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Cultivo de Peixes
03 de Julho de 2022 Aquaculture Brasil
Em tilápias do Nilo, submeter um animal melhorado a uma situação de desafio pode impactar na avaliação genética de sua progênie?

O Brasil é considerado o quarto maior produtor mundial de tilápia do Nilo, sendo a espécie mais cultivada no País. Devido as diferentes condições climáticas de solo, de qualidade e disponibilidade de água, ocorrentes em toda a extensão do território brasileiro, a tilápia pode encontrar condições extremamente favoráveis ao seu cultivo comercial e condições desafiantes, que demandam maior capacidade adaptativa.

A tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é cultivada, originalmente, em condições com elevadas temperaturas. Com a introdução no Brasil, estes animais têm sido cultivados em climas subtropicais, em locais com ocorrência de geada e concomitantemente têm sido exploradas em condições tropicais com elevadas temperaturas. Além disso, são cultivadas em diferentes sistemas de cultivo, em condições de viveiros escavados e tanques-rede com diferentes volumes e níveis de intensificação de produção. Tais variações apresentam-se como um desafio para o desenvolvimento de linhas genéticas produtivas para estas diferentes condições.

Com vistas ao desenvolvimento de linhas genéticas adaptadas às condições de cultivo brasileiro, em 2005 foi introduzida no Paraná por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em parceria com os governos estadual e federal, a linhagem GIFT de tilápia do Nilo, proveniente da Malásia. Esta introdução marca o início do primeiro programa de melhoramento genético de tilápias no Brasil. Este programa é desenvolvido na Estação de Piscicultura UEM-CODAPAR no distrito de Floriano em Maringá/PR, e na Unidade Demonstrativa de Produção em Tanques-rede da UEM no Rio do Corvo, no município de Diamante do Norte/PR.

No programa de melhoramento genético de tilápias do Nilo da UEM - PMGT/UEM, o objetivo da seleção é aumentar a velocidade de crescimento, produzindo animais com maior peso ao final do período de cultivo; para isso, atualmente, o peso à despesca tem sido utilizado como critério de seleção. Este programa avalia e seleciona os animais em sistema de tanques-rede e atualmente está avaliando a 13ª geração de seleção.

Diante da diversidade de condições de cultivo existentes no Brasil, nos questionamos, será que o fato do PMGT/UEM avaliar e selecionar os animais em tanque-rede pode interferir no desempenho final de suas progênies caso o produtor queira cultivá-las em viveiros escavados, em uma região com clima diferente daquele no qual os peixes foram selecionados? Caso isso aconteça, quanto pode interferir no peso final do plantel, levando a resultados diferentes daqueles obtidos no sistema de cultivo de referência (tanque-rede no Noroeste do Paraná), ou pode afetar o ranqueamento dos animais (das famílias) de acordo com o sistema de cultivo?

 

 

 

 

Material e métodos

Para tentar responder essas dúvidas, foi realizado um experimento pelo Núcleo de Pesquisa PeixeGen da UEM em parceria com uma Piscicultura privada. Foram testadas tilápias do Nilo da variedade TILAMAX oriundas do PMGT/UEM em dois ambientes de cultivo diferentes. No primeiro sistema os animais foram cultivados em quatro tanques-rede, localizados no Rio do Corvo (Reservatório da Usina Hidrelétrica de Rosana) situado na região dos Municípios de Diamante do Norte/PR e Porto Primavera/SP, onde as temperaturas variaram de 23,16ºC a 24,40ºC de fevereiro a julho de 2019, destacando que este é o sistema onde estas tilápias foram selecionadas/melhoradas; o segundo sistema foi em viveiro escavado de 2000 m2 em outra cidade e estado, onde as temperaturas variaram de 18,54ºC a 19,33ºC, considerado como a situação de desafio, onde os animais foram cultivados de abril a novembro de 2019 (Figura 1). Dentre as diferenças as quais as famílias foram submetidas podemos relacionar o sistema de cultivo, intensivo em tanque-rede (75 kg/m³) e extensivo em viveiro escavado (1 peixe/m²), condições climáticas advindas das temperaturas durante o período de criação e localização das duas condições de cultivo. Os animais apresentaram as idades finais distintas para os sistemas de cultivo (244 dias em tanque-rede e 366 dias em viveiro) com vistas a reduzir as diferenças intrínsecas de cultivo em cada sistema.

