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01 de Janeiro de 2017 Aquaculture Brasil
História, mitos, verdades e dicas em épocas de mancha branca

Antecedentes

A indústria mundial de cultivo de camarões marinhos tem se desenvolvido aceleradamente nos últimos 10 anos, já que desde seu início (anos 60), a produção de camarão em fazendas passou de níveis artesanais para uma indústria com milionários ingressos econômicos, provendo trabalhos diretos e indiretos a inúmeras pessoas no mundo todo.

Os sistemas de cultivo até essa data eram relativamente simples, se usavam altas taxas de renovação de água e muito pouco alimento balanceado. As medidas de biossegurança eram mínimas ou não existiam, pois nessa época se conhecia muito pouco sobre qualidade da água, doenças do camarão e quase nada dos mecanismos de defesa humoral e celular contra os agentes virais. Também não era dado atenção ao manejo da variável solo.

Paralelamente, outro setor gravemente afetado com a enfermidade da mancha branca foi a indústria dos alimentos balanceados para camarão. A mesma se viu obrigada a atualizar-se para poder crescer, com mudanças exigidas pela crescente demanda nacional ao “alimento melhorado”. Atualmente se fala muito de “alimentos balanceados compensados com balanço iônico, alimentos balanceados com determinada cadeia de aminoácidos, enzimas, etc”.

Os problemas do início, na realidade seguem sendo os mesmos hoje em dia, pois a capacidade de fazer análises e diagnósticos no setor aquícola é muito limitada em função da falta de especialistas neste ramo do conhecimento. Desde 1989, com o aumento explosivo da indústria camaroeira em nosso continente, se fez necessário produzir de forma mais profissional para se atingir bons resultados.

No início de 1999, os efeitos negativos do vírus da mancha branca (WSSV), obrigou os produtores a mudar a origem da pós larva que comumente era utilizada para povoar as fazendas, pois a partir destes anos o produtor passou a depender 100% de pós-larvas de laboratório a partir de reprodutores maturados em cativeiro. As pós-larvas passaram por um melhoramento genético, e os laboratórios a oferecerem um produto de melhor qualidade. Em virtude disso, ao longo dos anos, as pós-larvas equatorianas passaram a ter uma boa aceitação e um reconhecimento a nível internacional, já que se obtiveram melhoras na resistência sobre as enfermidades 10 anos depois de terem iniciado.

Igualmente durante o ano de 1999, vários países asiáticos iniciaram a substituição das principais populações domesticadas de Penaeus monodon, e Penaeus japonicus, pelo camarão branco do Pacífico, Litopenaeus vannamei, sendo competência direta de nossa produção, gerando nova pressão ao produtor latino-americano, que necessitou melhorar a eficiência em todos os sentidos, para seguir sendo competitivo em escala internacional.

 

 

Na atualidade, Tailândia, Vietnã, Malásia, Índia, Coréia, China, Sumatra, Austrália e Nova Caledônia, contam com vários programas de domesticação e melhoramento genético para estas espécies. No Equador, a partir do ano de 2003, por pressões ambientais, se resolve por legislação, a restrição no uso de antibióticos, transformando a aquicultura em uma atividade mais responsável e amigável com o meio ambiente. Esse fato exigiu ao setor novas e sofisticadas medidas de biossegurança para os sistemas de produção e como resultado dessas mudanças, além de boas práticas de manejo (BPM) orientadas a reduzir as condições de estresse dos cultivo, tivemos:

 Redução da densidade de estocagem (12/m²);
 Redução do consumo de antibióticos;
 Otimização das práticas de fertilização, relação 18N:1P;
 Desenvolvimento e utilização de probióticos – produção massiva de Lactobacillus sp e Bacillus sp, com cepas de origem certificada;
 Desenvolvimento e aplicação de biorremediadores do tipo nitrificantes, igualmente certificados, que atuam de maneira mais rápida, melhorando a qualidade e o controle técnico da variável solo;
 A utilização das normas do balanço iônico, que apesar de ser uma das ferramentas mais antigas era pouco usada, marcando uma importante mudança e sendo uma das ações mais importantes nas “soluções” que permitiram a muitos produtores sair à frente dessa gravíssima patologia, cujo momento mais crítico, afetou 100% da produção nacional;
 Auxílio do melhoramento genético nas pós-larvas;
 Correto uso dos probióticos;
 Melhorias na qualidade dos alimentos concentrados e peletizados;
 Constantes manejos feitos nas fazendas de modo a corrigir o desequilíbrio iônico do meio.

