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Piscicultura
01 de Março de 2017 Aquaculture Brasil
Piscicultura no Paraná – rumo as 100 mil toneladas

Introdução

O Brasil produziu no ano de 2016 cerca de 640 mil toneladas de peixes de água doce, um crescimento pouco expressivo, menor que 0,5% em relação ao ano anterior (Peixe BR, 2017). Em parte, esse crescimento foi freado pela atual situação econômica do país, que ainda vive momentos de recessão. Por outro lado, houve também a falta de água em grandes reservatórios responsáveis por volumes expressivos de tilápia produzidas em tanques-rede.

Apesar das adversidades no País, a produção de peixes no Paraná despontou com um dos melhores desempenhos entre os estados, obtendo crescimento de 17% em relação à 2015, atingindo 93.630 mil toneladas de peixes produzidos, segundo dados da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR).

Mas, de onde vem toda essa força? Como está organizada a produção? A Aquaculture Brasil foi até o Paraná conferir e traz informações com exclusividade para você!

 

Polos paranaenses de produção

A produção cresce em todo o Estado, porém de forma mais intensa em dois grandes polos de produção: Norte e Oeste do estado.

O polo situado no Norte é constituído por 65 municípios divididos em três regiões de atuação da Emater (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural): Londrina, Cornélio Procópio e Santo Antônio da Platina. Em 2015 esta região foi responsável por 14% da produção, o equivalente a 11.599,7 toneladas de peixes, sendo que destes, a tilápia foi a espécie mais produzida, representando 82% do total. O sistema de produção é predominantemente realizado em tanques-rede, comumente com volume de 6 m³, nas represas do rio Paranapanema. A produtividade média chega a 100 kg/m³ e o percentual de crescimento produtivo da região foi de 11% quando comparado a 2014 (Emater, 2016).

O polo situado no Oeste abrange 48 municípios, que pertencem às regiões de Toledo e Cascavel. No ano de 2015, a produção cresceu 21% em relação ao ano anterior, gerando um volume de 55.598 toneladas de peixes produzidos, dos quais, 96% foi tilápia. Esse volume total representou 69% da produção paranaense de peixes daquele ano. Os cultivos nesta região são todos realizados em viveiros escavados e contam atualmente com alto nível de tecnificação, tanto na prática de uso de aeradores e geradores, quanto no arraçoamento que é mecanizado em muitas propriedades, principalmente de médio e grande porte.

De acordo com o extensionista da Emater, César Ziliotto, para a realidade da região, são consideradas pisciculturas de grande porte aquelas com área superior a 5,0 hectares de lâmina de água, médias propriedades aquelas com área entre 1,0 a 5,0 ha e pequenas propriedades áreas inferiores a 1,0 ha de lâmina de água. Estima-se que atualmente os grandes, médios e pequenos piscicultores da região se enquadram nessas categorias em um percentual de 3,0%, 45%, e 52% respectivamente.

Entre os municípios com maior produção de tilápia, destacam-se Maripá, Assis Chateaubriand e Nova Aurora, todos estes localizados no polo Oeste. Maripá é um dos municípios com a maior produtividade em tanques escavados do Paraná e possivelmente a maior produtividade do Brasil. No ano de 2016, este município de pouco mais de 5 mil habitantes obteve uma produtividade média de 54,2 t/ha/ano, realizada por 94 piscicultores, em uma área de 133 ha de lâmina d’água. Segundo dados do Instituto Emater, do município de Maripá, a produtividade vem crescendo e mais do que dobrou nos últimos 10 anos. Ainda, cerca de 90% das propriedades do município são licenciadas.

A atividade da piscicultura gerou para o Estado do Paraná em 2014 um valor bruto de produção de quase meio bilhão de reais, mais precisamente, R$ 425,6 milhões, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural do Paraná. Somente o núcleo da região de Toledo, que abrange 20 municípios do Oeste, correspondeu por 33% desse valor. Já consolidado em outros segmentos da região, como na produção de aves e suínos, o sistema de integração com as cooperativas é um dos pontos fortes do Oeste. Segundo o extensionista da Emater, existem na região duas cooperativas que trabalham com esse modelo, uma delas com sistema de integração total na piscicultura (Copacol) e outra (Copisces) com sistema de integração parcial. Juntas, abrangem aproximadamente 20% do total dos piscicultores, sendo a Copacol com o maior número de integrados. Para 2017 mais uma cooperativa irá adotar o modelo de integração total (C.Vale), e nos próximos 3 a 5 anos deverá abranger outros 15 a 20% dos produtores.

