O grão seco de destilaria com solúveis (DDGS) é um coproduto à base de milho da produção de etanol via fermentação, destilação e secagem que é realizada por combinação de várias enzimas e leveduras (Yang et al., 2021). É um ingrediente alimentar que vem sendo utilizado pelo seu alto valor nutricional e baixo custo de produção, em dietas para animais ruminantes e monogástricos (Kim et al., 2008; NRC, 2011).

Com a demanda de dietas para animais com alimentos alternativos e sustentáveis, aumentou a procura pelo o DDGS que pode substituir o farelo de soja e a farinha de peixe em dietas para animais aquáticos (Ray et al., 2022). Entretanto, a composição nutricional do DDGS varia em função do grão utilizado durante a produção, além do processo industrial aplicado para sua obtenção (Buenavista, 2021).

Estudos mais recentes têm demonstrado que a inclusão de DDGS influencia positivamente o desempenho e saúde dos animais. Além disso, contribui para uma aquicultura mais sustentável ambientalmente, além de melhorar a qualidade do pescado para consumo humano. Além disso, possui menor custo e elevada palatabilidade em comparação com o farelo de soja.

Figura 1. O DDGS de milho é um ingrediente utilizado em dietas para animais ruminantes e monogástricos. © Élison Macedo, 2022

Este artigo tem como objetivo revisar sobre o potencial do DDGS de milho na indústria de alimentos para animais aquáticos, considerando aspectos da composição, inclusão e efeitos sobre o desempenho, saúde, qualidade da carne e sustentabilidade. Também são apresentados os desafios e oportunidades futuras para a sua aplicação em dietas para organismos aquáticos.

Desenvolvimento

O milho é o grão mais usado para a produção de etanol (Iram, 2020). Sua variabilidade no valor nutricional pode ser por causa da segregação de partículas durante o manuseio do grão, qualidade da matéria- -prima, método e eficiência de secagem, tecnologia e condições de processamento (Liu, 2011). Por esse motivo, pesquisadores vêm analisando amostras de DDGS de milho, um coproduto à base de milho da indústria de etanol, objetivando encontrar abordagens para alcançar qualidade consistente de DDGS como ingrediente em dietas para animais aquáticos (BuenaDesenvolvimento Este artigo tem como objetivo revisar o potencial do DDGS de milho na indústria de alimentos para animais aquáticos (...) vista et al., 2021). A Tabela 1 resume a composição do DDGS de milho a partir de dados publicados nos anos de 2020 e 2022.

Pode-se observar que o DDGS de milho é fonte boa de proteína, lipídeos e fósforo, que são nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento dos animais aquáticos. No entanto, a concentração de fibra no ingrediente é fator limitante de inclusão na formulação de dietas para peixes, particularmente peixes carnívoros que têm menor capacidade de tolerar dietas com elevados teores de fibra (Oliva-Teles et al., 2015). Assim, o DDGS pode ser mais eficiente quando incluído em dietas para peixes onívoros, que toleram níveis mais elevados de fibra na dieta, como a tilápia-do-Nilo (Figura 02).

Os aspectos tecnológicos e econômicos da utilização de DDGS devem ser explorados para aumentar o valor nutricional, objetivando a produção de peixes com coprodutos mais sustentáveis na formulação de dietas para organismos aquáticos. A aquicultura é um dos setores promissores para o uso de DDGS de milho em dietas para peixes e camarões (Ray et al., 2020). Nos últimos anos, diversas pesquisas foram realizadas para a digestibilidade e desempenho de animais alimentados com DDGS de milho em dietas para peixes e para camarões (Adedeji et al., 2017, Allam et al., 2020).

Tabela 1. Composição nutricional de grãos secos de destilaria de milho com solúveis de dados publicados nos últimos anos (base na matéria natural).

Os avanços tecnológicos deram origem ao DDGS de alta proteína (HP-DDGS) criado por meio da separação adicional da fibra indigerível, bem como, do refinamento do processo de moagem a seco, aumentando a concentração de proteína bruta para 390-480 g/kg de matéria seca, aumentando também as concentrações de lisina e metionina (Yang et al., 2021). Em estudos realizados com esse novo ingrediente, Suehs e Gatlin (2022) observaram que a combinação do farelo de soja e farinha de peixe com ProCap HP-DDGS, sem suplementação de lisina, não promoveu efeitos adversos sobre o desempenho, respostas imunes e composição corporal de juvenis de tilápia-do-Nilo.

