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Cultivo de Camarões
01 de Janeiro de 2017 Aquaculture Brasil
Balanço Iônico e Controle Ambiental na Carcinicultura Marinha

Introdução

Por se tratar de um assunto bastante complexo, o balanço iônico apresenta algumas barreiras técnicas e práticas para o seu entendimento, aplicação e monitoramento. No entanto, considerando a sua relevância para o enfrentamento das enfermidades virais na carcinicultura marinha, o presente trabalho almeja tirar algumas dúvidas relacionadas às questões químicas, contribuir na interpretação dos dados obtidos à campo e pontuar alguns temas que, associados ao balanço iônico, podem promover uma melhoria no processo produtivo e minimizar os impactos das doenças.

Na natureza existem constantes imutáveis como, por exemplo, a Constante de Fibonacci ou proporção áurea, que dá beleza e simetria a diversos organismos e, inclusive, aos seres humanos. Leonardo Fibonacci é considerado o maior e mais talentoso matemático da Idade Média. O arranjo dos galhos nos troncos das árvores costuma seguir a sequência de Fibonacci. O número de espirais das sementes dos girassóis e dos frutilhos do abacaxi são números de Fibonacci. Em The Wave Principle, Ralph Nelson Elliott defende a ideia que as flutuações do mercado seguem um padrão de crescimento e decrescimento que pode ser analisado segundo os números de Fibonacci.

 

E qual a relação entre a constante de Fibonacci e uma fazenda de cultivo de camarão?

Manter inúmeras constantes de interesse em um ambiente de cultivo, predispõe que a todo instante milhares de processos químicos e bioquímicos, ligados à fatores genéticos e climático-ambientais, estão ocorrendo. Água e solo estão em constante movimento!

Na década de 30 do século passado já se conhecia o Equilíbrio na Água através do Diagrama Iônico de Maucha, como condição para o desenvolvimento saudável em água doce (Maucha, 1932). O camarão branco do Pacífico Litopenaeus vannamei assim como várias outras espécies marinhas necessitam atender à determinadas constantes químicas da água, as quais devem ser conhecidas e mantidas no ambiente de produção. O desvio destas proporções químicas é um dos fatores que contribui para a queda na produção, propensão a doenças e até a perda total da produção.  O diagrama de Maucha está representado nas figuras abaixo.

Em termos práticos e à título de exemplificação, no caso da água doce o equilíbrio entre os ânions Ca++ e Mg++ e os cátions CO3 e HCO3 é benéfico mesmo em quantidades que extrapolem o círculo do diagrama, enquanto que a presença de ânions Na+, K+ e cátions Cl e SO4 em altas concentrações são danosas.

Através do entendimento da constante de Fibonacci e de sua inter-relação com o Diagrama Iônico de Maucha podemos compreender melhor as necessidades e os processos que ocorrem em um ambiente de cultivo.

 

 

Equilíbrio Iônico e Balanço Iônico

Em qualquer água, independente de ser doce ou salgada, potável e mineral deve haver um equilíbrio iônico para que a mesma tenha estabilidade química. Na Tabela 1 temos um exemplo de equilíbrio iônico em água e como podemos observar temos um equilíbrio entre cátions e ânions, também expresso em miliequivalente grama.

Balanço iônico refere-se a proporções de determinados cátions e ânions expressos em mg/l, que devem ser mantidas para que os organismos se desenvolvam de forma saudável.

No caso do camarão L. vannamei algumas proporções devem ser consideradas. Abaixo temos as concentrações ideais para o cultivo já explanadas em várias palestras pelo Prof. Jorge Chávez Rigaíl.

 

Mas, e o que tem na água do mar?

Em resumo, obedecer às relações existentes entre os diferentes íons que compõem a água do mar pode ser um grande passo para o sucesso dos cultivos de camarões marinhos em água doce.

 

Fisiologia e comportamento

Algumas características fisiológicas e comportamentais dos camarões marinhos estão diretamente relacionadas aos problemas que incidem no cultivo e na produtividade.

