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Maricultura
01 de Janeiro de 2017 Aquaculture Brasil
Maricultura – Uma Opção Sustentável para o Rio de Janeiro

Introdução

No atual cenário de crise econômica que o estado do Rio de Janeiro enfrenta, a maricultura pode assumir um importante papel quando pensamos em alternativas econômicas sustentáveis, especialmente em áreas costeiras com baixos índices de desenvolvimento humano.

A maricultura é a atividade de produção de organismos aquáticos no mar, e se tratando do Rio de Janeiro se destacam a malacocultura, a piscicultura e a algicultura. Essas atividades ao longo dos últimos 15 anos se desenvolvem de forma consistente, apoiadas e implantadas pelos três níveis de poder: o antigo Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA (incorporado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA), a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro – FIPERJ, SEBRAE e prefeituras locais, dentre outros.

No Estado, por conta das características geográficas e ambientais propícias, a maricultura passou a se instalar em duas regiões principais: a Costa Verde, região do litoral sul que possui como seu polo Angra dos Reis, e a microrregião dos Lagos, destacando-se Arraial do Cabo.

Nesse artigo pretendemos apresentar de forma resumida o cenário atual da maricultura no estado fluminense, dando destaque aos três principais setores em desenvolvimento.

 

 

Cultivo de moluscos

O cultivo de moluscos tem destaque em dois territórios geográficos: a região dos Lagos e a Costa Verde. Na primeira, os cultivos estão localizados na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, unidade de conservação de uso sustentável, sendo o cultivo restrito aos moradores tradicionais e beneficiários da reserva. No entanto, a principal área produtora onde concentra o maior número de fazendas marinhas é a Baía da Ilha Grande, em Angra dos Reis. A geografia, a disponibilidade de áreas abrigadas e as características naturais do local favoreceram o desenvolvimento do cultivo.

Atualmente contabiliza-se 20 fazendas marinhas no estado desenvolvendo o cultivo de três espécies: o mexilhão Perna perna, a ostra do Pacífico Crassostrea gigas e a vieira Nodipecten nodosus.No entanto,

a vieira é a espécie mais cultivada e a principal estrela da maricultura fluminense, apresentando uma estimativa de produção de 55 toneladas em 2016.

 

Na maioria dos casos, o manejo diário dos moluscos é realizado em balsas flutuantes. A produção ainda é artesanal e na maior parte das vezes apresenta mão de obra local e familiar. Nesse sentido, a utilização de tecnologias e mecanização ainda é reduzida, caracterizando-os em sistemas com baixo rendimento.

O sistema de cultivo utilizado é o tradicional suspenso flutuante (espinhéis ou longlines), tanto de superfície como de meia água. As ostras e as vieiras são cultivadas em lanternas japonesas de 5 a 10 pisos e os mexilhões fixados em cordas ou cabos de um metro de comprimento, em geral.

Por serem animais filtradores, não é necessário fornecer ração aos moluscos, pois os mesmos retiram seu alimento do meio ambiente. Esta característica facilita e diminui o custo de produção e torna a atividade bastante atrativa. O mercado é muito promissor e cresce a cada ano. Relatos de produtores de vieira afirmam que a produção ainda não atende a demanda do mercado. Elas são comercializadas a partir de 7,5 cm de comprimento a valores que variam de R$30,00 até R$50,00 a dúzia, dependendo da classificação. Os animais são comercializados principalmente para restaurantes de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas a comercialização no local do cultivo, principalmente para turistas ainda é muito comum.

 

Piscicultura marinha

A piscicultura marinha no estado data do início dos anos 80, quando pesquisadores vinculados ao Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), atual Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) em Arraial do Cabo, desenvolveram diversas pesquisas com espécies nativas, entre elas as tainhas e garoupas. Recentemente, a atividade ganhou destaque na região de Angra dos Reis, através do cultivo experimental realizado por pesquisadores vinculados a Universidade Federal de Rio Grande – FURG (Sampaio et. al, 2011). Exemplares de bijupirá (Rachycentron canadum) atingiram até 4,2 Kg em um ano, sendo alimentados com sardinha in natura.

Estes resultados animadores estimularam pequenos investimentos privados, apoiados pelo poder público de diversas esferas e universidades. Assim num intervalo de 7 anos a atividade passou de uma escala experimental à produtiva, com estimativa de produção de até 11 toneladas no ciclo 2015/2016.

 

O perfil da piscicultura marinha desenvolvida na região é totalmente oposto ao modelo adotado na região nordeste do país. Os cultivos são do tipo nearshore por conta das características geográficas favoráveis, operam em baixa densidade e são realizados em duas fases distintas: a “fase seca”, com peixes até 0,5 kg alimentados com ração comercial/ração úmida e a “fase molhada”, que completa o ciclo, quando os peixes são alimentados com o excedente da pesca de cerco da sardinha, recurso local abundante estimado em até 2.118 ton/ano.