 

Resultados

Os resultados mostraram o impacto em inserir animais geneticamente melhorados em tanque-rede em um ambiente de cultivo distinto, onde os fatores mbientais, como temperatura e o próprio sistema, interferiram no peso final (Figura 2). Os animais em tanque-rede tiveram o peso vivo médio 44,6% maior do que os peixes em viveiro escavado.Os animais iniciaram os cultivos com médias de peso inicial diferentes, estando os peixes em viveiro escavado mais pesados em relação aos animais de tanque-rede (Tabela 1). Mesmo nesta condição, em tanque- -rede os peixes atingiram maior peso final.

Em se tratando de parâmetros genéticos, a herdabilidade do peso final variou entre os sistemas, sendo 0,31 para tanque-rede e 0,19 para viveiro escavado, indicando que maior parcela da variação foi explicada pelo efeitos genéticos na condição padrão de avaliação em tanque-rede.

O grau de associação genética do peso à despesca entre os cultivos em tanque-rede e viveiro escavado foi fraco (<0,75), indicando a presença de interação genótipo ambiente, no qual observou-se que um mesmo genótipo (família) pode apresentar ranqueamento distinto em ambientes diferentes. Contudo a utilização de acasalamentos apropriados poderia produzir animais com elevado desempenho nas duas condições de cultivo, principalmente por conta das altas taxas reprodutivas das tilápias que lhe permite produzir número elevado de descendentes.

Considerando nossos resultados, encontramos que além das diferenças nas médias de peso e nos parâmetros genéticos, foram observadas mudanças no ranqueamento (classificação) das famílias nas duas condições de cultivo. Observou-se que houve alteração nas famílias consideradas top (geneticamente superiores), como observado na Tabela 3.

Analisando os ranqueamentos, podemos observar que das 10 melhores famílias, quatro estão presentes nas classificações das duas condições de cultivo, sendo que a melhor família para tanque-rede (FAM A) ficou na sexta posição em viveiro escavado e, a família mais bem classificada em viveiro escavado (FAM B) ficou na terceira posição em tanque-rede. Isto significa que, quatro famílias candidatas a multiplicação de material genético, possivelmente estarão aptas a responder às demandas dos dois ambientes de cultivo.

 

 

 

 

Conclusão

A utilização de animais geneticamente melhorados é um elemento importante para atender o aumento da produção de tilápias, uma vez que existe a necessidade de qualificação da tilapicultura. Porém, as diferenças encontradas nos sistemas de produção, nas condições climáticas e de manejo das diferentes regiões/estados e nas demandas do mercado consumidor, são desafios que tornam as decisões nos programas de melhoramento genético para tilápias no Brasil algo mais complexo de ser implantado, devendo-se levar em consideração o desempenho dos animais nas mais diversas condições de cultivo. É importante destacar que o uso desses animais melhorados é a melhor opção, pois mesmo em condições de cultivo adversas, estes possuem um conjunto de genes que lhes permitirá ter desempenho e produzir progênies superiores, em relação aos animais que não passaram por nenhum processo de seleção.

Respondendo a nossa pergunta inicial: “cultivo em condições de desafio pode causar diferenças na classificação de tilápias do Nilo melhoradas?”, com os resultados apresentados neste artigo, podemos afirmar que sim. Com isso, se faz necessário a avaliação das famílias em diferentes condições de ambiente, permitindo assim, que tenhamos uma seleção mais apropriada dos animais/famílias que melhor atinjam o(s) objetivo(s) desejado(s), levando ao aumento do ganho genético e do retorno econômico para os produtores. Vale ressaltar que, apesar da reclassificação das famílias nos dois ambientes de cultivo, existem famílias geneticamente superiores, que serão capazes de serem cultivadas tanto em tanque-rede quanto em viveiro escavado, obtendo desempenhos superiores a animais não melhorados geneticamente.

 

Autores:

Gisele Ferreira da Silva¹*, Dr. Carlos Antonio Lopes de Oliveira¹ e Dr. Ricardo Pereira Ribeiro¹ 

¹Programa de Pós-Graduação em Zootecnia

Universidade Estadual de Maringá – UEM

Maringá, PR

*gisele.zootecnia@gmail.com

 

 

 

 

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