Os camarões, bem como outros crustáceos e peixes, possuem uma relação área branquial versus superfície corpórea. Esta relação diminui com o crescimento do animal, tornando-o sensível às condições da água devido às trocas osmóticas nas fases iniciais.

Durante a muda (fase crítica e de grande estresse), os camarões absorvem grande quantidade de água e aumentam rapidamente de tamanho (Chang, 1985). A duração do ciclo de muda depende das condições climáticas e ambientais (Withers, 1992).

Na fase de engorda, os camarões permanecem boa parte do tempo no fundo dos viveiros, em íntimo contato com o solo.  Não só a ausência de substâncias tóxicas (como amônia, nitrito, sulfetos, etc.) mas também a granulometria do solo contribuem para o bem-estar animal.

 

Experiências na área

Nestes 27 anos produzindo kit e equipamentos para aquicultura tenho vivenciado vários sucessos e fracassos na piscicultura e carcinicultura. Em 2006, num projeto desenvolvido em parceria com a FAEPE (Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco), visitei 20 fazendas pelo litoral de Pernambuco realizando treinamentos e análises de água e solo. Na época ficou evidente que o manejo da água e do solo era o principal gatilho para a disseminação das enfermidades. Em fazendas acometidas encontramos teores de sulfeto no solo em torno de 4,0 a 6,0 mg/kg, nitrogênio amoniacal em 4,0 mg/kg e nitrogênio nitrito em 1,50 mg/kg. Na água, estes parâmetros estavam normais, dentro das faixas toleráveis para as espécies. Em fazendas onde havia um manejo adequado do solo e da água os cultivos estavam sadios.

O mesmo acorria na região de Laguna/SC. O primeiro foco da mancha branca no Brasil iniciou logo que foi aberta (viveiros despescados em regime de urgência) uma fazenda na Foz do rio D’uma, em uma região de turfeira onde havia no solo altíssimos teores de compostos tóxicos. As análises foram realizadas no laboratório da Alfakit (Florianópolis/SC), em amostras de solo coletadas pelo Dr. Jesus Malpartida Pasco. Encontramos níveis de nitrogênio amoniacal em 8,0 mg/kg, nitrito de 4,0 mg/kg e fenóis em 18 mg/Kg.

Em um trabalho científico realizado posteriormente pela EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) nesta mesma região, a supracitada constatação foi confirmada, embora com teores menores destes compostos.

Falta de informações sobre a influência da qualidade da água e do solo na aquicultura não é desculpa. Vejo na FENACAM (Feira Nacional do Camarão) e em várias outras feiras e congressos da área palestrantes renomados, pesquisas sendo realizadas em todo o Brasil, excelentes artigos publicados em revistas de divulgação como a Revista da ABCC, Panorama da AQUICULTURA e AQUACULTURE BRASIL. Artigos científicos publicados em revistas indexadas nacionais e internacionais.

O que falta de verdade, em minha opinião, é colocar em prática todos estes conhecimentos solidificados já existentes.

Aproveito tudo que tenho estudado e vivenciado, todos estes anos, sobre enfermidades na carcinicultura marinha para dar algumas sugestões visando um cultivo sadio e produtivo:

 

Considerações Finais

Em todos estes anos que acompanho a carcinicultura marinha, atuando na produção de kits, pesquisando e estudando aspectos relacionados à água e ao solo dos viveiros de cultivo e dando suporte técnico acerca destas análises aos produtores, concluo que

os maiores problemas que o segmento enfrenta estão relacionados ao uso continuado de práticas que não levam em conta os aspectos ambientais dentro do próprio viveiro.

Estas questões foram bem explanadas pelo biólogo Jorge Chávez Rigaíl, no artigo “História, mitos, verdades e dicas em épocas de mancha branca”, publicado na terceira edição da Revista AQUACULTURE BRASIL (p. 34-38). Como bem frisou este autor, trata-se de um problema “ECOLÓGICO”. É imprescindível que o setor produtivo entenda a necessidade de modificações urgentes nas práticas de manejo diretamente relacionadas com o manejo da qualidade da água e do solo.

 

Autor: Léo de Oliveira
Alfakit Ltda. - alfakit.ind.br - leo@alfakit.ind.br 

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

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