No sistema integrado total a cooperativa fornece a ração, os peixes, assistência técnica e ao final do cultivo recolhe os peixes para destinar ao abate. Por sua vez, o produtor fornece estrutura e mão-de-obra para manutenção do cultivo. A remuneração ao piscicultor é baseada na produtividade, e este tem uma margem de lucro sobre o quilo de tilápia.

 

 

Detalhes do processo produtivo do Paraná

Segundo dados do IBGE (2015), a produção brasileira de alevinos foi de 955.614 milhões de alevinos. A região sul foi a maior produtora, com 29,3%, sendo que destes, 22,6% foram produzidos no Paraná (215.924 milheiros), principalmente nas cidades de Toledo (51.050 milheiros) e Palotina (40.000 milheiros), as quais no ranking nacional aparecem em primeira e segunda colocação, respectivamente, entre as cidades que mais produziram alevinos no Brasil.

A produção de alevinos revelou-se bastante tecnificada, com máquinas para classificação de tamanhos e uso de estufas principalmente para enfrentar os períodos de inverno e frentes frias. Os alevinos dos 30 municípios produtores atendem a toda demanda do Paraná, havendo também vendas para praticamente todos os estados brasileiros. A linhagem predominante nas pisciculturas comerciais é GIFT, mas há também outras linhagens no estado: como Supreme, Tailandesa, Bouakê e Cruzas (Emater, 2016).

Os alevinos são entregues com peso de uma ou duas gramas aos produtores de juvenil, que fazem a despesca quando os peixes chegam em média a 30 e 35 gramas. Esse período leva cerca de 60 dias e é possível a realização de cinco ciclos ao ano, segundo Cezar Bulttini, um dos produtores de juvenis de tilápia em sistema intensivo, com até 80 peixes/m².

Na engorda, o povoamento é feito com 2,5 a 5 peixes/m² em sistema semi-intensivo, 5 a 10 peixes/m² em sistema intensivo e acima de 10 peixes/m² em sistema superintensivo. Os produtores comerciais adotam os modelos semi-intensivos e intensivos de produção, tendo alguns poucos casos com sistemas superintensivos.

O peso final de engorda depende do mercado ao qual se destina a produção. Os frigoríficos absorvem 90% da produção e o peso final varia de 650 a 800g por indivíduo. Já quando se destina a feiras e principalmente outros mercados como peixarias, CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e outros, o peso final pode ultrapassar 900 gramas.

A sobrevivência na engorda é alta, superior a 90% quando ocorre o povoamento com juvenis de 20 gramas ou mais, e entre 80 e 90% com o povoamento de juvenis menores. A produtividade média da região, de acordo com a Emater, é superior a 20 t/ha/ciclo e a conversão alimentar média fica entre 1,4 e 1,5:1,0. A margem de lucro bruta do produtor varia de R$ 0,60 a R$ 1,00 sobre o quilo de tilápia. Assim a rentabilidade depende do tamanho da propriedade e do volume produzido.

 

Unidades de Processamento

O crescimento da produção tem levado uma expansão das unidades de processamento no Paraná e vice versa. Atualmente existem 29 unidades em operação, entre pequenas, médias e grandes empresas que se dedicam ao processamento de peixes da aquicultura. Cerca de 95% do abate é de tilápias, com foco na produção de filé. (Emater, 2016)

A cooperativa C.Vale, que até então no segmento da aquicultura, atuava apenas no fornecimento de rações, investiu 110 milhões na construção de um frigorífico para abate de tilápias. A planta fica localizada no município de Palotina, no oeste do Paraná, estando em fase final de construção e ainda em 2017 pretende entrar em operação, com abate inicial de 75 mil tilápias por dia.

A estrutura física do abatedouro será preparada para permitir a duplicação do processamento com apenas a instalação de uma segunda linha de produção. A cooperativa também adotará o sistema de integração total, e pretende trabalhar com aproximadamente 300 integrados em até cinco anos. Além disso, está apostando em um sistema diferenciado de produção para melhorar o desempenho da atividade e assim a produtividade dos seus cooperados. Questionada pela Aquaculture Brasil se o atual volume de produção do estado atenderia a demanda do frigorífico, a C.Vale afirmou que irá aproveitar a produção dos associados que já possuem açudes, mas que já possui também cooperados que não atuam nesse segmento, e que estão interessados em investir na piscicultura.

