A uniformidade no crescimento é indispensável na produção animal, essa característica é vista com muita importância na avicultura e suinocultura. A uniformidade nessas duas culturas não é relacionada apenas a um desempenho técnico e econômico dos animais vivos, como também no desempenho do processamento nas plantas frigoríficas e principalmente, na relação fornecedor-cliente, disponibilizando um produto e/ou cortes padrões, durante todas as épocas do ano. Mas, em relação a piscicultura no Brasil, o que possuímos ou sabemos quando falamos em uniformidade na produção?

A uniformidade no crescimento dentro da tilapicultura é uma questão delicada em nosso país, devido a inúmeros fatores que ainda estamos caminhando para a consolidação, por exemplo, o manejo alimentar adequado, que evite ou reduza os efeitos nocivos da competição por alimento; inversão sexual eficiente, que reduza as diferenças no crescimento devido ao sexo do animal e genética de qualidade, que forneça animais com alto potencial de crescimento. Esse último aspecto, pode ser considerado um dos grandes responsáveis pela falta de padronização na produção, principalmente pela prática inconsistente de seleção, que ocorre, predominantemente, em produtores de formas jovens, que não possuem assessoria de genética e melhoramento para formação dos seus lotes de reprodução, resultando em animais de genética duvidosa, sem controle de consanguinidade, com deficiências de informações quanto a idade, lote ou informações de classificação.

O melhoramento genético resulta em aumentos médios em características economicamente importantes, como o crescimento. A velocidade de crescimento continua sendo o principal objetivo da seleção na tilapicultura, afinal, é o que remunera o produtor, maior biomassa em menor tempo de cultivo! Só que, não podemos esquecer que a despadronização no crescimento e/ou nos pesos ao final do cultivo interfere de forma importante na produção de biomassa. Dessa forma, um crescimento mais uniforme permitirá um produto mais uniforme, despesca de uma proporção maior de peixes no tamanho do mercado e redução da classificação por tamanho, além de reduzir as interações competitivas entre os animais, contribuindo para reduzir a monopolização da alimentação e o comportamento dominante, consequentemente, melhorando o bem-estar no cultivo.

Nosso objetivo é mostrar como a seleção genética pode contribuir para o aumento na uniformidade da produção na tilapicultura. Iremos compartilhar alguns resultados científicos encontrados em nível de campo, que irão evidenciar a importância do melhoramento genético na padronização do cultivo de tilápia do Nilo.

Resultados da pesquisa

Foi realizado uma pesquisa pelo grupo PeixeGen da Universidade Estadual de Maringá, no qual, verificou-se os impactos da seleção da sensibilidade microambiental no cultivo de tilápia do Nilo (Janhunen et al., 2012), ou seja, a capacidade em se adaptar aos fatores ambientais não controláveis, consequentemente, tornado a produção mais uniforme e robusta. Para as análises genéticas foram utilizados 10.207 registros fenotípicos, oriundos de 5 gerações. No primeiro momento, foi verificado pela metodologia de modelos mistos (Misztal et al., 2016), se a característica de uniformidade está sob controle genético. Por fim, foi verificado se a seleção genética e a promoção de acasalamentos dirigidos são capazes de gerar uniformidade na produção.

Utilizando informações da literatura científica a respeito do tema, observamos que o parâmetro genético (Coeficiente de variação genética para variação residual), um indicador da sensibilidade microambiental, apresentou estimativa moderada (29%) apontando que a uniformidade para peso corporal tem potencial genético para responder a seleção. Outra indicação positiva, foi o valor moderado da correlação genética entre a sensibilidade microambiental e o peso à despesca (-0,43), é favorável, portanto, a seleção direta para uniformidade da produção pode proporcionar ganho genéticos indiretos no peso corporal de tilápias do Nilo e vice-versa.

Um detalhe que ainda é pouco discutido em artigos científicos e precisa ser evidenciado em relação a seleção direta para sensibilidade microambiental, é o impacto que possui sob a variabilidade genética de um programa de melhoramento genético. Observamos que, ao selecionar, hipoteticamente, 10% dos indivíduos com a melhor sensibilidade microambiental na última geração, poderíamos ter uma redução de 65% do quantitativo de famílias selecionadas e aumento de 41% no coeficiente de coancestria, que resultaria em aumento da consanguinidade dos planteis no curto e médio prazo. A consanguinidade pode gerar efeitos desfavoráveis na tilapicultura, como a redução do desempenho, fertilidade e sobrevivência, além de abalar a sustentação de um programa de melhoramento genético em poucas gerações de seleção.

Ao realizar todas as análises genéticas, decidimos verificar se os resultados encontrados seriam concretizados em condições de cultivo. Foram realizados acasalamentos dirigidos e formados três grupos genéticos: 1 – Tilamax-UEM (Linhagem comercial); 2 – Grupo Uniforme (Seleção para melhor sensibilidade microambiental) e 3 – Grupo Desuniforme (Seleção para pior sensibilidade microambiental), todos os procedimentos foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais em Pesquisa. O cultivo foi realizado em viveiros de alvenaria no período de inverno, sendo este ambiente caracterizado pela baixa renovação, temperatura e oxigênio dissolvido.

Como resultado desse estudo, demonstrado na figura 1, observou-se que a seleção e os acasalamentos dirigidos para uniformidade produziram animais com melhor uniformidade, com maior capacidade em se adaptar aos fatores ambientais não controláveis, que o grupo selecionado e acasalamento para pior sensibilidade microambiental. A linhagem selecionada diretamente para uniformidade apresenta, estatisticamente, a mesma variação de crescimento que a linhagem comercial Tilamax-UEM, portanto, tilápias oriundas de um programa de melhoramento genético, são capazes de terem a mesma uniformidade de produção que uma linhagem selecionada especificamente para essa característica, o que está de acordo com os resultados descritos anteriormente, que a seleção direta para peso corporal promove ganhos genéticos indiretos na sensibilidade microambiental.

Conclusão

A seleção direta para uniformidade pode apresentar riscos para um programa de melhoramento genético devido à redução de variabilidade genética, exige recursos humanos treinados e computacionais apropriados, além da grande quantidade de registros fenotípicos, visto que, a característica não depende só de um único indivíduo e sim, de todo o grupo cultivado. Comprovamos que uma linhagem comercial selecionada para velocidade de crescimento e com acasalamentos dirigidos possui a mesma intensidade de uniformidade que uma linhagem selecionada diretamente para essa característica.

Portanto, ao utilizar alevinos filhos de matrizes e reprodutores oriundos de programas de melhoramento genético, apropriadamente acasalados, conseguimos melhorar a uniformidade da produção com os manejos adequados em todo as fases de cultivo.

Autores:

Eric Costa Campos ¹ª*, Carlos Antonio Lopes de Oliveira ²ª, Alex Júnio da Silva Cardoso³ , Carolina Schlotefeldt¹ , Karla Miky Tsujii¹ , Laís Santana Celestino Mantovani¹ , Gabriel Oliveira dos Santos² , Giovana da Silva Oliveira² , Filipe Chagas Teodózio de Araújo¹ , Humberto Todesco¹ e Ricardo Pereira Ribeiro ²ª

¹ Programa de Pós-Graduação em Zootecnia

Universidade Estadual de Maringá

*eric.peixegen@gmail.com

² Departamento de Zootecnia

Universidade Estadual de Maringá

Maringá, PR

³ Programa de Pós-Graduação em Zootecnia

Universidade Federal de Viçosa

Viçosa, MG

ª PeixeGen – Manejo, Melhoramento e Genética Molecular em Piscicultura de Água Doce

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui