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01 de Outubro de 2016 Aquaculture Brasil
Cultivo de pepino do mar no Brasil – Uma alternativa para um cenário de incertezas

O cultivo de pepino do mar é considerada uma das atividades aquícolas que mais crescem no mundo. Atualmente, diversos países como Austrália, Canadá, China, Equador, Índia, Japão, Irã, México, USA, Arábia Saudita e Madagascar têm colocado o desenvolvimento de cultivo de pepinos do mar como área estratégica de seus investimentos (PURCELL et al., 2012).

O mercado asiático é o maior responsável pelos crescentes cultivos, devido ao alto consumo do pepino seco, conhecido como Beche de mer (Conand 2008; Purcell et al, 2012). De acordo com Purcell et al (2012) pepinos do mar de alta qualidade podem chegar a custar U$ 2.000,00 em lojas especializadas.

Diante deste mercado em potencial a equipe de pesquisadores do projeto pepino do mar (PEPMAR) iniciou em 2009 estudos no intuito de desenvolver o cultivo de pepinos do mar no Brasil. O primeiro grande desafio foi identificar populações nativas de pepinos do mar que pudessem apresentar potencial para a aquicultura.

Após uma intensa prospecção no litoral nordestino do Brasil, conduzida pela pesquisadora Clara Melo Coe do programa de Pós Graduação em Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará (PPGEP – UFC), foi possível identificar uma espécie conhecida como Holothuria grisea. Devido as suas características rústicas esta espécie apresenta potencial para desenvolvimento aquícola. Outro fato descoberto pela equipe durante a prospecção foi a identificação de áreas de pesca deste animais, que estão sendo comercializados de forma ilegal (Souza Junior et al, in press), algo totalmente novo para as estatísticas pesqueiras do Brasil. Em 2011 a estudante de graduação Márcia Santana, do curso de Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Ceará, desenvolveu protocolo de anestesia e transporte destes animais, processo este que viria a viabilizar a continuidade das pesquisas. De 2011 a 2015 diversos estudos foram conduzidos com o objetivo de fechar o ciclo reprodutivo da espécie e viabilizar o cultivo, afim de gerar uma nova alternativa para a aquicultura nacional.

 

 

Após uma série de falhas nas tentativas de reprodução da H. grisea a equipe do PEPMAR realizou uma visita técnica em 2012 aos cultivos da espécie Holothuria scabra em Madagascar com o objetivo de importar tecnologia para desenvolvimento da espécie nacional.

Ainda em 2012 uma tese de doutorado realizada pela pesquisadora Liliane Veras Leite, do programa de Pós-graduação da Rede Nacional de Biotecnologia (RENORBIO), da Universidade Estadual do Ceará, teve como objetivo caracterizar e fechar o ciclo reprodutivo do pepino do mar H. grisea. Após intensos testes e trocas de informações com pesquisadores de outros países (Canadá, Bélgica, Itália e Madagascar) se obteve a primeira desova deste animal em cativeiro. Este resultado foi obtido apenas seis meses após a visita dos cultivos em Madagascar. O primeiro ciclo reprodutivo foi fechado em 45 dias. Após uma série de mudanças estruturais e nos protocolos, a pesquisadora Daniele Marques (PPGEP – UFC) reduziu o tempo de desenvolvimento larval para 17 dias, estando equivalente ao de outras espécies de pepinos cultivados ao redor do mundo. Esta redução permitiu a equipe do projeto obter até oito induções por ano, garantindo produção de juvenis para continuidade das pesquisas.

 

Produção de juvenis

Já em 2014, estudos com diferentes tipos de alimento foram desenvolvidos para se obter o melhor resultado de crescimento dos animais. O pesquisador Fernando Luís (PPGEP – UFC), desenvolveu uma dissertação na qual diferentes tipos de alimentos como biomassa de zooplâncton, substrato de cultivo de peixes e camarões foram testados para verificar a preferência alimentar. Para o desenvolvimento destes estudos foi utilizado a metodologia do aquário em Y, amplamente difundida para testes com camarões, mas nunca utilizada para equinodermatas.

Os testes de alimentação desenvolvidos pela equipe mostraram crescimento de 0,04 g dia-1. Esta taxa é considerada baixa quando comparada a outras espécies (BATTAGLENE et al., 1999; PITT et al., 2001; LAVITRA et al., 2010; WATANABE et al., 2012; ROBINSON et al., 2013). Entretanto, devido ao baixo custo de produção do alimento e de manutenção do sistema de cultivo, ainda pode se considerar viável.

Ainda em 2014 o professor Oscar Pacheco do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará em conjunto com o pesquisador Souza Junior montaram o primeiro sistema de recirculação de água (RAS) para cultivo de pepinos do mar no Brasil. O RAS de oito toneladas comportava até 2.000 juvenis. Este sistema permitiu a manutenção dos animais para posterior fornecimento às pesquisas.
Paralelo aos estudos de desenvolvimento do cultivo, pesquisas de bioprospecção biotecnológica com estes animais foram conduzidas pelo pesquisador Alberto Gomes Araújo que conseguiu isolar aproximadamente 400 estirpes de bactérias do pepino do mar.

Em 2015, o pesquisador responsável pelo projeto PEPMAR, Souza Junior, realizou uma série de estudos de viabilidade de implantação da primeira fazenda de pepino do mar do Brasil. Como resultado se obteve que o Nordeste do Brasil apresenta as melhores características ambientais. O fato dos pepinos serem animais detritívoros se apresenta como uma vantagem em seu cultivo, pois podem ser adicionados facilmente em cultivos consorciados com ostras, peixes e camarões, promovendo assim a limpeza de todo o sistema de cultivo. Ainda em 2015, o pesquisador Souza Junior, foi convidado pela FAO para participar de uma conferência em Merida – México onde foram discutidos processos de cultivos de pepinos do mar.

 

Perspectivas

Para os anos 2016 e 2017 o objetivo do projeto PEPMAR é escalonar o cultivo de pepino do mar para desenvolvimento de estudos de viabilidade técnica e econômica, para isto, importantes parcerias estão sendo construídas.

O desenvolvimento do cultivo de uma nova espécie, rústica e com mercado aquecido surge como possível solução para reverter o cenário atual da aquicultura nacional, onde as principais espécies, tilápia e camarão, estão sofrendo declínios na sua produção devido a seca e a doenças. Por se tratar de uma produção de baixo custo, visto que não se utiliza ração comercial, estes animais podem ser produzidos em fazendas de camarões que estão sofrendo com as doenças infecciosas como mancha branca, se tornando assim uma alternativa para estes produtores que não conseguem mais obter lucros justificáveis com o camarão. Entretanto, não se sabe ainda se estas doenças podem infectar outros animais como equinodermatas.

 

Autores: José de Souza Junior*, Liliane Veras Leite, Daniele Ferreira Marques, Clara Melo Coe, Márcia Darlene Santana, Alberto Gomes Araújo, Fernando Luís Batista dos Santos, Oscar Pacheco Passos Neto, Carminda Brito Salmito-Vanderley, Wladimir Ronald Lobo Farias.
Departamento de Engenharia de Pesca, Universidade Federal do Ceará
*jr_pescaufc@yahoo.com.br.

 

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