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Bioflocos
Cultivo de Camarões
01 de Outubro de 2018 Aquaculture Brasil
Produção de Macrobrachium rosenbergii em sistema de bioflocos

Quando comparada com a carcinicultura marinha, o cultivo de camarões de água doce pode ser considerado menos impactante ao meio ambiente. Contudo, essa atividade ainda causa preocupações com a descarga de efluentes em corpos d’agua naturais e com o possível escape de espécies produzidas para o ambiente, principalmente quando essas espécies são exóticas ao ecossistema natural (Valenti et al., 2010).

Atualmente têm sido desenvolvidos sistemas fechados de criação, chamados de sistema de bioflocos (BFT), que previnem escapes de organismos e estimulam a ciclagem dos nutrientes na própria água do cultivo. Para permitir o sucesso na produção de espécies dulcícolas nestes sistemas há necessidade de preencher lacunas na informação desta modalidade de criação. Sendo assim uma série de trabalhos foi realizado para determinar algumas das principais condições de cultivo.

 

 

 

Avaliação de diferentes densidades

O primeiro passo foi determinar qual a densidade de animais adequada para realização do cultivo. No trabalho desenvolvido por Negrini et al., (2018), foi avaliado o efeito da densidade de estocagem no desempenho zootécnico de juvenis do camarão de água doce Macrobrachium rosenbergii, a principal espécie de camarão de água doce cultivada mundialmente. O trabalho foi desenvolvido em um sistema superintensivo com bioflocos. Os autores utilizaram tanques experimentais (microcosmos) com área de 0,20 m². Os tanques foram conectados a dois tanques de matriz de 300 L (macrocosmo) com tecnologia de bioflocos, usados como unidades de recirculação (Figura 1).

Juvenis de M. rosenbergii, com peso inicial de 0,315 ± 0,06 g (média ± desvio padrão) e comprimento inicial de 33,34 ± 2,26 mm, foram distribuídos aleatoriamente nos tanques em diferentes densidades de estocagem (50, 100, 150, 200 e 250 ind.m-2), em um período de 60 dias. A biomassa total ao final do experimento foi significativamente maior (p<0,05) com o uso de maior densidade populacional (250 ind.m-2). No entanto, camarões estocados na densidade de 50 ind.m-2 apresentaram sobrevivência significativamente maior (p<0,05) (73%) e valores significativamente menores (p<0,05) para conversão alimentar (1,28). As diferentes densidades populacionais avaliadas não afetaram o peso e o comprimento final dos camarões. A densidade recomendada para a criação de M. rosenbergii no sistema de bioflocos é de 50 ind.m-2.

Aspectos nutricionais em bioflocos

O fornecimento de alimento é tão importante quando a densidade, podendo ser fator limitante. Neste contexto Ballester et al. (2018) avaliaram o efeito da suplementação vitamínica e de minerais em dietas para M. rosenbergii criados no sistema de bioflocos. Quatro dietas experimentais foram avaliadas:

  • Dieta completa (Dieta 1 com suplementação vitamínica e mineral);
  • Dieta sem suplemento vitamínico (Dieta 2);
  • Dieta sem suplemento mineral (Dieta 3);
  • Dieta sem suplemento vitamínico e mineral (Dieta 4).

Após 45 dias de testes, as taxas de sobrevivência foram superiores a 90% e conversão alimentar de aproximadamente 1,8 foi observada para todos os tratamentos, indicando que a produção de M. rosenbergii no sistema de bioflocos não requer a inclusão de suplementos vitamínicos e minerais na ração.

Utilização de probióticos

Em outro estudo com a utilização de probióticos, proposto por Frozza (2017), avaliou-se o uso de probiótico contendo as espécies Bacillus subtilis e Bacillus licheniformis na criação de juvenis de M. rosenbergii em sistema de bioflocos, durante 40 dias. Os juvenis (0,12 ± 0,32 g) foram estocados em 16 unidades experimentais com área de 0,20 m2 , volume útil de 50L, e densidade equivalente de 150 ind.m2 . Foram avaliados quatro tratamentos:

  • Controle (sem adição de probiótico);
  • Tratamento com probióticos 1 (TPI) na concentração de 1,08.105 UFC.g -1;
  • Tratamento com probióticos II (TP2) com 2,17.105 UFC.g -1;
  • Tratamento com probióticos III (TP3) com 3,25.105 UFC.g -1;

 

 

 

 

Nos tratamentos com probiótico a adição foi realizada diariamente nos tanques de cultivo, contendo 4 repetições por tratamento. Foram realizadas análises microbiológicas nos dias 0, 20 e 40 do estudo, para avaliação quantitativa de bactérias probióticas na água de criação e no hepatopâncreas dos camarões.

Os resultados indicaram maior presença de B. subtilis no hepatopâncreas e de B. licheniformis na água, sendo as espécies diferenciadas pela morfologia das colônias e confirmadas pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), utilizando primers específicos.

Os resultados demonstrados, indicam que concentrações a partir de 1,08.105 UFC.g -1 (TP1) contribuem para a melhor sobrevivência de M. rosenbergii em sistema de bioflocos.

RAS x BFT

Ballester et al. (2017) também realizaram um compativo entre dois sistemas de criação para M. rosenbergii, sendo um com uso de sistema de recirculação de água com biofiltro (RAS) e outro com uso de flocos microbianos (BFT).

No estudo pós-larvas de camarões com peso médio inicial de 0,13 ± 0,05 g foram acondicionadas aleatoriamente em seis unidades experimentais com 0,20 m² e volume de 50 L por trinta dias.

O oxigênio dissolvido, temperatura e pH foram monitorados diariamente; a concentração de amônia foi determinada três vezes por semana; concentração de nitrito, alcalinidade e dureza foram medidas semanalmente. Para a formação de floco microbiano, o melaço foi usado para manter as concentrações de amônia em níveis seguros para a criação de camarão.

As variáveis de qualidade da água permaneceram dentro do intervalo adequado para a produção da espécie. Ao final do experimento, foram avaliados sobrevivência, taxa de crescimento específico, ganho de peso e taxa de conversão alimentar. Diferenças foram encontradas apenas na taxa de conversão alimentar com melhores valores no tratamento de RAS (1,82:1) em relação ao tratamento BFT (2,25:1). Os microrganismos presentes nos tratamentos RAS e BFT também foram avaliados. As densidades de rotíferos, amebas e bactérias totais foram maiores no tratamento BFT, embora os mesmos organismos tenham sido encontrados no tratamento de RAS (Figura 2).

Conclusão

Os resultados dos experimentos com a produção de M. rosenbergii em sistema BFT demonstram a possibilidade de produzir estes camarões no sistema superintensivo com bioflocos, entretanto, apontam que as densidades de cultivo não podem ser tão altas quanto àquelas usadas para camarões marinhos. A supressão de suplementos vitamínicos e minerais nas rações pode ser realizada e a utilização de probióticos é benéfica para o cultivo. Entretanto, são necessárias avaliações econômicas criteriosas para determinar a viabilidade deste tipo de cultivo.

 

Autores:

Claudia Caramelo Brazão; Rafael Ortiz Kracizy; Fabrício Martins Dutra; Ademir Heldt Leandro; Maurente Amábile Frozza; Cecília Silva de Castro; Shayene Agatha Marzarotto; Paulo César Abreu e Eduardo Luis. C. Ballester*

Laboratório de Carcinicultura

Universidade Federal do Paraná – UFPR Palotina, PR

*elcballester@ufpr.br

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

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