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Cultivo de Peixes
01 de Setembro de 2017 Aquaculture Brasil
A produção do Pirarucu em cativeiro

Há décadas, o pirarucu é tido como uma das espécies nativas de grande potencial para a aquicultura brasileira, devido ao rápido crescimento (10 kg/ano), rusticidade, respiração aérea obrigatória e filé claro, com sabor suave e ausência de espinhas; características que favorecem seu cultivo e aceitação pelo mercado consumidor. Apesar desse potencial, sua produção ainda é tímida (8,6 mil toneladas em 2016) e reflete uma série de limitações tecnológicas.

Ainda hoje, umas das maiores dificuldades para a produção em cativeiro é o baixo domínio da reprodução, que resulta em baixa oferta, produção irregular e alto custo dos alevinos. Recentemente, métodos para identificação sexual de reprodutores têm permitido o manejo para formação de casais, possibilitando aumento na oferta de alevinos e crescimento da produção. Esse crescimento expressivo na última década originou-se em Rondônia, estimulado principalmente por uma empresa de processamento, que adotou um modelo de integração vertical, no qual fornecia alevinos treinados, assistência técnica e garantia a compra do peixe para piscicultores, que, em contrapartida, realizavam a engorda. No entanto, com a descontinuidade desse modelo, a produção da espécie, que estava crescente e chegou a quase 12 mil toneladas em 2014, caiu e estabilizou nas atuais 8,6 mil toneladas. Isso demonstra que a comercialização também é um limitante, devido à baixa quantidade de indústrias de processamento do pirarucu. Em função do grande porte da espécie, a comercialização do peixe inteiro ou eviscerado é inviável. Portanto, a existência de indústrias que beneficiem o filé do pirarucu é fundamental para viabilizar sua oferta no mercado e estimular o crescimento do seu cultivo.

Além das dificuldades mencionadas acima, limitações tecnológicas e o pouco conhecimento sobre a biologia da espécie aplicado à piscicultura, contribuem para a baixa produção e o reduzido investimento tecnológico nessa cadeia e destacam a importância de investimentos em pesquisas e desenvolvimento tecnológico. Em 2012, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e o extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), deflagrou uma série de ações de pesquisa e transferência de tecnologia para o pirarucu. Foram realizados 10 cursos na região Norte para capacitação em produção do pirarucu e que, posteriormente, geraram dois livros voltados para subsidiar a produção da espécie (disponíveis gratuitamente no site da Embrapa para download) (Figura 1). 

Um levantamento de como é realizada atualmente a produção da espécie também foi gerado e, com base nessas ações, apresentaremos um breve relato das fases que compõem a produção do pirarucu em cativeiro.

 

 

Reprodução

O estágio recente de domesticação, a dificuldade na identificação do sexo e o manejo de peixes adultos são fatores que tornam a reprodução do pirarucu em cativeiro um desafio. A manutenção de elevado número de reprodutores sem uso efetivo ainda é prática comum e, somada à maturidade sexual tardia (após 4 anos), resulta em alto custo para manutenção dos plantéis.

Em consequência do baixo planejamento na formação dos plantéis, alto vínculo genético com maiores riscos de acasalamentos consanguíneos é frequentemente observado. Tal fato pode contribuir à suposta ocorrência de alta mortalidade larval do pirarucu. Geralmente, as propriedades não fazem a gestão dos plantéis, o que implica na ausência de registros de origem, idade e parentesco genético, contribuindo para uma baixa e irregular oferta de alevinos. A separação de casais por viveiros e a identificação dos reprodutores com PIT-tags são tecnologias disponíveis que aumentariam a eficiência reprodutiva dos plantéis. Porém, apenas o domínio de métodos de indução da reprodução poderia garantir a oferta de alevinos do pirarucu durante o ano todo.

