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24 de Novembro de 2021 Aquaculture Brasil
Métodos de controle da Ictiofitiríase: quais os próximos passos na prevenção desta doença?

De acordo com o Relatório publicado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) em 2020, a produção mundial de pescado chegou a 179 milhões de toneladas em 2018, atingindo um recorde histórico. A aquicultura cresceu 25% entre 2008 e 2017 e foi responsável por 82,1 milhões de toneladas métricas. O consumo humano de pescado também foi recorde sendo que em 1961, a população mundial consumia 9 kg per capita/ ano e, em 2018, este valor passou para 20,5 kg per capita anuais, principalmente devido a expansão da oferta de produtos aquícolas.

Com base no pressuposto de maior demanda e melhorias tecnológicas, espera-se que a produção total mundial de peixes continue a se expandir e, por este motivo, é necessário o desenvolvimento de tecnologias que permitam alavancar o setor da aquicultura no Brasil. A intensificação da produção faz com seja cada vez mais importante estar atento a fatores que são protagonistas na manutenção da sanidade dos animais. Na produção aquícola, várias são as doenças que podem acometer os peixes, sendo que entre os parasitas destaca-se o protozoário ciliado Ichthyophtirius multifiliis.

 

 

 

 

“Ictio” ou Ichthyophtirius multifiliis

Causador da “doença dos pontos brancos”, o Ichthyophtirius multifiliis ou “Ictio”, como é popularmente conhecido, causa sinais muito característicos de sua manifestação sendo facilmente reconhecidos nos peixes.

Considerado por muitos autores um dos mais comuns patógenos em peixes de água doce, possui distribuição geográfica global e é capaz de infectar qualquer espécie de peixe podendo causar altos índices de mortalidade. É particularmente devastador em animais de pisciculturas que por muitas vezes encontram-se em condições de maior estresse como manipulação constante, baixa oxigenação da água e alta densidade populacional.

Ciclo de vida

Seu ciclo biológico é complexo e inclui vários estágios morfologicamente distintos, onde cada um possui uma função específica (Figura 2).

A patogenia do Íctio está relacionada ao desenvolvimento de uma forma denominada trofonte. Neste estágio ele realiza o parasitismo no epitélio do peixe, ingere as células do hospedeiro, incluindo debris celulares.

Quando isso ocorre, células do sistema imune e células sanguíneas em geral migram para o foco de infecção.

É neste momento em que ocorrem as formações de pontos brancos situados em toda superfície corpórea, incluindo pele, nadadeiras, córnea, cavidade bucal e brânquias (Figura 3).

Um dos principais problemas relatados pela infecção do parasito está relacionado à formação de úlceras (Figura 4). Esses ferimentos são comumente utilizados como rota de entrada de patógenos secundários, oportunistas à condição de debilidade do hospedeiro frente à ictiofitiríase, como é o caso da Aeromonas hydrophila, que aumenta a mortalidade durante a infestação pelo por Íctio.

 

 

 

 

Prevenção da doença

Uma vez que tratamentos químicos ainda não possuem eficácia e praticidade satisfatórias no controle da ictiofitiríase, uma alternativa que vem ganhando destaque é a produção de vacinas para a prevenção da infecção desse parasita. Esta alternativa se destaca pois embora não existam relatos de espécies de peixes que sejam naturalmente imunes à infecção por I. multifiliis, diversos trabalhos já confirmaram que peixes sobreviventes à infecção inicial desenvolvem subsequente imunidade protetiva, o que indica que a imunização é uma alternativa viável para impedir a infecção desse parasita em peixes de criação.

A partir da elucidação da imunidade protetiva, estudos demonstraram que anticorpos de imobilização, encontrados no muco e no soro de peixes infectados com I. multifiliis estão envolvidos na proteção contra infecções subsequentes, sendo observados em altos títulos em peixes que já tiveram contato com o parasita. Esses anticorpos são produzidos em resposta ao contato com uma classe altamente abundante de proteínas dos parasitas conhecidas como antígenos de imobilização (i-Ag), que foram classificadas dessa forma devido ao fato de que a interação dos anticorpos do hospedeiro com tais proteínas de I. multifiliis provoca a interrupção dos movimentos flagelares do parasita, o imobilizando e o tornando vulnerável ao sistema imune do hospedeiro.

Em condições experimentais, peixes já foram imunizados com sucesso através de injeções por via intraperitoneal de terontes vivos, produzindo uma proteção de quase 100% nos animais desafiados com doses letais desses parasitas. Além disso, i-Ag nativos de terontes isolados também foram capazes de gerar proteção contra desafios subsequentes, mostrando ser uma opção efetiva de vacina contra I. multifiliis. Apesar desta efetividade, o grande problema no uso dessas estratégias de vacinação é o fato de que são necessárias grandes quantidades de terontes e, por serem parasitas obrigatórios (o peixe é essencial para que parasita complete seu ciclo), essas formas somente são obtidas a partir de animais infectados, o que torna essas opções de vacinação muito demoradas, caras e impraticáveis em larga escala para imunização de animais de produção.

Dessa forma, o desenvolvimento de sistemas alternativos para a produção dos i-Ag em grandes quantidades de forma recombinante é cada vez mais visado por grupos de pesquisa que buscam uma forma de evitar os prejuízos da doença em pisciculturas. Alguns destes antígenos de imobilização (i-Ag) já foram produzidos com sucesso na forma de proteínas recombinantes ou utilizados como vacinas de DNA. Apesar de observarem certo grau de proteção nos peixes imunizados, estas estratégias provocaram também alterações em vários parâmetros de resposta imune nos peixes e os testes feitos não forneceram proteção significativa em um subsequente desafio com o próprio parasita.

Sugere-se que a proteção insuficiente das alternativas testadas se deve ao fato de que a imunização tenha sido realizada apenas com os i-Ag que, utilizados isoladamente, não são capazes de estimular uma proteção eficiente nas mucosas, principal sítio de infecção do Íctio. Dessa forma, o uso de algum outro agente estimulante da resposta imune de mucosas teria o potencial de aumentar o efeito protetivo dessa estratégia de vacinação. Esse tipo de substância auxiliar recebe o nome de adjuvante e diversas pesquisas indicam que há potencial para a imunização desde que seja encontrada uma combinação adequada do antígeno com a mesma.

A obtenção de uma substância que possa ser utilizada para desencadear respostas imunológicas específicas e mais eficientes, sem a necessidade da introdução de substâncias oleosas como adjuvante, que podem ocasionar efeitos colaterais indesejáveis, é um dos principais objetivos dos estudos atuais. A vacinação é hoje cotada como a melhor estratégia de prevenção da ictiofitiríase.

Conclusão

Considerando o impacto social e econômico causado pela “doença dos pontos brancos” e a necessidade do desenvolvimento de sistemas alternativos para o controle dessa doença, a produção de uma combinação vacina/adjuvante contra I.multifiliis, capaz de conferir proteção contra este protozoário em sistemas de criação, é algo que trará enormes benefícios no controle dessa que é uma das mais devastadoras enfermidades de peixes em pisciculturas

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