Artigos
Outras culturas
01 de Dezembro de 2021 Aquaculture Brasil
Aquicultura Multitrófica Integrada e economia circular aplicados ao sistema de bioflocos

 

 

Cultivo de camarões em Sistema de bioflocos

Com o intuito de aumentar a competitividade do setor aquícola, as produções de organismos aquáticos têm se tornado cada vez mais intensivas. Dentre as tecnologias aplicadas na intensificação da produção, destaca-se a tecnologia do sistema superintensivo de bioflocos. O sistema de bioflocos (BFT) tem sido utilizado na produção de peixes e camarões, elevando as densidades de estocagem com taxa de renovação mínima de água, reduzindo o uso de área e recursos hídricos destinados ao cultivo. Esse sistema se utiliza de uma rica comunidade microbiana, chamada de flocos, que auxilia na manutenção da qualidade de água, faz a ciclagem dos nutrientes e é uma fonte alimentar para os camarões.

Entretanto, o desenvolvimento do sistema BFT apresenta alguns problemas, destacando-se a baixa retenção dos nutrientes da dieta pelos animais de cultivo (27% do nitrogênio e 11% do fósforo) e, consequentemente, a geração de sólidos ricos em nutrientes. O uso da Aquicultura Multitrófica Integrada (AMTI) surge como uma alternativa para contribuir com o aumento da sustentabilidade do sistema de bioflocos. A AMTI é um sistema de produção que integra espécies de diferentes níveis tróficos em um mesmo ambiente de cultivo, resultando na conversão dos resíduos do cultivo de uma espécie em fonte de alimento ou fertilizantes para outra, permitindo o melhor aproveitamento dos nutrientes da dieta.

A proposta de diversificação, com uso de conceitos de AMTI e conceitos de economia circular nesse trabalho, pretende integrar espécies de diferentes níveis tróficos (camarão, tainha e macroalga – Figura 1) com o intuito de reciclar nutrientes gerados por uma espécie para serem reaproveitados por outras, além de propor aplicações dos produtos oriundos dessa integração, como as macroalgas, visando o aumento da quantidade, qualidade e diversidade da produção.

Os dados apresentados neste artigo são parte da tese de doutorado da pesquisadora Esmeralda Chamorro Legarda, que recentemente foi agraciada no Prêmio CAPES de teses na área de Zootecnia e Recursos Pesqueiros. O prêmio CAPES de teses foi criado em 2005 e desde então vem premiando as melhores teses de doutorado do Brasil em cada área de conhecimento elencados pela CAPES. A escolha dos trabalhos é feita por comissões de premiação, que consideraram sua originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social do país. Além disso são avaliadas a qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese, sua metodologia, redação, estrutura e organização do texto.

Integração de camarão e tainha

Inicialmente foi avaliado se a tainha poderia aproveitar os bioflocos como fonte de alimento quando integradas ao cultivo de camarão. Observou-se que os peixes tiveram bom crescimento e mantiveram seus parâmetros hematológicos e imunológicos estáveis, aumentando a produtividade do sistema em 11,9% e recuperando 16,8% mais fósforo em relação ao monocultivo de camarão.

Posteriormente, avaliou-se se era possível aumentar a densidade de peixes para melhorar a eficiência de retenção de fósforo e produtividade. O equilíbrio da integração camarão:peixe foi 10% de biomassa de peixe em relação à biomassa de camarão. Isto resultou em um aumento de 20% na produtividade e biomassa final total em relação ao monocultivo de camarão, sendo 3,7 kg/m³ a densidade de tainha a se usar em sistema integrado com camarão em BFT. Além disso, a integração do peixe ao sistema de cultivo de camarão melhorou o aproveitamento do recurso água, utilizando 17% menos água que o monocultivo.

 

 

 

 

Adição da macroalga ao cultivo integrado de camarão e tainha

A partir dos resultados da integração de camarão e tainha, pensou-se em integrar uma macroalga ao sistema com a finalidade de aproveitar os nutrientes dissolvidos na água. No final do experimento observou-se que a integração da macroalga Ulva fasciata aumentou a retenção de nitrogênio e fósforo, não precisamente pela quantidade de biomassa produzida, mas pela composição da macroalga que apresentou maior teor de proteína, fósforo e compostos bioativos (Tabela 2), em relação a alga inicial.

Aplicação dietética da biomassa de macroalga proveniente do cultivo integrado com camarão e tainha em sistema de bioflocos

A biomassa da macroalga Ulva fasciata produzida no sistema foi aplicada em diferentes porcentagens em dietas para o peixe olhete (Seriola dorsalis). Com apenas 1% de adição foi possível melhorar a composição do filé deste peixe, aumentando o teor do ácido graxo docosaexaenoico (DHA – 22:6n3), conhecido popularmente como ômega 3 assim como o somatório de ácidos graxos insaturados (Tabela 3). Este trabalho foi realizado em parceria com a Universidad Autonoma da Baja Califórnia, México, com supervisão da Dra. Maria Teresa Viana e do Dr. André Braga.

Conclusão

A partir dos resultados da tese podemos concluir que é possível melhorar o cultivo de camarão em bioflocos em termos de produ - tividade e de eficiência ecológica aplicando os conceitos de Aquicultura Multitrófica Inte - grada com tainha e macroalgas em bioflocos. A integração com tainha melhora a produti - vidade e aumenta a retenção de fósforo do sistema. A macroalga Ulva fasciata dentro do sistema integrado, além de incrementar a produtividade, retenção de fósforo e nitrogê - nio, também aumentou o seu teor nutricio - nal e compostos antioxidantes. Além disso, a macroalga pode ser utilizada como aditivo ali - mentar para o olhete (Seriola dorsalis), tendo potencial como promotor de crescimento e incrementando o teor de ácidos graxos PUFA como o DHA no filé.

Perspectivas futuras

A partir desta tese se abrem novas pers - pectivas de pesquisa com o objetivo de res - ponder as seguintes perguntas:

•  A tainha poderia utilizar somente os bioflocos como fonte de alimento?

• De que maneira os compostos an - tioxidantes provenientes das macroalgas ajudam a proteger os ácidos graxos poliinsaturados promovendo essa maior retenção no filé do peixe?

•  Como ficaria o teor de DHA na carne de camarão com a adição da macroalga na sua dieta?

•  O que seria necessário para levar essa tecnologia para uma escala comercial?

Publicações em periódico internacional

A tese de doutorado rendeu 4 artigos e 1 capítulo de livro, sendo que os resultados já encontram-se publicados nos periódicos Aquaculture (3) e Aquaculture Research (1)

 

Autores:

*Esmeralda Chamorro Legarda, Marco Antônio de Lorenzo e Felipe do Nascimento Vieira

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Laboratório de Camarões Marinhos - LCM

Florianópolis, SC

*esmeraldachamo@hotmail.com

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

 

Anterior
Próxima

+55 (48) 9 9646-7200

contato@aquaculturebrasil.com

Av. Senador Gallotti, 329 - Mar Grosso
Laguna - SC, 88790-000

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME
CNPJ 24.377.435/0001­18

Top

Preencha todos os campos obrigatórios.

No momento não conseguimos enviar seu e-mail, você pode mandar mensagem diretamente para contato@aquaculturebrasil.com.

Contato enviado com sucesso, em breve retornamos.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Você será redirecionado em alguns segundos!