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06 de Outubro de 2022 Aquaculture Brasil
DADOS ESTATÍSTICOS DA PRODUÇÃO DA MACROALGA Kappaphycus alvarezii EM SANTA CATARINA, SAFRA 2021/2022

Os cultivos comerciais da macroalga Kappaphycus alvarezii em Santa Catarina, foram autorizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), desde o extremo Norte do Estado, no município de Itapoá, até o extremo Sul do Estado, no município de Jaguaruna, através da Instrução Normativa IBAMA No 1, de 21 de janeiro de 2020 (BRASIL, 2020). No mesmo ano, a Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) do Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento (MAPA), publicou a Nota Técnica Nº 102/2020 SAP/MAPA, de 8 de outubro de 2020, que estabeleceu o “Procedimento para solicitação do cultivo e monitoramento da Kappaphycus alvarezii nos Parques Aquícolas de Santa Catarina” restringindo os cultivos à esses Parques (BRASIL, 2020a).

 

 

 

 

A partir de novembro de 2021 até abril de 2022, cinco cursos sobre a tecnologia de cultivo de algas foram ministrados para um público composto por técnicos, acadêmicos e produtores, de aproximadamente 80 pessoas. A partir destas capacitações, um produtor iniciou os cultivos comerciais de macroalgas em Florianópolis, seguido por outro de Palhoça. O município de Florianópolis liderou a produção com 58,5 toneladas (t) de macroalgas frescas, representando 57,2% da produção estadual, seguido por Palhoça com 43,8t (42,8%) (Figura 1).

Figura 1. Dados da produção por município e produção total da macroalga Kappaphycus alvarezii, em Santa Catarina.

 

Sistemas de cultivo

Dois sistemas de cultivo foram apresentados aos produtores: o monocultivo de algas e o cultivo integrado com moluscos e algas, que podem ser realizados em uma mesma estrutura. No segundo caso, as tradicionais balsas de cultivo confeccionadas em PVC (Figura 2), podem ser substituídas por flutuadores desenvolvidos com polietileno de média densidade, exclusivamente para o cultivo de algas e moluscos, onde as algas são cultivadas no espaço intermediário e os moluscos nos cabos laterais (Figura 3).

Figura 2. Sistema de cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii realizado em balsas flutuantes, confeccionadas com tubos de PVC de 100 mm.

 

Figura 3. Sistema de cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii realizado com flutuadores desenvolvidos exclusivamente para integrar o cultivo de algas e moluscos em uma mesma estrutura.

 

Os produtores optaram por iniciar com o sistema de monocultivo de algas em balsas de PVC para logo em seguida migrarem para estruturas de cultivo mais simples, com custo de implantação menor, que consiste em cabos de cultivos de algas medindo de 50 a 90 m de comprimento, fixados por estacas nas extremidades. Desta forma, dois tipos de plantio foram adotados: o tie tie (Figura 4), onde as algas são plantadas em um cabo principal e fixadas ramo por ramo com espaçamento de 20 cm entre um ramo e outro; e o das redes tubulares, onde os ramos são plantados no interior da mesma rede tubular utilizada para o cultivo de mexilhões, com uma densidade que varia de 0,5 kg a 1,0 kg por metro linear (Figura 5).

Figura 4. Sistema de plantio “tie tie” da macroalga Kappaphycus alvarezii

 

 

Os dois tipos utilizam como flutuadores as mesmas boias utilizadas em redes de pesca, fixadas a cada 5m. À medida que as algas crescem e a corda de cultivo afunda na coluna d’água, novos flutuadores são adicionados para manter as estruturas na superfície (Figura 6). O espaçamento utilizado entre as linhas de tie tie ou entre as linhas de redes tubulares varia de 1,2 a 1,5 m, aumentando consideravelmente a densidade e consequentemente a produtividade, quando comparado com as balsas de cultivo.

