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16 de Março de 2020 Aquaculture Brasil
Banhos de água doce como controle de Neobenedenia melleni (monogenea) parasito de bijupirá Rachycentron canadum criado em tanques-rede no Brasil

Dentre os diversos organismos aquáticos produzidos pela aquicultura, os peixes são responsáveis por 64,4% da produção e 3,4% desse total corresponde a peixes marinhos (FAO, 2010). No Brasil, o cultivo de peixes marinhos existe no Nordeste, sobretudo em Pernambuco, desde o tempo da dominação holandesa no século XVII (Silva, 1976), entretanto, não há registro oficial desta produção.

A produção mundial de bijupirá Rachycentron canadum Linnaeus, 1766 (Rachycentridae) em 2009, foi estimada em 31.926 toneladas (FAO, 2011) e destacaram-se como principais produtores China e Taiwan, mas, embora não conste nas estatísticas da FAO, o Vietnam teve produção estimada de 1.500 t em 2008 (Nhu et al., 2011). No Brasil, essa espécie ocorre naturalmente em todo o litoral em regiões de coral e estuários (Figueiredo e Menezes, 1980).

Devido a qualidade da sua carne, rápido crescimento (aprox. 6 kg em um ano) e boa taxa de conversão alimentar em cultivo (Benetti et al., 2010), o bijupirá atraiu o interesse de pequenos e médios empresários no Brasil com o intuito de desenvolver e aprimorar sua criação. Na região Sudeste, a engorda destes peixes é realizada em sistemas de tanques-rede, aproveitando as condições positivas como, áreas abrigadas e condições boas de qualidade de água. Entretanto, a ocorrência de doenças e parasitas vem afetando de forma significativa a produção e qualidade deste peixe em cativeiro (Moreira et al., 2013).

Diversos parasitos foram registrados no bijupirá, tais como: Digenea, Monogenea, Cestoda, Nematoda e Acanthocephala, bem como crustáceos copépodes (Shaffer e Nakamura, 1989, Kerber et al., 2011, Silva et al., 2012), Neobenedenia melleni Maccallum, 1927 (Monogenea: Capsalidae) e Amyloodinium ocellatum Brown, 1931 (Protozoa: Dinoflagellida) podem causar significativas mortalidades (Moreira et al., 2013).

A proliferação de doenças em cultivos e a falta de métodos adequados para o controle e prevenção, podem causar grandes perdas econômicas na produção, aumentar os gastos com o uso de produtos químicos e afetar o produto final (Nowak, 2007).

O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia de banhos terapêuticos com água doce no controle de ectoparasitos no bijupirá cultivados em tanques-rede em Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, Brasil.

 

 

Materiais e métodos

Um total de 120 bijupirás foram analisados durante os meses de Janeiro, Fevereiro e Março de 2013 em uma piscicultura de cultivo experimental “near shore”, localizada em Ilha Grande, Praia de Jaconema, no município de Angra dos Reis, litoral sul do estado do Rio de Janeiro (23°00’24”S 44°19’05”W).

Os peixes eram mantidos em dois tanques-rede de 12 m3 e alimentados duas vezes ao dia, com aproximadamente 10 kg de ração a cada alimentação. Durante este período, a qualidade de água foi medida diariamente, tendo como médias de temperatura da água 26,86 + 0,75°C, pH 8,23 + 0,05, condutividade elétrica 42,62 + 1,65 µS.cm-1 e salinidade 31,47 + 1,36. Todos os dados foram obtidos com sonda multiparâmetro Hanna®.

As coletas de parasitos foram realizadas após os seis banhos profiláticos de 3 min em água doce com intervalo de treze dias entre cada. Em cada amostragem foram utilizados 20 peixes. Após os banhos profiláticos, os animais foram pesados e medidos. Durante o período de coletas os peixes passaram por observações diárias quanto a presença de sinais clínicos de doenças ou alterações no comportamento.

