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01 de Outubro de 2016 Aquaculture Brasil
Aspectos Nutricionais da Artemia (Artemia sp.) – Novos Horizontes

O crescimento exponencial da população mundial nas últimas décadas desencadeou uma busca frenética por fontes de alimentos alternativos capazes de suprir a nova demanda. Nesse contexto, a proteína de origem animal pode suprir com maior facilidade os requerimentos proteicos de animais e seres humanos do que a proteína de origem vegetal. No entanto, o consumo de farinhas de carne, peixe, sangue ou vísceras enfrenta barreiras sanitárias para a sua utilização na alimentação animal, enquanto o consumo de produtos cárneos por seres humanos pode estar associado a diversos fatores, como poder aquisitivo da população, restrições ideológicas ou religiosas, riscos cardiovasculares, carga microbiana, dentre outros.

A artemia, um crustáceo que habita ambientes salinos, em seus diferentes estágios – cistos, náuplios recém-eclodidos e biomassa da artêmia adulta – livre de contaminação por microrganismos patógenos e amplamente distribuídos em todo mundo, pode ser uma alternativa como fonte de alimento proteico tanto para organismos aquáticos, como para os humanos.

 

 

Propriedades Nutricionais

Os estágios da artemia comumente destinados à alimentação são os naúplios recém-eclodidos, fase de desenvolvimento ou adulta. Pesquisadores fazem uso destas fontes para a realização de análises químico-energéticas, onde os resultados (Tabela 1) podem integrar tabelas de composição de alimentos, auxiliando a formulação de rações e dietas alternativas. O perfil de aminoácidos existente no farelo da artemia vem sendo determinado em diversas regiões do mundo (Aragão et al., 2004) como tentativa de subsidiar formulações de dietas à base deste alimento ou a produção de suplementos aminoacídicos. García et al. (2011) comparou a composição centesimal (Tabela 2) de náuplios recém-eclodidos e suas diferentes preparações dos cistos após 85 minutos de hidratação durante o tempo de descapsulação (cistos frescos) ou reidratação antes de serem oferecidos às larvas (água salgada e cistos secos).

 

Uso na aquicultura

A artemia é uma excelente fonte de alimento vivo na larvicultura de crustáceos e peixes. Ambos náuplios e adultos têm a grande vantagem de satisfazer as exigências nutricionais de diversas espécies aquáticas (Sorgeloos, 1980; Léger et al.,1986; Sorgeloos et al., 1998, 2001). Comparado com náuplios recém-eclodidos, o valor nutricional da artemia adulta é superior, uma vez que têm maior teor de proteína e são mais ricas em aminoácidos essenciais (Bengtson et al., 1991; Naessens et al., 1997; Lim et al., 2001; Anh et al., 2009). Além disso, a biomassa de artemia parece conter substâncias hormonais e tem sido incluída em dietas de maturação que fornecem benefícios adicionais, tais como indução e reforço da maturação sexual, e aumento das taxas de fertilização em peixes e camarões (Naessens et al., 1997; Wouter et al., 2002; Gandy et al., 2007; Anh et al., 2009).

No entanto, o valor nutricional da biomassa de artemia não é constante, mas varia geográfica e temporalmente (Léger et al., 1986; Sorgeloos et al., 1998). No entanto, atualmente, um gargalo na criação de peixes é a deficiência natural em ácidos graxos essenciais (EFA) de presas vivas, como rotíferos e náuplios de artemia, comumente utilizados na larvicultura de peixes e crustáceos marinhos (Conceição et al., 2010; Boglino et al., 2012). No cultivo de camarões a artemia é geralmente utilizada para a alimentação dos estágios de larva e pós-larva, onde naúplios recém-eclodidos são oferecidos no início da fase de mísis e zoea (Van Stappen, 1996), sendo também fonte de alimento para peixes. A sua fase adulta pode ser utilizada viva ou congelada para espécies de peixes ornamentais, enquanto os cistos são incubados para serem fornecidos sob a forma de náuplios. A literatura não reporta alterações no valor nutricional existente entre estas duas formas de utilização da fase adulta, no entanto a inclusão destes organismos vivos dentro de aquários ou tanques diminui o nível de partículas poluidoras flutuantes e estimula o comportamento predatório dos peixes (Ortega, 2000).