 

Produtores e produtividade

O Estado possui 4 produtores que exploram 3,20 hectares com o cultivo de algas, com produção total de 102,3 toneladas úmidas. A preferência pelo sistema de plantio em rede tubular é ligeiramente superior ao sistema tie tie, representando 55,1% contra 44,9% da área total plantada. O tamanho médio da área explorada é de 0,8 ha por produtor e a produção média é de 25,6 t por produtor, com uma produtividade de 31,97 t por ha (Tabela 1).

Tabela 1. Dados estatísticos da produção municipal e estadual da macroalga Kappaphycus alvarezii, em Santa Catarina.

 

Na primeira safra, que se iniciou em setembro de 2021 e finalizou em maio de 2022, os produtores alcançaram em média 2,2 ciclos de cultivo. O objetivo é atingir 4 ciclos de cultivo nos próximos anos, conforme estabelecido nas pesquisas conduzidas no Estado, podendo chegar a 5 ciclos, dependendo do manejo estabelecido e da média anual de temperatura. Considerando que a produtividade foi de 31,97 t/ha com 2,2 ciclos de cultivo, então com 4 ciclos de cultivo, poderá atingir 58,12 t/ha. Segundo Santos (2018) o cultivo de algas em sistema de monocultivo poderia atingir 64,5 t/ano em 3 ciclos de cultivo anual, utilizando as tradicionais balsas de PVC com espaçamento de 3 m entre balsas. A expectativa é de que esta produtividade será superada assim que o sistema de cultivo for aprimorado.

 

 

 

 

O sistema de plantio que está sendo utilizado aproveita melhor o espaço marinho à medida que ocupa para plantio os espaçamentos de 3 m entre as balsas de cultivo em PVC (Figura 6). Entretanto, esta produtividade da safra 2021/2022 ainda é baixa e foi acentuada pela perda de biomassa resultante da ação dos fortes ventos e correntes marinhas, somado a inexperiência dos produtores sobre o momento certo de colheita. As perdas de biomassa de algas que ocorreram este ano variaram entre 10,3% a 21,3% da biomassa, dependendo do produtor. São valores muito altos e que podem comprometer o empreendimento, facilmente comprovado mediante uma análise econômica e financeira. As perdas foram maiores no sistema tie tie de plantio do que no sistema tubular. No sistema tie tie, os ramos são plantados com 20 a 50 g de peso e devem ser colhidos quando atingirem 450 g, até um máximo de 500 g de peso. Se esse limite máximo for ultrapassado, ocorrem perdas de biomassa e consequentemente de dinheiro. Alguns produtores realizaram colheitas com pesos superiores a 1kg, extrapolando o peso recomendado, o que resultou nas perdas verificadas.

Figura 6. Boias utilizadas como flutuadores nas cordas de cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii no plantio tipo “tie tie” e tipo tubular

 

Para o sistema de redes tubulares, o plantio recomendado e mais produtivo obedece a relação de 1kg/m linear até atingir 7 kg/m linear; passado esse limite máximo, pode ocorrer sobrepeso das cordas de cultivo e perdas de biomassa (Hayashi, 2010). Apesar da recomendação, os produtores estão preferindo densidades de plantio menores de 400g/m até atingir o ponto de colheita que é de 3,5 kg/m, aproximadamente. Esta estratégia parece favorecer um menor volume de organismos incrustantes, resultando em algas mais limpas e consequentemente, um menor esforço para lavar as algas para a comercialização.

 

A demanda por algas no Brasil é crescente e vem sendo potencializada principalmente pela indústria de biofertilizantes. Das algas é extraído um extrato que é utilizado como matéria prima na elaboração dos biofertilizantes comerciais. Este extrato é rico em fitormônios, substâncias que promovem o crescimento das plantas, tornando-as mais vigorosas, produtivas, resistentes a pragas, doenças e as adversidades climáticas, daí sua importância para o agronegócio brasileiro. Segundo Gelly (2019), o valor de comercialização do litro do extrato de alga é de R$ 18,00/litro, no eixo Rio de Janeiro – São Paulo.