 

Mitos

Com a enfermidade da mancha branca se desenvolvendo no Equador, uma indústria paralela, baseada em “utopias – sonhos” também surgia, se incrementando no mercado os “técnicos – sábios – assessores – laboratórios de análises” todos preparados para evitar e erradicar o vírus com os mais diversos produtos. Criaram até sabonetes contra a mancha branca. Porém, ao final do dia todos aqueles produtos foram somente mitos, e de alguma forma os produtores equatorianos provaram quase todos os produtos do mercado que prometiam eliminar o vírus.

No início dos surtos houveram mortalidades de juvenis e larvas, as quais ficaram conhecidas pela expressão “o evento”, pois todos os produtores falavam do “evento de mortalidade” que ocorria em um dia determinado. Para muitos coincidia com o dia 28, para outros com o dia 30, outros com o dia 40, 90, ou o dia 100. Mesmo sem ter claro o panorama, o quadro abaixo foi um dos primeiros esquemas que se publicou no ano 2000, e de alguma forma auxiliou os técnicos e pesquisadores a entender e compreender a enfermidade de outra ótica, já que pouco a pouco a doença começou a ceder espaço.

O evento ocorria mais cedo se existisse um solo muito deteriorado, uma água de má qualidade e um povoamento com pós-larvas de qualidade duvidosa. Este era batizado como “O evento de mortalidade do dia 29”, mas que não ocorria em todas as fazendas no dia exato, mesmo naquelas que ficavam próximas. Contudo, havia algo bastante em comum, a primeira mortalidade era mais forte (50%-60%) que a segunda (20%-30%) e esses eventos se repetiam 40/50 dias após o primeiro surto.

 

Verdades

Os casos típicos comprovados de WSSV tinham uma característica importante, de que sempre havia uma repetição, tendo dois eventos de mortalidade mais ou menos fortes, entre os dias 30-40 e os dias 80-90.

O manejo do solo e a incansável série de produtos milagrosos foram uns dos itens mais explorados durante os surtos da mancha branca. O consumo de cal hidratada cresceu exponencialmente já que o solo era um dos parâmetros menos trabalhados, e onde se faziam grandes alterações com a aplicação dos probióticos com bactérias heterotróficas junto a bactérias autotróficas.

Ao estudarmos esta patologia com mais atenção, encontramos

que não tratava-se de uma enfermidade “biológica”, mas que é na verdade uma enfermidade “ecológica”

onde coexistem algumas variáveis de cultivo, e que só com o domínio destas variáveis se obtém êxito dos cultivo. Compreendida a razão, sabíamos agora porque é necessário conhecer com antecedência “Qual é o dia exato?”, “Como se ativa?”, perguntas básicas que podem se aplicar a esta ou qualquer outra patologia, pois conhecendo estes detalhes, é possível realizar um manejo diferenciado em cada um dos viveiros, convertendo-se na garantia de um cultivo exitoso.

O manejo diferenciado a cada tanque, significa o contrário de “manejo por protocolos” (exemplo; Ao dia X coloque tantos quilos de A; Ao dia Y coloque tantos quilos de B), uma vez que não existe somente uma variável, são várias variáveis que atuam e se mostram de formas diferentes na maioria dos casos, e o conjunto delas pode mostrar-se de diferentes formas.

Nossos produtores usaram muitos produtos do mercado, como ácidos orgânicos, antibióticos, vitaminas, enzimas, colesterol, etc, que eram incorporados nas rações e se converteram na receita conhecida como “O protocolo”, para atenuar o evento, quando na realidade, esta receita funcionava bem para combater outras patologias oportunistas do meio.

Esta fase de ensaios foi o tempo empregado para desenvolver estratégias ao bom manejo da enfermidade, que ao longo de vários anos (por volta de 10) atingiu o setor produtivo do país. Se fez, se provou, e se utilizou quase tudo que era conhecido para o mercado do camarão, e o que mais ajudou, foi a existência dos chamados “agentes ou parâmetros detonantes das mortalidades” e que a biologia de campo as denominou de “gatilhos”, que devem ser monitorados e corrigidos o mais breve possível, e que não há uma data certa, podem apresentar-se em qualquer momento do cultivo.

Outro produto usado com êxito foram os ácidos orgânicos, embora há muitos e de muitas marcas, sua ação se dava contra as bactérias oportunistas, patógenos típicos da doença. O segredo consistia em conhecer as porcentagens de pureza de cada elemento, já que quanto mais puro melhor a ação contra as bactérias.

Resgatando o melhor destas épocas, me permito sugerir algumas dicas que auxiliaram vários carcinicultores ao longo de nossa América Latina.

 

Dicas

O desenvolvimento de todas estas tecnologias se baseia principalmente no conhecimento de “QUE? COMO? E QUANDO?” se ativa a enfermidade e iniciam-se as mortalidades. Evita-las é a meta de todos os aquicultores e pesquisadores que a fazem atualizando seus conhecimentos técnicos, permitindo compreender e interpretar da melhor maneira a relação: água – camarão – solo.

