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Cultivo de Camarões
16 de Julho de 2023 Aquaculture Brasil
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO DIETÉTICA DE microalga SOBRE A RESISTÊNCIA DE CAMARÕES-BRANCOS-DO-PACÍFICO AO ESTRESSE TÉRMICO E AO DESAFIO COM VÍRUS-DA-MACHA-BRANCA

 

 

 

 

A doença da mancha branca (WSD) é, historicamente, a enfermidade mais devastadora na indústria do camarão. Devido sua capacidade de ocasionar até 100% de mortalidade em poucos dias (Li, Weng e He, 2019), já acarretou perdas globais superiores a US$ 3 bilhões ao ano (Millard et al., 2021). O aparecimento desses surtos está cada vez mais correlacionado a mudanças nas condições ambientais, que podem desencadear estresse fisiológico e, assim, comprometer a capacidade dos camarões em resistir a doenças (Millard et al., 2021).

As regiões subtropicais apresentam maiores oscilações térmicas, especialmente durante o outono, inverno e primavera que, por sua vez, estão correlacionadas diretamente com o aparecimento de enfermidades. Sob temperaturas baixas, os camarões apresentam uma série de alterações metabólicas e fisiológicas, danosas a manutenção da homeostase corporal (Fan et al., 2016; He et al., 2018; Liu et al., 2019), como a redução da fluidez de membrana, perda da integridade de proteínas, mau funcionamento da respiração celular, estresse oxidativo e várias outras alterações no seu metabolismo (Hayward; Manso; Cossins, 2014), dificultando a resposta imune frente à infecção por agentes patogênicos.

Devido à baixa tolerância dos camarões-brancos-do-pacífico ao frio, o uso de ingredientes bioativos naturais pode ser uma alternativa mais saudável e segura na busca de soluções para incrementar a resposta imune e a resistência ao estresse térmico destes animais (Abdel-Rahim et al., 2021; Shah et al., 2018). Neste contexto, as microalgas apresentam-se como uma alternativa bastante promissora e sustentável (Chauton et al., 2015), já fazendo parte da cadeia alimentar dos camarões no ambiente marinho (Turchini; Torstensen; Ng, 2009), e sendo uma rica fonte de lipídeos e proteínas (Nagappan et al., 2021).

Dentre as microalgas marinhas, as do gênero Aurantiochytrium sp. destacam-se pelo seu rápido crescimento, sendo uma rica fonte de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (LC-PUFA), em especial de ácido docosahexaenóico (DHA) (Marchan et al., 2018). Como os camarões peneídeos possuem uma capacidade limitada de sintetizar esses ácidos graxos, são dependentes da oferta dietética, de modo que quando alimentados com dietas contendo estes ácidos graxos, estes animais apresentam uma melhora na resistência ao estresse e na defesa imunológica (Mercier et al., 2009). O incremento de LC-PUFA na dieta, pode aumentar os níveis de insaturação dos ácidos graxos nos fosfolipídios que compõem suas membranas celulares, melhorando a fluidez das membranas e facilitando o transporte de nutrientes (Chowanski et al., 2015), configurando um importante mecanismo na resistência ao frio.

Desta forma, acreditamos que a suplementação dos camarões com Aurantiochytrium sp. criados sob temperatura subótima (22°C) possa induzir uma melhora na sobrevivência dos camarões frente a WSD e ao estresse térmico.

Material e métodos

A primeira etapa do experimento ocorreu no Laboratório de Camarões Marinhos (LCM/UFSC). Os camarões (peso inicial ±3 g) foram alojados em 15 tanques de 400 L (Figura 1), e criados por 63 dias sob temperatura subótima (22°C), a qual foi mantida com o auxílio de aclimatadores de ar, trocador de calor e aquecedores de titânio. O cultivo experimental foi sob delineamento inteiramente ao acaso com cinco tratamentos e três repetições, sendo os tratamentos compostos da seguinte forma: uma dieta controle (T0) e quatro com diferentes porcentagens de inclusão da microalga Aurantiochytrium sp.: 1% (T1); 2% (T2); 3% (T3) e 4% (T4). As dietas foram formuladas respeitando as exigências do camarão-branco-do- -pacífico. na segunda etapa os animais foram transferidos para o Laboratório de Aquicultura (LAq/IFC), Araquari-SC (Figura 2), onde foram alocados em tanques com volume útil de 50 L (10 animais/tanque). Após 48 h aclimatação, foi realizada a infecção via oral com inóculo do vírus da síndrome da mancha branca (WSSV), sendo a carga viral inoculada de 2,6x106 por grama de animal. Como controle negativo (CN) da infecção viral, um grupo de animais foram inoculados com inóculo livre do WSSV, e submetido apenas ao estresse térmico.