A Copacol, cooperativa com um dos maiores frigoríficos em funcionamento, situado no município de Nova Aurora, também no oeste do estado, abate 90 mil tilápias por dia e investiu em adequações, implantando uma segunda planta processadora. O objetivo é abater 140 mil tilápias por dia ainda em 2017. A cooperativa busca ainda a expansão da comercialização dos produtos para outros países.

 

Extensão

O estado do Paraná conta com a Emater, que trabalha com os projetos de piscicultura. O órgão tem como objetivo propiciar a melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais através da implementação das pisciculturas como forma de incremento de renda para estas famílias. Além da implementação, visa ações prioritárias como orientação ao licenciamento ambiental, contribuição nas ações de qualificação das famílias para trabalharem com a aquicultura, promoção de melhorias nos sistemas de produção, entre outros.

Dessa forma, vem contribuindo em mais de 50 municípios do estado, com 9 técnicos que executam o trabalho nos três polos de produção (Oeste, Norte e Leste), atendendo a 1850 produtores. O apoio técnico tem sido fundamental e garantido maior produtividade.

 

Formação especializada

O estado conta com seis cursos entre nível técnico e superior na área de produção de organismos aquáticos (Tabela 4). O mais antigo deles é o curso de Engenharia de Pesca, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), implantado no ano de 1996 em Toledo. Já o mais recente é o oferecido na Universidade Federal do Paraná, Centro de Estudos do Mar (UFPR – CEM), que a partir de 2015 deixou de ser Tecnólogo em Aquicultura e passou então a ser Engenharia de Aquicultura.

Existem também os cursos de pós graduação, que são oferecidos pela UFPR, campus de Palotina, na área de Aquicultura e Desenvolvimento Sustentável, e também na UNIOESTE, com mestrado e doutorado em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca.

O mercado tem absorvido os profissionais na medida que vai crescendo, tanto na parte da assistência técnica aos cultivos, quanto nos frigoríficos. O coordenador do curso de Engenharia de Aquicultura da UFPR – Palotina, Carlos Eduardo Zacarkim, afirma que os alunos da última fase, uma vez que o curso não formou nenhuma turma ainda, encontram-se empregados pelos frigoríficos.

 

Considerações finais

Como podemos observar, a piscicultura no estado do Paraná vem se desenvolvendo em ritmo acelerado, principalmente no polo Oeste, onde o setor demonstra-se consolidado, e a cada dia novos projetos dão entrada no IAP (Instituto Ambiental do Paraná) para obtenção da licença ambiental. Vimos o despertar de um gigante, que com água em abundância, apesar de um inverno rigoroso, conseguiu tornar-se o estado com a maior produção nacional de peixes, segundo dados levantados em 2016 pela Peixe BR. Para o ano de 2017 o volume produzido deve ultrapassar as 100 mil toneladas, sendo o primeiro estado a bater essa marca de produção.

A alta demanda por peixe não somente dos novos e atuais frigoríficos, mas também de grandes redes de supermercados localizadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, faz com que os produtores sintam-se confiantes em ampliarem seus empreendimentos. A piscicultura tem atraído também produtores que antes apostavam somente na agricultura e hoje veem na atividade uma forma de aumentar sua fonte de renda.

O sistema de integração com as cooperativas permite algo bastante importante, que é a assistência técnica aos produtores cooperados. Os técnicos dão o auxílio necessário para o monitoramento da taxa de arraçoamento, parâmetros de qualidade de água e crescimento dos lotes. Resultando assim em uma maior produtividade e consequentemente tem contribuído para elevar a posição do estado no ranking nacional de produção.

O desenvolvimento da piscicultura só não é maior em virtude da falta de assistência técnica para atender a todo o estado. A dificuldade na obtenção da licença ambiental e a falta desta também impede o maior desenvolvimento da atividade, uma vez que sem o licenciamento ambiental o crédito rural não é concedido para custear os investimentos e o pequeno produtor não consegue aumentar seu negócio. O polo produtivo da região Norte do estado, principalmente, vem enfrentando dificuldades para obtenção do licenciamento ambiental para os cultivos em tanques-rede.

Dessa forma, nota-se que algumas dificuldades ainda existem, porém pudemos sentir a vontade em produzir e ampliar os empreendimentos, que muitos produtores tem. A piscicultura é o agro da vez, também no Paraná!

Agradecimentos:
Nedyr Chiesa – Trevisan Equipamentos
Cesar Ziliotto – Extensionista Emater /Maripá,PR
Alexandre Marcelo Baumann – C.Vale
A todos os produtores citados ao longo do artigo

 

Autores: ¹Jéssica Brol
Diego Molinari
AQUACULTURE BRASIL
¹jessica@aquaculturebrasil.com

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