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Cultivo de Camarões
01 de Janeiro de 2017 Aquaculture Brasil
A Utilização de Berçários e Raceways em Fazendas de Camarão Marinho Litopenaeus Vannamei no Brasil

I – Histórico, Conceitos e Tendências

 

Introdução

Em fazendas construídas no Brasil nos anos 90 e início dos anos 2000, berçários para pré-engorda, os chamados sistemas bifásicos, já eram utilizados principalmente como forma de reduzir o tempo de cultivo e obter um controle mais rigoroso da alimentação inicial. Nestas estruturas, os ciclos geralmente são curtos, de 10 a 25 dias, até os camarões serem transferidos aos viveiros de engorda final. Na década passada, segundo a ABCC (2011), 12% das fazendas no Brasil utilizavam berçários intensivos e o percentual de uso destes berçários nas grandes fazendas chegava a 63%. Entretanto, em muitos casos, estas estruturas ficavam ociosas e com pouco uso, uma vez que o povoamento direto nos viveiros ainda era uma estratégia funcional e menos trabalhosa.

Após a chegada do vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) em meados de 2011 nas fazendas de Pernambuco, Paraíba e litoral Sul do Rio Grande do Norte houve a necessidade de um maior controle sob as condições de cultivo (Guerrelhas, 2012). Deste modo, a utilização de sistemas berçários em tanques de fibra ou concreto voltou a reaparecer como alternativa para aumentar a biossegurança. Além das estruturas já existentes, novas fazendas começaram a aderir a estratégia de berçários para pré-engorda através de sistemas bifásicos (berçário primário ou raceway + viveiro) ou sistemas trifásicos (berçário primário + berçário secundário [raceways] + viveiro). Estas estruturas mais aprimoradas utilizam estufas agrícolas e sistemas de aeração, alimentação e manejo mais modernos, arrojados e eficientes.

Em 2016, a partir da disseminação do WSSV também para o norte do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, os berçários se tornaram a ferramenta mais imediata e necessária. Porém não única, diga-se de passagem, para de alguma forma conviver e combater esta enfermidade nas fazendas semi-intensivas com viveiros escavados.

A principal razão é produzir PL´s ou juvenis com previsibilidade, mais saudáveis, mais uniformes e diminuir ao máximo o tempo de cultivo nos viveiros abertos.

Assim, reduz-se o tempo de contato dos animais com o ambiente externo (de constante flutuações ambientais) e com o WSSV, possibilitando despescas com melhores sobrevivências antes de uma possível mortalidade massiva.

Viveiros escavados abertos (> 2,0 ha) para sistemas semi-intensivos de produção (de 10-30 cam/m²) consistiram no modelo de produção mais difundido no Brasil, assim como em toda a América Latina. Ressalta-se ainda que este modelo é a forma de cultivo mais utilizada da carcinicultura marinha brasileira. Entretanto, no cenário atual, com o WSSV e outras doenças virais (principalmente IMNV e IHHNV) e bacterianas (principalmente NHP e vibrioses em geral), o modelo semi-intensivo em viveiros escavados abertos é considerado o de maior risco devido sua baixa biosseguridade e ao difícil controle acerca dos parâmetros da água.

As novas tecnologias intensivas de produção, trazidas para o Brasil principalmente da Ásia (Scopel, 2012 e 2014), preconizam a utilização de viveiros pequenos (<1,0 ha) e fechados (com estufas agrícolas e geomembranas).

Estes sistemas vêm demostrando ser a forma mais produtiva (>20T/ha/ciclo), estável (baixa flutuação dos parâmetros) e biossegura de produção.

Contudo, soluções de curto prazo e menos onerosas necessitam ser difundidas no País. Os 22.347 ha (ABCC, 2011) de viveiros escavados e abertos no Brasil precisam de soluções mais imediatas e de baixo custo, já que a redução de tamanho, revestimento e cobertura de viveiros ainda é muito onerosa e de difícil implantação para a maioria dos produtores. Desta maneira, os berçários primários e os secundários (também chamados de raceways) vêm cada vez mais ganhando adeptos no Brasil (Nunes, 2015; Rocha et al., 2016) e em diferentes países produtores como Equador (Samocha, 2009; Samocha et al., 2015), México, Indonésia, China e Tailândia.

Devido às diversas vantagens na utilização de berçários em fazendas de camarão (Figura 1), tanto do ponto de vista das estruturas, do manejo de qualidade de água e alimentação, as tecnologias utilizadas vêm evoluindo e sendo aprimoradas ano após ano.

 

As principais vantagens da utilização de berçários e raceways são: Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

Desvantagens: Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

Berçários Primários e Raceways (berçários secundários)

Com a evolução dos sistemas de produção em berçários, há dois tipos principais de modelos de cultivo desenvolvidos, os berçários primários (Figura 2) e os raceways (também utilizados como berçários secundários – Figura 3). Os berçários primários são normalmente tanques pequenos (10m3 – 100m3), podendo ser de diferentes formatos, sendo os redondos os mais comuns (diâmetros variando entre 5m a 15m; altura de coluna de água entre 1m – 1,5m), com ciclos de produção rápidos (15-25 dias) e com maiores densidades (5-25 Pls/L).

Os raceways são tanques maiores (100m2 – 2000m2), podendo ser quadrados, retangulares ou redondos (diâmetros entre 10m até >30m e até 2,0m de coluna de água), com ciclos de produção mais longos e com a vantagem de produzir camarões maiores antes da transferência aos viveiros. Os raceways podem ser também utilizados como berçários secundários, onde manejo da qualidade da água torna-se mais complexo, tendo em vista o maior período de cultivo, a baixa troca de água e a possível transição de sistema fotoautotrófico (microalgas) para bacteriano (bioflocos).