Após os banhos profiláticos, os bijupirás foram aclimatados em outro tanque com água do mar e devolvidos aos tanques-rede. A água utilizada nos banhos foi filtrada em uma peneira com tela de 150 µm de espessura e o conteúdo filtrado fixado em solução de formalina 5%. Após a quantificação, os parasitos foram fixados em Hoyer´s para identificação segundo Whittington e Horton (1996).

As taxas de prevalência, abundância média e intensidade média de infestação foram calculadas segundo Bush et al. (1997) e pelo software Quantitative Parasitology® 3.0 (Reiczigel e Rózsa, 2005), utilizando-se o teste do qui-quadrado para as prevalências e teste t Bootstrap para abundância e intensidade média ao nível de significância de 5%.

Os peixes apresentaram médias de peso e comprimento total respectivamente de, 607±0,22 g e 40 cm no início e de 1,076±0,42 g e 51 cm no final do estudo. Frente as observações diárias, foram observados alguns bijupirás com má-formações no maxilar, exoftalmia e olhos hemorrágicos (Figura 1).

Foram identificados Neobenedenia melleni (Monogenea) e Caligus sp. Wilson, 1905 (Crustacea: Copepoda) nos peixes examinados. Após as análises parasitológicas observou-se que após o primeiro banho profilático, houve diminuição no número de N. melleni. No entanto, após o último banho, houve aumento na infestação, porém pequena quando comparada com a quantidade de parasitos presentes após o primeiro banho.

A taxa de prevalência em todas as coletas de parasitos após os banhos profiláticos variou de 70 a 100%, sendo que as intensidades médias de parasitismo foram de 7,90 a 4,83 parasitos por hospedeiro, respectivamente na primeira e última amostragem. Foi observada a presença do copépode Caligus sp. em apenas 16 peixes.

Após o terceiro banho profilático com água doce, houve redução na intensidade média de N. Melleni (Tabela 1). O peso dos animais nas diferentes amostragens apresentou aumento considerável.

No presente estudo, adotou-se o tempo máximo de 3 min, pois os banhos foram realizados individualmente coletando o quantitativo de parasitos por hospedeiro. Após o terceiro banho profilático, na quarta amostragem houve redução do parasitismo, porém na quinta e última, retornou a intensidades próximas à da terceira amostragem. A reincidência no parasitismo está possivelmente relacionada ao ambiente aberto de cultivo em que os peixes estão expostos a patógenos.

O diagnóstico precoce de patógenos em cultivos é uma necessidade primordial para o sucesso da atividade. Considerados parasitos de potencial patogênico, surtos de parasitismo por Monogenea capsalídeos podem ocasionar mortalidades massivas gerando prejuízos econômicos nos cultivos.

 

Conclusão

Conforme os resultados obtidos, os banhos de água doce mostraram-se eficazes no controle do ectoparasito N. melleni. As análises mostraram que após o primeiro banho houve uma diminuição na intensidade média, assim como melhora no ganho de peso individual do animal. Em circunstância de ser um método natural, sem uso de qualquer produto químico, pode ser uma alternativa para o tratamento, assim como profilático, sem causar danos ao animal, ao meio ambiente e baixo investimento ao produtor

 

Autores: 

Maíra Zambonato Dorneles1,2, Maurício Laterça Martins2, Gabriela Sayuri de Oliveira Hashimoto2, Mônica Yumi Tsuzuki3.

1,2Prefeitura de Palmas, SEDER – Secretaria de Desenvolvimento Rural, Quadra 1.212 Sul, Av. LO-27, esquina com NS 10, 77024-540, Palmas, TO, Brasil. E-mail: zdmaira@gmail.com (autor correspondente)

2AQUOS - Laboratório de Sanidade de Organismos Aquáticos, Departamento de Aquicultura, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rod. Admar Gonzaga 1346, 88040-900, Florianópolis, SC, Brasil.

3Laboratório de Peixes e Ornamentais Marinhos (LAPOM), Departamento de Aquicultura, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rod. Admar Gonzaga, 1346, 88034-001, Florianópolis, SC, Brasil.

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