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19 de Março de 2023 Aquaculture Brasil
AQUICULTURA MULTITRÓFICA INTEGRADA: UMA TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

 

 

 

 

 

A aquicultura mundial vem crescendo nas últimas décadas, devido ao aumento da população, maior consumo de pescado e estagnação da captura de pescados. Os sistemas de cultivo mais utilizados são o de monocultivo, onde somente uma espécie alvo é cultivada, seja ela peixe, crustáceo, molusco ou alga (macro e microalga).

No monocultivo a espécie cultivada é normalmente alimentada (exceção de moluscos bivalves e algas) com ração. Contudo, a retenção de nutrientes pela espécie alvo é normalmente baixa (aproximadamente 25 % no caso do nitrogênio, por exemplo). Os excedentes são degradados dentro do tanque de cultivo, gerando impacto no ambiente ao longo da produção devido a formação de compostos tóxicos como amônia e nitrito. Para manutenção da qualidade de água, normalmente trocas são realizadas, sendo que se este efluente não tiver um tratamento adequando, pode causar impactos ambientais negativos. Adicionalmente, existe uma questão econômica, pois a ração representa certa de 70% do custo de produção. Se somente uma parte dos nutrientes da dieta são aproveitados pelos animais, significa que a maior parte do recurso gasto em ração está sendo desperdiçado. Este “desperdício” de ração nos monocultivos pode ocasionar ainda outros gastos, com biorremediadores, aumento do consumo energético (mais aeradores) para degradar o excedente de matéria orgânica, além de poder comprometer o equilíbrio do ambiente, o tornando mais susceptível a enfermidades.

No monocultivo a espécie cultivada é normalmente alimentada com ração. Contudo, a retenção de nutrientes normalmente é baixa.

Sendo assim, a utilização tecnologias que viabilizem o aumento na produção com sustentabilidade são essenciais para suprir a oferta de pescado frente à crescente demanda de alimento. Existe a necessidade de buscar tecnologias que permitam equilíbrio entre produção e impactos ambientais das atividades aquícolas, com uso de tecnologias que visam a sustentabilidade e minimizam os impactos gerados pelos efluentes da produção, reduzindo o consumo dos recursos hídricos. Entre os sistemas que vem sendo desenvolvidos, está a Aquicultura Multitrófica Integrada (AMTI).

O conceito de Aquicultura Multitrófica Integrada (AMTI) vem das interações que ocorrem no ambiente natural, assim, consiste em um sistema onde os rejeitos do cultivo de uma espécie são reciclados para converter-se em aportes (fertilizantes ou alimentos) para outras espécies (CHOPIN et al., 2001). A alimentação artificial é combinada com a aquicultura vegetal (macroalgas, microalgas e plantas), ou combinada com outras espécies de peixes ou moluscos para criar sistemas balanceados para a sustentabilidade ambiental (biomitigação) assim como a estabilidade econômica pela diversificação de produtos e redução de riscos (CHOPIN et al., 2001).

 

 

 

 

 

O modelo mais conhecido da aquicultura multitrófica integrada é formado pelo cultivo de salmão em gaiolas flutuante onde são alimentados e os rejeitos desse cultivo, que representa a parte orgânica, são carregados pelas correntes marinhas e consumidos pelos mexilhões, e pôr fim, a parte inorgânica é consumida pelas macroalgas (Figura 1).

A ideia central do sistema é relacionada principalmente como uma forma de mitigação aos excessos de nutrientes e matéria orgânica inserida na aquicultura intensiva. O conceito de AMTI surge das observações das interações que ocorrem no ambiente natural e foram reproduzidas na aquicultura, onde, os rejeitos orgânicos e inorgânicos do cultivo de uma espécie são utilizados como fertilizantes ou alimentos para outras espécies. Nesse sistema utiliza-se de espécies de níveis tróficos ou nutricionais diferentes em um mesmo ambiente ou próxima da outra partilhando da mesma água. O que difere o AMTI do policultivo é a capacidade de reciclar os nutrientes, enquanto no policultuvo se combina espécies com exigências (ambientais, como: temperatura, pH e oxigênio dissolvido) semelhantes, na aquicultura multitrófica há um planejamento para a otimização do uso destes nutrientes, o que o torna mais sustentável que sistemas convencionais.

O sistema AMTI é relatado como ambientalmente amigável quando comparado aos sistemas tradicionais de monocultivo pois permitir reduzir os efluentes (concentração e volume) quando integramos várias espécies em um único tanque ou em tanques diferentes partilhando da mesma água. Por exemplo, os resíduos provenientes da degradação do alimento não consumido ou fezes na produção de bijupirá pode ser consumido, a parte orgânica por moluscos e a inorgânica por algas. Pode-se ainda utilizar animais de fundo, como o pepino-do-mar, para aproveitar os sedimentos. Como resultado, se reduz os efluentes ao final do ciclo produtivo e aumenta a diversidade e a capacidade de produção. Onde inicialmente iria se produzir uma única espécie, são produzidas várias com o mesmo aporte de nutrientes, aumentando a eficiência do sistema.

O sistema AMTI pode ser desenvolvido nos mais diversos ambientes, em terra como tanques escavados, mar aberto ou de água doce. Pode ser formado pelas mais diversas combinações de espécies, como peixes, moluscos, crustáceos, macroalgas, equinodermos e vegetais. O que é essencial no momento de escolher as espécies que vão integrar o sistema AMTI, é selecionar animais e/ou vegetais adaptados ao ambiente de cultivo, existência de um pacote tecnológico, nível ecológico e principalmente espécies que vão consumir os efluentes orgânicos e inorgânicos da espécie principal e que haja um valor ou potencial econômico. Adicionalmente, conceitos de economia circular podem ser incorporados, onde parte do que é produzido (como macroalgas por exemplo) podem ser incorporados a ração dos camarões e peixes, melhorando a qualidade nutricional das dietas.

 

 

 

 

 

 

O AMTI ainda tem um caminho longo a percorrer antes de sua adoção em larga escala no Brasil e no mundo. Acreditamos que o desenvolvimento de pesquisas em instituições públicas pode alavancar este desenvolvimento, auxiliando o crescimento da aquicultura de forma sustentável, assim como garantindo a formação de recursos humanos para atuarem com esta nova tecnologia.

 

Autores: Ana Paula Morais¹, Vanessa Bertoldo Martins², Felipe do Nascimento Vieira¹ e Adolfo Jatobá²

¹Programa de Pós-Graduação em Aquicultura Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (FAPESC/2020TR728) Florianópolis, SC

2 Pós-graduação em Produção e Sanidade Animal Instituto Federal Catarinense - IFC Campus Araquari, SC (FAPESC / 2021TR000638) *jatobaadolfo@gmail.com

 

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