 

 

Estruturas utilizadas

As estruturas, a forma de construção e o manejo dos berçários são variados e são aperfeiçoados com o passar dos anos. O importante é que cada produtor escolha o sistema que mais se adequa à sua fazenda e aos seus objetivos finais.

Existem berçários de diferentes modelos estruturais: redondos feitos de aço galvanizado trançado (tela) forrado com geomembranas PEAD (Polietileno de Alta Densidade) (Figura 4), madeira (compensado naval) com geomembrana PEAD (Figura 5), redondos de fibra (Figura 6), retangulares escavados (sem geomembrana) (Figura 7), retangulares com geomembrana PEAD (Figuras 8 e 9), berçários de concreto, cimento ou ferro-cimento forrados com  geomembrana (Figura 10), todos podendo ser com ou sem estufas, com ou sem sombrites. O uso de estufas apresenta diversas vantagens já supracitadas. O sombrite mantém os parâmetros de qualidade água (principalmente pH, temperatura e oxigênio dissolvido) mais estáveis devido a inibição de bloom de microalgas.

Sistemas de aeração com compressores de ar (sopradores) são os mais comuns. Com a chegada de mangueiras de borracha microperfuradas nos últimos anos, os chamados “aerotubos”, utilizados como difusores de ar (Figura 11) específicos para aquicultura, a eficiência de incorporação de oxigênio destes equipamentos aumentou consideravelmente, devido a produção de bolhas menores (microbolhas).

Sistemas de aeração mais avançados com bombas hidráulicas (usualmente de alta pressão) acoplados a bicos injetores chamados de nozzles (que utilizam o princípio de venturi) também estão ganhando adeptos no Brasil,

assim como sistemas mais simples de garrafas PET (Figura 12), com o intuito de reduzir custos de implantação.  A oferta de oxigênio dissolvido (> 4,0mg/L) é primordial em qualquer sistema de produção de L. vannamei, onde a aeração deve ser forte e bem distribuída por todo o tanque, com aeração vertical, horizontal ou mista. O objetivo não é somente ofertar oxigênio aos animais, como também para toda a microbiota aquática benéfica. Adicionalmente, a aeração ajuda a promover a suspensão dos sólidos na coluna da água, evitando acúmulo de pontos anaeróbicos no fundo do tanque. A aeração deve ser 24h/dia e 7 dias por semana, tornando essencial a utilização de geradores de energia.

 

Cuidados com relação à qualidade de água

Dependendo do tipo de sistema de cultivo empregado nos berçários, os manejos de qualidade de água podem ser diferentes e consequentemente mudarem a dinâmica microbiológica e bioquímica da água. Entretanto, estes princípios são os mesmos para todos os tipos de sistemas, sendo de fundamental importância uma compreensão mínima de alguns conceitos importantes, os quais devem ser levados em consideração e serão discutidos a seguir.

As análises e a interpretação correta dos parâmetros físicos e químicos da água são de fundamental importância. No caso de berçários, o acompanhamento através dos instrumentos de análises e medição deve ser ainda mais relevante, tendo em vista a alta biomassa estocada e o baixo volume de água utilizado, o que possibilita uma flutuação brusca dos parâmetros caso não haja muito poder de controle sob as condições do ambiente. O depósito de matéria orgânica no fundo dos tanques deve ser sempre evitado através da ressuspensão dos sólidos na água, ou através da remoção pelo centro dos tanques, ou através do uso de filtros, sedimentadores ou fracionadores de espuma (skimmers).

Parâmetros de qualidade água como oxigênio dissolvido (OD), temperatura, pH, amônia (amônia total ou TAN), nitrito, alcalinidade, sólidos sedimentados (SS) e/ou sólidos suspensos totais (SST), devem ser aferidos, monitorados e corrigidos frequentemente.

 

Tendências

Diante do cenário atual da carcinicultura brasileira, com o mercado consumidor de camarão aquecido e crescente demanda pelo produto, as doenças (principalmente o WSSV) são o maior entrave produtivo na atualidade. A instalação de berçários primários e/ou secundários são e continuarão sendo uma grande ferramenta para o convívio e combate às doenças. Assim, houve nos últimos meses um aumento considerável de instalações no Brasil, em que pequenas, médias e grandes empresas apostam neste modelo de produção.

Os diferentes tipos de estruturas são construídos onde a criatividade, conhecimento técnico e eficiência do projeto contam muito na hora de escolher o modelo ideal para cada situação.

No entanto, os pré-requisitos de manejo e qualidade de água devem ser rigorosamente seguidos e corretamente implementados nos protocolos das fazendas. Berçários e raceways são construídos cada vez mais equipados, arrojados e maiores (de 50 a 2000m2), para atender os grandes viveiros extensivos e semi-intesivos das fazendas no país, com a produção de juvenis de 1,00g a 3,00g antes da transferência. Este parece ser o modelo que melhor apresenta resultados diante das doenças e continuará em plena evolução através de técnicas utilizadas em todo o mundo. Pequenos produtores constroem berçários comunitários, onde um berçário atende diferentes produtores.

Sistemas fotoautotróficos e bacterianos (bioflocos), balanço iônico, manejo de qualidade de água, alimentação e controle mecânico de sólidos são exemplos de técnicas que são cada vez mais aprimoradas e serão discutidas nos próximos artigos da AQUACULTURE BRASIL. Fiquem ligados!

 

Autores: Bruno Ricardo Scopel¹; Anízio Neto da Silva²
¹Eco Marine Aquicultura
Phibro Aqua Int.
scopel@ecomarinebr.com

²Aquacultura Integrada Ltda
anizio@aquaculturaintegrada.com.br

 

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