O Brasil produziu 400.280 toneladas de Tilápia em 2018, com crescimento de 11,9% em relação ao ano anterior (Peixe BR, 2019), mantendo a quarta posição mundial de Tilápia, atrás China, Indonésia e Egito, à frente ainda de Filipinas e Tailândia, que possuem expressiva participação no cenário internacional.
Embora existam estudos anteriores para estimação da eficiência na tilapicultura, são escassos os trabalhos que avaliam os efeitos das transformações ocorridas sobre a eficiência do piscicultor, enquanto gestor, relacionado à possíveis mudanças no sistema produtivo. No Brasil, Sabbag e Costa (2015) analisaram o desempenho de sistemas de produção de tilápia em Ilha Solteira/SP, por meio da análise de eficiência DEA (data envelopment analysis), com inferências sobre o desperdício de insumos relacionado em grande proporcionalidade à ineficiência das unidades produtivas.
Paralelamente à eficiência, o aumento da produtividade em sistemas produtivos pode variar por diferentes razões, como a introdução de novos equipamentos na piscicultura (Figura 1) ou ainda devido à melhor qualidade dos insumos utilizados. Neste sentido, o índice de Malmquist estima a produtividade total dos fatores de produção (como terra, trabalho e capital), sendo capaz de evidenciar a causa da mudança de produtividade, sendo este processo oriundo de mudanças tecnológicas ou mudança de eficiência técnica (Souza, 2013).
Neste contexto, para uma determinada quantidade de insumos, será que o piscicultor explora todas as potencialidades de recursos e, mais ainda, promove um incremento de produtividade decorrente da variação da eficiência técnica e variação tecnológica?
Assim, considerando a importância estratégica da eficiência e da produtividade, pretende-se apresentar um modelo de aplicação ao piscicultor, de grande relevância ao contribuir para o suprimento da lacuna existente na aquicultura, sobretudo na tilapicultura em questão.
Desenvolvimento
Destaca-se inicialmente que a amostragem para o modelo proposto segue a estrutura do modelo DEA, de acordo com Ali e Seiford (1993), sendo necessário que o número de unidades seja, ao mínimo, duas vezes o número de insumos e produtos, em função do número de observações (DMU’s ou Decision Making Units), representado pelas unidades de análise e suas variáveis produtos e insumos.
No exemplo a ser adotado como protocolo de avaliação de eficiência técnica produtiva para a produção de tilápias (Figura 2), como exemplo, utilizar-se-ão cinco variáveis expressivas em seu cultivo, correspondentes aos insumos (inputs), e uma relacionada com produtos (output).
Desta forma, algumas DMU’s podem apresentar progresso tecnológico, enquanto outras regresso técnico, ou até progresso técnico inalterado. Assim, por meio desse índice, torna-se possível examinar as variações dos níveis de produtividade.
Neste sentido, para estruturar o modelo proposto, foi elaborado um framework (objetivos e formas de análise), de forma a analisar a eficiência e a variação de produtividade entre dois períodos (t e t+1), contemplando o objetivo proposto (Figura 3), que são avaliados em softwares específicos para análise DEA.
A partir do modelo proposto a ser aplicado em unidade piscícola, a variabilidade dos inputs observados pressupõe diferentes níveis de eficiência no sistema produtivo. De acordo com Kassai (2002), o modelo CCR ou constante de escala adotado permite uma avaliação objetiva da eficiência global e identifica as fontes e estimativas das ineficiências identificadas.
O que deve ressaltar é que nem sempre a melhor produção média representa a melhor eficiência, fato que remete ao conceito de produtividade. Segundo Soares Mello et al. (2005), a produtividade é obtida pela razão entre o que foi produzido e o que foi gasto para produzir. De maneira geral, avaliações produtividade e eficiência são muito focadas apenas na produtividade como indicador, e, segundo Gomes (2003) podem ser equivocados, por não considerarem outros indicadores importantes para a medida de eficiência, como mão de obra e alimentação, que trabalhados de maneira racional, possuem custos reduzidos no ciclo produtivo.