Lisina e metionina são os aminoácidos mais limitantes em dietas aquáticas, quando substituem a farinha de peixe por proteínas vegetais (Lim et al., 2009; Welker et al., 2014). As deficiências desses aminoácidos essenciais reduzem o crescimento e comprometem a saúde dos peixes (Wu, 2013). Desse modo, a adição de DDGS nas dietas pode ser melhorada com a suplementação de aminoácidos essenciais, incluindo lisina e metionina (Li et al., 2011). No entanto, Zhou et al., (2010) observaram que o DDGS em níveis de até 30% nas dietas pode substituir o farelo de soja e a farinha de milho em dietas para juvenis de jundiá, sem suplementação de lisina. Respostas semelhantes foram observadas por Rhodes et al., (2015), em camarões (Litopenaeus vannamei), em que a inclusão 40% de DDGS, sem suplementação de lisina, não reduziu o desempenho dos camarões demonstrando o potencial do DDGS em dietas para animais aquáticos. 

Outro ponto a ser considerado são os efeitos da inclusão de DDGS sobre a saúde dos animais (Khalila et al., 2018). Lim et al., (2007), observaram que tilápias alimentadas com dietas contendo diferentes níveis de DDGS não tiveram efeitos sobre as respostas imunes quando desafiados a infecção por Streptococcus iniae. Respostas semelhantes foram observadas por Gyan et al., (2022), ao substituir a farinha de peixe por DDGS em dietas para camarão (L. vannamei), observaram domínio de bactérias benéficas na microbiota intestinal, que contribuíram sobre o desempenho e saúde dos camarões. Notavelmente, o DDGS possui fibra e polissacarídeos não amiláceos que contribuem para a melhoria da microbiota intestinal (Liu, 2011), favorecendo a absorção dos nutrientes no intestino. Entretanto, para a compreensão detalhada de como o DDGS pode modular e moldar a diversidade de bactérias no intestino do camarão são necessárias mais pesquisas em peixes e camarões.

Outro aspecto relevante a ser considerado no DDGS é sobre a qualidade de carne. O DDGS de milho pode contribuir para a melhoria da qualidade da carne pela presença de carotenoides e leveduras (Ray et al., 2022).

Estudos recentes identificaram alta disponibilidade do fósforo no DDGS, comprovando que esse alimento é importante alternativa para a sustentabilidade ambiental da aquicultura (Matos et al., 2017). No Brasil, Oliveira et al., (2020) observaram que a digestibilidade do fósforo em DDGS para juvenis de pacu (Piaractus mesopotamicus) foi mais elevada em relação ao fósforo do farelo de soja. A maior quantidade de fósforo disponível encontrado no DDGS pode ser explicada por sua alta biodisponibilidade, resultando em menor liberação de fósforo na água. Assim, a inclusão de DDGS contribui para reduzir a eutrofização da água, em comparação com outras fontes de alimentos proteicos em dietas para animais aquáticos (Buenavista et al., 2021).

É importante enfatizar os desafios da utilização do DDGS de milho como alimento alternativo e sustentável para a aquicultura. Destacam- -se as variações na composição de nutrientes do DDGS de milho pelas diferenças entre as plantas e seus métodos de processamento (Liu, 2011). Portanto, o sucesso da inclusão de DDGS de milho em dietas para peixes e camarões, bem como a eficiência de utilização de nutrientes por eles, dependerá da padronização para sua obtenção e posterior aplicação na nutrição animal.

Figura 2. Dietas para tilápias do Nilo contendo DDGS de milho. © Élison Macedo, 2022

Considerações finais

Atualmente, os nutricionistas de animais aquáticos buscam por fontes sustentáveis de proteína que possam substituir as fontes proteicas de origem animal e vegetal, com isso o DDGS de milho pode ser uma ótima alternativa, por apresentar alto valor de proteína, elevada palatabilidade, baixo custo e alta disponibilidade. Além disso, pode ser usado para substituir farinha de peixe e farelo de soja sem quaisquer efeitos adversos no desempenho e melhora a resposta imunológica em peixes e crustáceos.

Dentre os desafios, oportunidades e aplicações do uso do DDGS de milho nas dietas para animais aquáticos está a colaboração entre os produtores e fornecedores de ingredientes, produtores de peixes e camarões e pesquisadores, que pode ser fundamental para melhorar a qualidade e a importância da pesquisa em nutrição aquática, nos últimos anos.

Portanto, à medida que o uso de DDGS de milho se torna difundido em dietas para organismos aquáticos e os preços de mercado se tornam econômicos, a formulação de dietas aquáticas pode diminuir sua dependência ou se tornar totalmente independente de alimentos tradicionalmente utilizados na aquicultura, como o farelo de soja. Isso aumentará o lucro, melhorará a indústria da aquicultura e ajudará a reduzir os impactos ambientais.

Autores:

Analene Alves Nascimento¹ , Élison Silva de Macêdo¹ e Wilson Massamitu Furuya¹ ² 

¹ Programa de Pós-Graduação em Zootecnia

Universidade Estadual de Maringá

Maringá, PR

*analenealves@hotmail.com

² Departamento de Zootecnia

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Ponta Grossa, PR

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