 

 

O desafio do estresse térmico foi realizado de forma concomitante ao desafio da infecção viral. Após 4,5 dias (108 h) da inoculação viral sob temperatura de 22°C, a temperatura da água dos tanques foi elevada para 28°C durante 12 h (0,5°C h 1). Os animais foram mantidos sob a temperatura de 28°C por mais dois dias (48 h), totalizando sete dias de bioensaio de desafio viral associada ao estresse térmico.

O desafio do estresse térmico foi realizado com o intuito de replicar as variações de temperatura que ocorrem em regiões subtropicais, em particular, no final da primavera e início do verão. O controle da temperatura durante o bioensaio foi realizado com auxílio de condicionadores de ar com aquecimento e de aquecedores acoplados a um sistema de termostatos (Figura 3). O monitoramento da mortalidade foi realizado a cada 3 horas durante os sete dias de bioensaio.

 

Resultados

Durante o experimento todos os parâmetros de qualidade de água apresentaram-se dentro dos padrões apropriados a espécie e fase de cultivo de acordo com Van Wyk e Scarpa (1999), sem diferença significativa entre os tratamentos. A tabela 1 apresenta a mortalidade acumulada durante todo o desafio com o WSSV associado com estresse térmico nos diferentes tratamentos, durante as fases de temperatura subótima (22°C), na fase de incremento térmico, na fase de temperatura de 28 °C e a mortalidade acumulada ao final do desafio. Ao final do desafio, os animais do T4 apresentaram as menores mortalidades em relação aos demais tratamentos, com 36,67% de mortalidade, demonstrando a eficiência da incorporação da microalga na dieta. O tratamento não suplementado apresentou a pior resistência ao desafio viral associado ao estresse térmico, apresentando a maior mortalidade total (61,7%) e durante a fase sob temperatura de 22 °C (40,8%), e a terceira maior mortalidade durante a fase sob temperatura de 28 °C (20,83%). A variação térmica isoladamente não foi capaz de ocasionar nenhuma mortalidade, conforme observado no tratamento CN (sem infecção WSSV). Ao analisar a figura 4, pode-se observar com maior clareza o padrão de mortalidade dos tratamentos durante o desafio. Durante a fase de temperatura 22°C todos os tratamentos com inclusão da microalga apresentaram menor mortalidade, especialmente o T3. Em contrapartida, este tratamento foi o que apresentou maior mortalidade após o estresse térmico.

 

 

 

Conclusão

A suplementação de 4% da microalga Aurantiochytrium sp. resultou em menor mortalidade dos camarões ao longo do desafio viral associado ao estresse térmico. Em temperatura baixa (22°C), a suplementação com a microalga, em particular os níveis 3% e 4%, aumentou a resistência dos animais à infecção viral, demonstrando um grande potencial para uso em períodos de temperaturas amenas em regiões subtropicais. No entanto, futuros estudos devem ser realizados para elucidar seus efeitos em diferentes faixas de temperatura.

 

Autores: Alex Silva Marquezi1 , Flávia Banderó Höffling², Sabrina Dolzan³, Maria Eduarda da Costa3 , Maria Eduarda de Souza Henriques3 , Beatris Rosalina Michels1 , Robilson Antônio Weber1 , Artur de Lima Preto1 , Artur Rombenso4 , Felipe do Nascimento Vieira5 e Delano Dias Schleder1

1 Programa de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal Instituto Federal Catarinense - IFC Araquari, SC delano.schleder@ifc.edu.br

 2 Programa de Pós-graduação em Aquicultura Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianópolis, SC

 3 Curso de Medicina Veterinária Instituto Federal Catarinense - IFC Araquari, SC

 4 Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation - CSIRO Brisbane, Australia

 5 Laboratório de Camarões Marinhos - LCM Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianópolis, SC

 

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