Já com relação ao índice de Malmquist, este avalia os índices de produtividade em diferentes períodos de tempo, decompondo-os em sub-índices que refletem a variação da eficiência técnica e mudanças tecnológicas (Figura 4).
Na suposta análise, inicialmente se o índice tecnológico (TECH) for inferior a 1 na unidade de análise, indica que a inovação aumentou de forma relevante durante o período, possivelmente em função de novos investimentos em capital fixo (novas tecnologias) ou ainda oriundo de novas metodologias, procedimentos ou técnicas de cultivo, considerando a valorização do capital humano na atividade.
De forma geral, é possível a partir da estimativa dos resultados de análise em propriedade (DMU) prospectar alguns cenários, dentre os quais:
a) MALM <1 / EFFCH <1 / TECH <1: fazem parte desse grupo as DMU’s que obtiveram os melhores resultados no período pesquisado, em termos das mudanças ocorridas, visto que a melhoria da produtividade global (MALM) é função direta da elevação do nível de eficiência técnica (EFFCH) e do aspecto tecnológico das atividades dos portos (TECH);
b) MALM <1 / EFFCH ≥1 / TECH <1: nesse grupo, embora os resultados apresentem a melhoria da produtividade e o melhor posicionamento das unidades de produção de tilápias em relação à fronteira tecnológica de eficiência, o nível de eficiência técnica permanece inalterado;
c) MALM >1 / EFFCH >1 / TECH <1: fazem parte desse grupo as DMU’s que expressam uma queda de produtividade, sendo que o nível de eficiência técnica também regrediu, mesmo assim houve uma melhora em relação às mudanças tecnológicas;
d) MALM >1 / EFFCH ≥1 / TECH >1: neste grupo predomina uma redução de produtividade e regressão em relação às mudanças tecnológicas, permanecendo com o mesmo nível de eficiência técnica.
Destaca-se que a componente frontier shift (TECH) diz respeito à adoção de novas tecnologias baseadas nas melhores práticas (Barros e Weber, 2009).
Essa análise converge com a ideia de mudança de paradigma que resultou em um ambiente muito heterogêneo no que diz respeito às práticas de gestão e aos resultados obtidos pelas unidades piscícolas que compõem o setor. Além da heterogeneidade produtiva, pode se constatar ainda a existência de empresas tecnologicamente muito atrasadas, com baixa eficiência, coexistindo com empresas muito eficientes, que optaram pelo maior desenvolvimento de suas técnicas de gestão e tecnologia produtiva, formando um universo de muita heterogeneidade sob esse aspecto (Shikida et al., 2002).
Considerações Finais
A análise DEA demonstra ser uma técnica multicriterial que auxilia no processo de tomada de decisão durante o processo de transformação de “insumos” em “produto”, avaliando a eficiência global das unidades produtoras de tilápia.
Em complemento, a utilização do índice de Malmquist demonstra ser um instrumento adequado para determinar a condução da atividade piscícola, comparando-se entre diversos períodos de tempo mudanças de eficiência técnica e mudanças de tecnologia.
Acredita-se que o modelo possa ser aplicado como ferramenta para os tomadores de decisão, podendo assim identificar as melhores práticas e desenvolver ações concretas no sentido de melhorá-las ou modificá-las, buscando atingir os índices mais adequados à necessidade da organização de quem produz, considerando as supostas diferenças em termos de progresso tecnológico, eficiência e produtividade no cultivo de tilápias.
Agradecimento
À FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), pelo apoio neste trabalho, através do auxílio à pesquisa vigente.
Autor:
Prof. Omar Jorge Sabbag
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –UNESP
Campus de Ilha Solteira
Ilha Solteira, SP
omar.sabbag@unesp.br
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