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Cultivo de Peixes
19 de Outubro de 2023 Aquaculture Brasil
ANESTESIA EM PEIXES: ÓLEOS ESSENCIAIS, UMA ALTERNATIVA AOS ANESTÉSICOS QUÍMICOS

 

 

Condições de manejos habituais realizados em peixes, como por exemplo, biometrias, transporte e coletas de sangue, podem desencadear uma série de respostas de estresse (Barton, 2002; Gullian & Villanueva, 2009). O estresse em peixes pode ser definido como uma resposta fisiológica e comportamental a estímulos ambientais que são percebidos como ameaçadores ou desafiadores. Esse estado pode ter efeitos negativos sobre a saúde e bem-estar dos peixes, incluindo a redução da imunidade, crescimento e reprodução, bem como aumentar o risco de doenças (Barton, 2002).

Assim, com o objetivo de mitigar os efeitos negativos do estresse, tem- -se recorrido a utilização de anestésicos no manejo de peixes (Gomulka et al., 2015; Uehara et al., 2019).

Desenvolvimento

Um anestésico é considerado eficaz quando, em concentrações adequadas, minimiza os efeitos deletérios desencadeados pelos fatores estressantes (Roohi; Imanpoor, 2015).

Um bom anestésico não deve desencadear efeitos fisiológicos duradouros nos peixes, bem como deve possuir uma rápida depuração (Coyle et al.,2004). Há uma variedade de anestésicos e técnicas para utilização em peixes, dentre esses encontram-se os agentes físicos, como eletricidade e hipotermia, e agentes químicos, como benzocaína, tricaína metanosulfonato (MS-222), 2-fenoxietanol, propofol e óleos essenciais.

A utilização de óleos essenciais nos procedimentos anestésicos em peixes tem-se apresentado como uma alternativa promissora aos químicos tradicionais, são menos tóxicos, têm menor impacto ambiental (Parodi et al., 2014) e fornecem vantagens como redução do estresse e dor no animal.

A pesquisa tem mostrado que os óleos essenciais como cravo-da-índia (Eugenia caryophyllata), eucalipto (Eucaliptus globulus) e hortelã-pimenta (Mentha piperita) podem ser usados como anestésicos em diferentes espécies de peixes (Hashimoto et al., 2016; Silva et al., 2012; da Silva et al. 2019).

O óleo de cravo é amplamente utilizado como anestésico em peixes, incluindo tilápia (Oreochromis niloticus), carpa (Cyprinus carpio) e bagre (Rhamdia quelen) (Javahery et. al. 2012). Raina et al. (2001), descreve que o eugenol, composto extraído das folhas do cravo-da-índia, pode representar 95% do óleo extraído.

De acordo com Anderson et al. (1997), o eugenol é um agente anestésico que atua no sistema nervoso central do peixe, induzindo um estado de sedação e inconsciência. Considerado uma substância segura para utilização como anestésico em peixes, é rapidamente absorvido e metabolizado (Fischer et al., 1990; Mitjana et. al., 2018).

Spanghero et al. (2019) descreveram que uma concentração de 80mg L−1 do óleo essencial de hortelã-pimenta (Mentha piperita) é recomendada para induzir anestesia profunda em juvenis de jundiás (Rhamdia quelen). Can e Sümer (2019), observaram que o óleo essencial de Mentha piperita, em uma concentração de 100 µL L−1 é suficiente para promover anestesia profunda no golfinho-azul (Cyrtocara moorii).

Entretanto, Metin et al. (2015) constataram que o óleo essencial de hortelã (Menta piperita) em uma concentração de 200 mg L−1 tem apenas um leve efeito anestésico em Onchorhychus mykiss. O óleo essencial de Mentha spicata pode anestesiar carpas comuns (Cyprinus carpio) em concentração entre 3 e 7 mL L−1 (Roohi; Imanpoor, 2015). Por outro lado, Pedrazzani e Neto (2016) utilizando o óleo essencial de Menta arvensis observaram anestesia em peixes palhaço (Amphiprion ocellarisa) em concentrações de 50 à 100 μL L−1.