É possível extrair de 700 a 900 mL de extrato de alga de cada quilograma de alga fresca, dependendo da tecnologia de extração utilizada, uma média de 800 ml. Considerando que a produção estadual é de 102.300 kg e pode proporcionar 82.640 litros de extrato de alga que comercializado a R$ 18,00/litro, pode render aos produtores R$ 1.487.520,00. Estes valores prospectados são apenas de caráter ilustrativo, pois não foram considerados custos de implantação dos cultivos, custos de produção, custos de extração do extrato de alga e custos de comercialização.

Além do biofertilizante, o comércio de algas in natura já é uma realidade no Estado, com valor agregado de R$ 2,00/kg praticado em 2021/2022. Para os próximos anos, a perspectiva é de que o preço oscile entre R$ 2,00 e R$ 5,00/kg de alga fresca, dependendo da época do ano. A variação da temperatura do Sul do Brasil, com 4 estações do ano bem definidas, irá determinar maior e menor produtividade, dependendo da estação, fato que influencia na oferta e na procura do produto e consequentemente, no preço de comercialização.

Outro segmento que o Estado está trabalhando é o da gastronomia, através de acordos de cooperações técnicas com instituições para o desenvolvimento de pratos a base de algas. O objetivo é incluir estes pratos no cardápio dos restaurantes que comercializam frutos do mar ao longo do litoral catarinense, a exemplo do que aconteceu com as ostras e os mexilhões a partir de 1999, quando nenhum restaurante comercializava moluscos e hoje, estão presentes na grande maioria dos restaurantes.

Pesquisas com a utilização das algas na alimentação dos bovinos estão sendo planejadas. O objetivo é o de avaliar a ação do componente bromofórmio, presente nas algas, na redução do gás metano emitido pelos bovinos. Da mesma forma, pesquisas relativas à ação do biofertilizante a base de algas em plantas agrícolas também estão sendo planejadas.

 

Conclusão

O cultivo de algas é uma cadeia produtiva nova para Santa Catarina e muitas informações relativas à tecnologia de produção, avaliações econômicas e financeiras, desenvolvimento de produtos e de seu comércio, deverão ser identificadas à medida que a atividade for se estabelecendo e consolidando.

As perspectivas dos atores envolvidos neste segmento são otimistas, pois a maricultura das algas representa uma nova fonte de matéria prima de excelente qualidade, uma nova fronteira agrícola marinha, uma nova fonte de captura de carbono e de compostos biotecnológicos a serem explorados e um grande aliado no combate à poluição marinha, uma vez que utilizam o excesso de nutrientes das águas eutrofizadas litorâneas para seu crescimento e formação de biomassa.

O potencial de Santa Catarina para atender parte desta demanda é diferenciado, pois o litoral do Estado está organizado em 21 Parques Aquícolas que reúnem 612 fazendas marinhas, totalizando 1.346,90 ha (BRASILb, 2022; Santos, 2018). Considerando a atual produtividade média dos produtores de alga (58,12 t/ha), o Estado poderá atingir uma produção de 78.281,82 t em seus 1.346,90 ha. Ainda, considerando que todo o volume de alga poderá ser transformado em biofertilizante, com rendimento de 80% (1 kg de alga = 0,8 L de extrato de alga), poderá resultar em aproximadamente 62,63 milhões de litros de extrato de alga que comercializado a R$ 18,00 o litro, proporcionará uma movimentação financeira de 1,13 bilhões de reais. Nestes cálculos, não foram considerados os valores relativos ao comércio do farelo de algas que sobra após a extração do biofertilizante, da ordem de 3 mil toneladas (rendimento de 4% por quilograma de alga).

Importante ressaltar que os valores apresentados, relativos ao potencial do Estado, são meramente ilustrativos e precisarão ser comprovados ao longo dos anos, no entanto, foram baseados em indicadores de produtividade obtidos da atual safra estadual e de preços praticados no mercado nacional.

 

Autores:

Alex Alves dos Santos¹ e Leila Hayashi²

¹ Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - EPAGRI

Florianópolis, SC

*alex@epagri.sc.gov.br

 

² Programa de Pós-Graduação em Aquicultura

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Florianópolis, SC

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

 

 

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