Incentivada e fomentada pela prefeitura de Angra dos Reis em parceria com o MPA, por meio da instalação de uma unidade demonstrativa com 10 tanques de 12 metros de diâmetro (452 m³ de volume útil/cada) e uma escola de capacitação para a comunidade local, a atividade tende a crescer. A alta demanda associada ao valor de mercado atrativo (R$ 46,00 o quilo do peixe inteiro fresco) são fatores positivos para o desenvolvimento dos cultivos.

Ainda neste cenário, é de fundamental importância que o Plano Local de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM), que até o momento não foi realizado no Estado do Rio de Janeiro, possa progredir delimitando os parques aquícolas junto à costa do Rio de Janeiro, impulsionando a atividade de maneira sustentável.

 

Cultivo de algas

O Rio de Janeiro é o único estado brasileiro que produz macroalgas em escala comercial e a única espécie cultivada é Kappaphycus alvarezii, cuja produção está limitada à Costa Verde. Esta limitação deve-se, principalmente, ao fato de Kappaphycus ser uma espécie exótica e seu cultivo ser permitido (IN IBAMA N° 185, de 22 de julho de 2008) apenas entre a Baía de Sepetiba, RJ e Ilha Bela, SP.

Kappaphycus foi introduzida na baía da Ilha Grande em 1998 e a partir de 2004 seu cultivo foi amplamente difundido na região, através da instalação de um grande empreendimento na baía de Sepetiba. Além do cultivo, o empreendimento contava com uma indústria de extração de carragenana, coloide produzido por Kappaphycus com ampla aplicação especialmente na indústria alimentícia. A dissolução do empreendimento em 2010 e suas consequências sociais desestimularam muitos maricultores a se manterem na atividade. Atualmente, existem menos de dez algicultores no estado e a produção anual não chega a 500 toneladas anuais de algas frescas.

Apesar da introdução de espécies exóticas na aquicultura ser bastante relacionada à introdução de pacotes tecnológicos prontos, no caso da Kappaphycus, o sistema de cultivo passou por adaptações importantes a fim de garantir maior produtividade e minimizar os riscos ambientais. Desta forma, o sistema de cultivo mais utilizado é o de redes tubulares em balsas flutuantes. A obtenção das mudas (formas jovens) se dá através da fragmentação do talo de plantas adultas e o crescimento (engorda) é vegetativo.

Kappaphycus apresenta altas taxas de crescimento no litoral fluminense, cerca de 5% ao dia, o ciclo de produção varia de 45 a 60 dias (até oito ciclos anuais) e cada balsa (45 m2) produz em média 2,5 t de alga fresca por ciclo.

A comercialização para a indústria de carragenana é preferencialmente seca, mas em função do clima úmido, estabeleceu-se na região a comercialização da alga fresca. Os principais desafios do algicultor ainda são a obtenção da licença ambiental, mesmo em área permitida para o cultivo; o escoamento da produção para a indústria, pois apesar do grande mercado nacional, o número de indústrias de extração de carragenana ainda é pequeno; e a falta de mão de obra especializada associada à falta de conhecimento do grande potencial do negócio.

Algumas inciativas têm dado novo fôlego à atividade, como o projeto da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande (brigadamirim.org.br) que tem investido na capacitação de jovens na algicultura. Além disso, novos investimentos oriundos do setor industrial prometem movimentar o cultivo de macroalgas no litoral fluminense, em 2017.

 

Desafios futuros

A maricultura fluminense se desenvolveu com base na busca de uma renda alternativa para as comunidades locais. No entanto, a atividade se desenvolveu e mostrou que é atrativa também para pequenos empresários, assim como para profissionais da área. Entretanto, a solução de antigos entraves será fundamental para sua consolidação enquanto cadeia produtiva. Dentre os gargalos, se destacam uma antiga reinvindicação do setor que é a implantação do PLDM e também do Plano Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves.

Áreas abrigadas, excelente qualidade de água e ótima temperatura o Estado do Rio de Janeiro já possui por natureza. Basta agora desenvolver de verdade sua maricultura!

 

Autores: Beatriz Castelar Duque Estrada¹; Felipe Schwahofer Landuci1¹; *Guilherme Búrigo Zanette¹,³ ;Paulo Márcio Santos Costa¹,³; Pedro Vianna Tavares²,³

¹Pesquisador da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro – FIPERJ
² Extensionista da FIPERJ
³ Grupo de Pesquisa de Biologia e Cultivo de Moluscos Marinhos da FIPERJ
www.fiperj.rj.gov.br
*guizanette@hotmail.com

 

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