 

Alevinagem

Esta fase é marcada pelo treinamento alimentar dos alevinos com ração comercial. É realizada geralmente em laboratório, ponto mais crítico na produção de alevinos, onde podem ocorrer altas mortalidades e maior suscetibilidade a doenças. Além do treinamento, a qualidade da água, a densidade e o manejo frequente podem facilitar o desenvolvimento de parasitas, em especial, trichodinídeos, monogeneas e nematoides. O fato dos alevinos serem capturados diretamente nos viveiros contribui para que já entrem no laboratório com uma carga inicial de patógenos, devido ao contato prévio com os pais e o ambiente. Todos esses fatores fazem com que os índices de sucesso na alevinagem variem entre os produtores, refletindo no preço dos alevinos e na produtividade da fase de engorda.

A realização do treinamento alimentar de forma intensiva e cuidadosa, com mão de obra tecnificada, alta frequência de alimentação, substituição gradual do zooplâncton por ração e classificações constantes dos alevinos, reconduzindo aqueles não treinados à etapa inicial de treinamento, é uma prática que precisa ser adotada pelos produtores de alevinos e que melhoraria os índices produtivos nessa fase.

Concomitantemente, o emprego de manejo sanitário nos lotes de alevinos, a realização de diagnóstico de doenças para definir tratamentos preventivos precoces, a desinfecção das estruturas e utensílios do cultivo e a manutenção da qualidade da água auxiliaria na redução das mortalidades.

 

Engorda

A engorda do pirarucu é comumente realizada em viveiros escavados e barragens, com algumas iniciativas de produção em tanques-rede e de lona vinílica. Em geral, é dividida em fase I, com duração de 90 dias, na qual peixes entre 10-15 cm (10-20 g) alcançam peso de 600 a 1000 g, e fase II, em que os peixes atingem aproximadamente 10 kg após 270-300 dias. Como ainda não existem rações que atendam às exigências nutricionais da espécie, uma alta conversão alimentar (≥ 2:1) tem sido observada, impactando consideravelmente o custo final de produção. Apesar de recentemente terem sido observados problemas com inflamações intestinais (enterites) que podem resultar em mortalidades, problemas sanitários durante a engorda têm sido mínimos quando esta é iniciada com alevinos sadios e condicionados a comer ração. O desenvolvimento de rações adequadas às exigências nutricionais é fundamental para otimizar sua produção em cativeiro e depende de pesquisas direcionadas para esse objetivo. Contudo, esse desafio só se tornará viável para as indústrias de ração quando a cadeia do pirarucu apresentar volume de produção significativo.

 

Processamento e Comercialização

A maioria das indústrias de pescado no Brasil não possui linha de produção adaptada ao processamento de um peixe do porte do pirarucu, nem métodos de insensibilização e abate apropriados para a espécie.

O filé fresco, congelado ou salgado é o principal produto ofertado no mercado, sendo raro o aproveitamento de coprodutos, em especial, escamas e couro, que poderiam tornar o processamento mais lucrativo.

O principal entrave nessa etapa de produção é o baixo volume e irregularidade na oferta da matéria-prima, o que dificulta a manutenção e abertura de novos mercados
nacionais e internacionais.

 

Conclusão

A produção de pirarucu em cativeiro começa a deixar de ser um potencial para se tornar uma realidade. No entanto, ainda são necessários o desenvolvimento da indústria de processamento para absorver a produção e esforços conjuntos de instituições de pesquisa, desenvolvimento e assistência técnica com produtores a fim de viabilizar e disseminar soluções tecnológicas para os principais entraves que impedem o desenvolvimento desta cadeia produtiva. 

 

Autores: 
Adriana Ferreira Lima1*, Ana Paula Oeda Rodrigues1, Eduardo Sousa Varela1, Lucas Simon Torati1, Patricia Oliveira Maciel1
1Pesquisadores Embrapa Pesca e Aquicultura Palmas/TO
adriana.lima@embrapa.br

 

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