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Ranicultura
01 de Agosto de 2016 Aquaculture Brasil
A ranicultura brasileira no período de 2000 a 2015 – Um breve relato de fatos

Dados recentes da Organização Mundial para a Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que o Brasil está entre os 15 maiores produtores mundiais de pescado (FAO, 2016). O extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) informou, no seu 1º anuário brasileiro sobre pesca e aquicultura, que houve uma evolução no consumo nacional per capta de pescado nos últimos anos, atingindo um valor igual a 11,17 kg por habitante/ano, em 2011 (BRASIL, 2014).

O Brasil é reconhecido como um dos países mais dotados de significativo potencial para a consolidação e expansão da pesca e aquicultura. Suas potencialidades decorrem principalmente das condições naturais caracterizadas por sua privilegiada extensão litorânea de mais de oito mil quilômetros, sua ampla área marítima (incluindo sua zona econômica exclusiva) de 3,7 milhões de km² e sua imensa reserva de água doce renovável equivalente a 13% do total do planeta (CRIBB, 2014). Entre as espécies de pescado que têm se beneficiado de especial atenção no Brasil, a rã-touro ou rã-touro americana (Lithobates catesbeianus) (Figura1) tem apresentado desenvolvimento satisfatório. Sua criação racional, a ranicultura (Figura 2), e atividades afins têm sido, nos últimos quinze anos, objeto de intensas ações desenvolvidas por diversas instituições de pesquisa, assistência técnica e extensão rural (AFONSO, 2012; CRIBB et al., 2013).

No início da década de 2000, a Embrapa Agroindústria de Alimentos, em parceria com o Centro de Tecnologia de Alimentos e Bebidas (SENAI) e com financiamento do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuária para o Brasil (PRODETAB), desenvolveu uma tecnologia que resultou na produção de salsicha e patê de carne de rã assim como de conserva de carne desfiada. Tratou-se de uma tecnologia baseada na desossa mecânica do dorso (para a produção da salsicha e do patê) e na desossa manual do dorso (para a conserva) (FURTADO, 2001; FURTADO et al., 2005; FURTADO e MODESTA, 2006; FURTADO et al., 2006).

 

 

Em 2005, a ranicultura nacional foi objeto de um workshop realizado na cidade de São Paulo com a participação de pesquisadores, técnicos e empresários do ramo. Foram debatidos os principais gargalos da produção, processamento e comercialização de produtos e derivados de rãs. Em 2007, foi realizado um estudo de mercado relacionado ao consumo de tilápia e rãs nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, ambas no estado do Rio de Janeiro, e, por meio dele, pode-se perceber que a motivação de compra da carne de rã estava associada aos usos funcional e medicinal em praticamente metade dos estabelecimentos visitados. Os consumidores apontaram como positivos os atributos de sabor, textura e qualidade do produto, mas a grande maioria reclamou dos valores praticados pelo mercado (WEICHERT et al., 2007).

Em 2008, a Embrapa Agroindústria de Alimentos concebeu um projeto intitulado “Avaliação e transferência da tecnologia de processamento de carne de dorso de rã no setor agroindustrial da Região Sudeste do Brasil”. Este projeto foi executado no período de 2009 a 2012 com a cooperação de várias organizações de pesquisa, assistência técnica e extensão. Graças a suas atividades, melhorou-se a compreensão do funcionamento da cadeia ranícola. Uma das observações fundamentais foi a baixa disponibilidade de informações tecnológicas, gerenciais, mercadológicas e socioeconômicas nos diferentes elos da cadeia (CRIBB, 2009; CRIBB, 2012). Uma ação diretamente decorrente desta observação foi a criação de um grupo de informação e comunicação “online”, denominado “Ranicultura no Brasil”. Este grupo se consolidou graças ao desenvolvimento de um novo projeto intitulado “Construção de uma rede de interação e aprendizagem para a transferência de tecnologia na cadeia ranícola brasileira” e concebido em 2011. Suas principais atividades foram a mobilização dos atores da cadeia, a capacitação de técnicos, o treinamento de produtores e a criação de um “website” (Figura 3). Sua conclusão está prevista para setembro de 2016 (CRIBB, 2011).

Antes da realização completa do projeto de construção da rede, foi considerada necessária a ampliação da esfera de ação do núcleo de pesquisadores e técnicos envolvidos no desenvolvimento da cadeia ranícola. Esta necessidade foi baseada no fato de que esta cadeia está profundamente ligada a outras dentro do setor de pesca e aquicultura. Um exemplo para comprovar tal ligação é o uso da ração de peixes para alimentar rãs. O desenvolvimento da cadeia ranícola depende da consolidação das cadeias de outras espécies de pescado.

Com base nessas considerações, um novo projeto foi concebido e iniciado em 2014, intitulado “Fortalecimento tecnológico do elo agroindustrial da cadeia do pescado na Região Sudeste do Brasil por meio da socialização de conhecimentos, tecnologias e práticas”, com duração prevista para 36 meses. Seu objetivo geral é “Desenvolver ações de socialização de conhecimentos, tecnologias e práticas tanto para empreendimentos artesanais e familiares quanto para pequenas e médias empresas envolvidas na captura, manipulação, conservação e/ou processamento do pescado na Região Sudeste do Brasil”. Ao lado da tilápia e do camarão, a rã é uma das três espécies de pescado consideradas neste projeto (CRIBB, 2014).

A consolidação da ranicultura encontra-se em consonância com a de outras cadeias produtivas do pescado no Brasil. A demanda por produtos de excelente qualidade nutricional, cuja produção baseia-se nos princípios da viabilidade técnico-econômica e socioambiental, pode ser perfeitamente atendida pela carne da rã e seus derivados, produzidos com responsabilidade.

 

Autores: Andre Muniz Afonso¹* & André Yves Cribb²
¹Professor da Universidade Federal do Paraná
²Pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos
* andremuniz@ufpr.br

 

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