Benovit et al. (2012) descreveram que diferentes concentrações de óleo essencial de Ocimum gratissimum podem anestesiar Paralichthys orbignyanus, sendo que as concentrações 50, 70 e 100 mg L-1 são capazes de promover anestesia cirúrgica. Da Silva et al. (2019) relatam que apenas concentrações inferiores a 60 μL L−1 do óleo essencial de O. gratissimum foram consideradas adequadas para utilização em A. bimaculatus. Ribeiro et al. (2016) relatou que Matrinxãs (Brycon amazonicus) expostas à concentração de 60 mg L−1 de óleo essencial de O. gratissimum por 10 minutos, tiveram aumento dos níveis de glicose plasmática, não prevenindo o aumento dos níveis de lactato plasmático. Consequentemente, verifica-se que mesmo sendo o eugenol um dos constituintes majoritários deste óleo essencial, a eficácia deste para redução do estresse é espécie específico (De Freitas Souza et. al, 2019).

Outro óleo essencial utilizado na rotina de anestesias em peixes é o óleo essencial de manjericão (Ocimum basilicum), para o qual Yigit et al. (2022) descreveram que a concentração ideal para promover anestesia em trutas-arco-íris (Oncorhynchus mykiss) é de 300 mg L−1. Ventura et al. (2021) constataram que o óleo essencial de O. basilicum na concentração de 1000 μL L−1 pode ser utilizado seguramente como anestésico e sedativo para tambaquis (C. macropomum), minimizando o estresse associado à manipulação na aquicultura.

A utilização do óleo essencial de alfavaca (Ocimum americanum) como anestésico em Rhamdia quelen preveniu o aumento de cortisol plasmático e perda de Na+ (sódio) (SILVA et al., 2015).

 

 

A anestesia de Rhamdia quelen com óleo essencial de Lippia alba preveniu o aumento do cortisol plasmático, quando expostos ao ar para realização de biometria (Cunha et al., 2010; Souza et al., 2019). Cunha et al., (2010), relatou que o óleo de L. alba em uma concentração de 100-500 mg L-1 induz a anestesia entre 1,3 - 16,3 min em R. quelen, entretanto, concentrações de 300-500 mg L-1 devem ser utilizadas para anestesia rápida.

Souza et al. (2019) enfatizou que o uso do óleo essencial de L. alba, quimiotipo linalol, como um anestésico é efetivo e seguro, considerando um anestésico ideal para R. quelen. Espécimes tratados com óleo essencial de Lippia alba (quimiotipo linalol) antes do transporte, em uma concentração de 200ml L-1 por 3 minutos, e transportados por 6 horas em uma concentração de 30 ou 40 ml L-1, apresentaram redução significativa da catalase hepática, glutationa-S-transferase, glutationa peroxidase e níveis de ácido ascórbico (Salbego et al., 2014).

De acordo com Saccol et al. (2017), os óleos essenciais de Myrcia sylvatica e Curcuma longa, nas concentrações de 300 μL L−1 e 200–500 μL L−1 respectivamente, anestesiaram matrinxã (Brycon amazonicus) e reduziram os níveis plasmáticos de cortisol em comparação com o grupo controle.

Da Silva et al. (2021) demonstrou que a concentração de 700 μL L−1 de óleo essencial de Eucaliptus globulus foi capaz de induzir anestesia em R. quelen. Entretanto Yigit et al. (2022), verificou que a concentração ideal de óleo essencial de eucalipto para desencadear anestesia em trutas-arco-íris (Oncorhynchus mykiss) é de 400 mg L−1.

As diferenças de concentrações utilizadas para promover a anestesia em peixes, de óleos essenciais derivados das mesmas plantas apresentadas em diferentes literaturas, podem ser explicadas, pelas variações da espécie e idade dos peixes (Summerfelt & Smith, 1990; Woody et. al., 2002), como a eficácia do óleo essencial de L. alba com quimiotipo linalol que, de acordo com de Freitas Souza et al. (2019), pode variar com diferentes espécies de peixes. Embora a utilização dos óleos essenciais apresente uma série de vantagens, é importante lembrar que devem ser utilizados com cautela. É necessário estudar mais a fundo os efeitos no uso de óleos essenciais sobre a fisiologia nas diferentes espécies de peixes, bem como determinar as doses seguras e eficazes para a anestesia (Pereira et. al., 2021).

 

 

Conclusão

A anestesia em peixes é uma ferramenta fundamental para a realização de procedimentos médicos e hospitalares em aquicultura e pesquisa. Embora existam vários agentes anestésicos disponíveis, a escolha do agente mais apropriado deve levar em consideração a espécie de peixe, o tamanho do animal, o tipo de procedimento a ser realizado e a segurança do operador.

Autores:

Jean Carlos Deschamps¹, Gabriel Tobias Deschamps¹, Eduardo da Silva¹ e Robilson Antônio Weber¹

1 Laboratório de Aquicultura Instituto Federal Catarinense - IFC Campus Araquari, SC jeancarlosdeschamps91@gmail.com

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