 

Uso na nutrição humana

A proteína de origem animal pode suprir com maior facilidade os requerimentos proteicos de seres humanos do que a proteína de origem vegetal. Este fato pode ser explicado pela alta digestibilidade da proteína encontrada em produtos cárneos quando comparada com vegetais e cereais, pois normalmente a proteína constituinte destes últimos alimentos pode estar acompanhada de polissacarídeos-não-amiláceos, fatores antinutricionais ou fibra de baixa qualidade, que aumentam a velocidade da digestão pelo trato gastrointestinal tornando este e outros nutrientes menos disponíveis (Arruda et al., 2008). Por outro lado, o consumo de carne pode estar associado a diversos fatores como: poder aquisitivo da população, restrições ideológicas ou religiosas, riscos cardiovasculares, carga microbiana dentre outros. A busca por uma proteína de qualidade e de baixo custo motiva a pesquisa por fontes alternativas deste nutriente. Desta forma, a artemia surge como uma potencial fonte exclusiva de proteína (Tabelas 1 e 2) ou como uma fonte de suplementação aminoacídica (Tabela 1), já que os aminoácidos não sintetizados pelo organismo humano (Tabela 3) podem ser encontrados neste crustáceo de ampla distribuição mundial.

Outro fator a ser considerado a respeito da inclusão de artemia na alimentação humana refere-se à presença de vitaminas antioxidantes em sua composição. As recomendações de ingestão dietética de referência são estabelecidas para a prevenção de deficiências nutricionais, não se levando em consideração a possibilidade de redução dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas. A melhora de defesa antioxidante pode não ser capaz de proteger completamente o indivíduo, podendo provocar alterações no sistema imunomodulatório que levam a inflamação e alterações de tecidos (Peluzio et al., 2010). Stults (1974) avaliou cistos de artemia e encontrou altos níveis de Tiamina (7,13 μg/g), Niacina (108,68 μg/g), Riboflavina (23,15 μg/g) e Retinol (10,48 μg/g) ambas vitaminas ou compostos precursores capazes de desencadear uma reação de antioxidação no organismo humano.

Historicamente surgem evidências que a artemia já foi parte integrante da alimentação de nativos da Líbia e tribos de índios na Califórnia (Asem, 2008), verificou-se também no Vietnã que as pessoas que cultivavam o crustáceo incorporaram a biomassa em sua dieta habitual (Mot, 1984), e na Tailândia receitas orientais contendo a biomassa da artemia tiveram grande aceitação pelos consumidores locais (Zarei et al., 2006). Embora existam informações nutricionais sobre a artemia, muito pouco foi estudado sobre a sua utilização para a nutrição humana, devendo ainda haver mais pesquisas que fundamentem a sua viabilidade para esta espécie.

 

Considerações finais

A artemia é um crustáceo que possui fundamental importância biológica em seu habitat por ser capaz de reduzir partículas poluidoras flutuantes, sobreviver em altas salinidades e desencadear comportamento predatório em organismos aquáticos como alimento vivo, além de desempenhar importante papel em pesquisas nas áreas de biologia molecular, ecologia, toxicologia, fisiologia e genética.

A presença de nutrientes indispensáveis para o metabolismo basal de animais e humanos, como aminoácidos, minerais e vitaminas, possibilita a sua utilização como uma fonte de alimento para estas espécies. Em um futuro próximo, sugere-se pesquisas focadas nesta matéria prima, que podem resultar em políticas de incentivo ao seu emprego como fonte proteica para humanos em países em desenvolvimento.

 

Autores: Rogério Taygra Vasconcelos Fernandes¹ & Alex Augusto Gonçalves²*
Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCAN), Departamento de Ciências Animais (DCAN), Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
¹ Doutorando (PPGCA/UFERSA) – rogerio.taygra@ufersa.edu.br
² Professor Tecnologia, Inspeção e Controle de Qualidade do Pescado (PPGCA/UFERSA), Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC/DCAN/UFERSA)
*alaugo@gmail.com

 

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