPAQ)

 

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