A eficiência na produção após o vírus foi redesenhada com base no desenvolvimento e aplicação de novos e antigos métodos de cultivo:

1) O principal gatilho desta enfermidade é a qualidade da água. A correta interpretação das análises semanais permite conhecer como está se comportando o sistema. O parâmetro mais básico e mais viável economicamente chama-se “pH”, e deve ser medido as 06:00 e as 17:00h do mesmo dia.
2) A interpretação da alcalinidade, primeiro da maioria dos problemas chamados “eventos” ou “síndromes”, e portanto o principal indicador, possuí para cada fase de cultivo valores ideais: para a fase náuplio 100; misis 120; pós-larvas 140; para raceways 150 e para engorda 120 mg/L de CaCO3.
3) A utilização indicada para sistemas intensivos ou raceways, na fase inicial de povoamento é de 35/40 PL12/L, até 18 dias de cultivo, e a transferência de juvenis de 0,015 mg à engorda.
4) A utilização da densidade nos sistemas semi-intensivos para a engorda – fase final – 120.000 juvenis/ ha.
5) Utilização de sistemas de recirculação bem desenhados e calculados exatamente para as diferentes fases do sistema: decantar, estratificar, desgaseificar, suspender, e recondicionar a água usada.
6) O monitoramento da temperatura é muito importante, principalmente quando as oscilações entre as horas do dia e noite são maiores do que 5°C. O ideal é manter o cultivo por volta de 30°± 2°C, com a menor variação possível.
7) A utilização dos probióticos heterotróficos do tipo Lactobacillus sp, como alimento para ajudar contra as bactérias patogênicas.
8) Utilização dos Bacillus sp. para degradar a matéria orgânica dos sedimentos, acelerando o processo com a mistura das bactérias nitrificantes do tipo Nitrosomonas sp, Nitrobacter sp, Azotobacter sp, formando assim os “Consórcios Bacterianos remediadores do tipo nitrificantes”. Este grupo de bactérias aeróbicas, autotróficas e facultativas requerem a condição de estarem vivas no momento de serem aplicadas ao viveiro.
9) A mistura de 7/10 ppm de ácidos orgânicos na ração, resultou em uma técnica muito conhecida e aplicada no auxílio contra bactérias oportunistas do tipo Vibrio sp.
10) A utilização de métodos que permitam desenvolver naturalmente os carotenos como agentes estimuladores do sistema imunológico e dos carotenoides, como agentes estimuladores do crescimento, atingido através das diatomáceas com a correta fertilização dos tanques (18N:1P:0,1Si).
11) Melhores sobrevivências e melhores crescimentos no cultivo são apoiados com a adequada relação “Cálcio:Magnésio:Potássio”, e que a relação (1 – 3 – 1), não se aplica, porque a densidade de povoamento do Oceano Pacifico é muito diferente da densidade de povoamento de seu viveiro.
12) Com esta nova sequência de controles na produção aquícola, os cultivos de camarão foram muito beneficiados, marcando o início do êxito da indústria camaroeira latino- americana.
13) Realizar rotina semanal de verificação da sanidade de cada viveiro, priorizando: qualidade da água, análise da microbiologia, patologia, e ao final do cultivo análises de sedimentos básicos.
14) A Mancha Branca é uma enfermidade viral, portanto não existe antibiótico que controle ou elimine o vírus.
15) Tem relação direta com qualidade do solo + qualidade da água + qualidade da larva.
16) Obter o diagnostico no campo será muito mais fácil para determinar qual a ferramenta de controle utilizar, poder avalia-la diariamente se funciona ou não, e se devemos optar por outra alternativa de controle, conseguindo desta forma trabalhar sob uma trilogia bastante justa: Seguridade – Ordem – Rapidez.
17) Sugestão: nunca tratem de “curar” um problema, primeiro analisem qual é a causa desse problema, qual a origem desse problema, e trabalhando sobre essas respostas, seus diagnósticos serão sempre mais precisos.
18) Dado que: não existe os “eventos de mortalidade” por mancha branca, o que existe é: um parâmetro fora de controle, que não foi analisado em tempo suficiente para ser corrigido.

Informação do Autor: Jorge Chávez Rigaíl; Biólogo graduado na Universidade de Guayaquil, Facultad de Ciencias Naturales, 1985; Secretario geral da Fundação Sociedade Latino-americana de Aquicultura SLA; Autor de vários manuais sobre o critério biológico na interpretação de análises de qualidade de água; Patologia em fresco; Microbiologia de campo; Análises para determinar qualidade de pós-larvas; Preparação e massificação de probióticos heterotróficos. * “Não existe patologia alguma que não inicia-se de um desequilibro iónico do médio” J.Chávez R, 2005.

 

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