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15 de Setembro de 2020 Aquaculture Brasil
Aquicultura, segurança alimentar e qualidade do pescado: esclarecendo mitos e insinuações

Através do “The State of World Fisheries and Aquaculture” (Estado Mundial da Pesca e Aquicultura - SOFIA, 2020), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura [FAO – Food and Agriculture Organization] demonstrava que em 2018 a produção da aquicultura ultrapassava a da pesca e já respondia pela metade do consumo mundial de pescado. Segundo dados do SOFIA (2020), o desembarque de pescado em 2018 alcançou 179 milhões de toneladas, com um valor total estimado em US$ 401 bilhões, dos quais 82 milhões de toneladas, avaliadas em US$ 250 bilhões, vieram da produção aquícola. Deste total, 156 milhões de toneladas foram destinados ao consumo humano, o que equivale a um abastecimento anual estimado de 20,5 kg per capita. Os 22 milhões de toneladas restantes foram destinados a outros usos, principalmente para a produção de farinha e óleo de peixe. A aquicultura mundial já representa 46% do desembarque total de pescado e 52% de todo pescado destinado ao consumo humano, e já em 2013-2014 projetava-se que evoluiria para a contribuição de 65% de todo o desembarque deste pescado até o ano de 2030 (Fontes et al., 2013; WBG, 2013). De fato, o desembarque de pescado representa apenas 1~2% do total de alimentos produzido pela humanidade, mas contribui com 10~12% do total de proteína consumida pela raça humana, sendo a proteína cárnea de mais alta digestibilidade (96%) ou valor biológico, comparativamente às carnes brancas (90% de digestibilidade) e vermelhas (87% de digestibilidade).

Em relação ao desembarque e consequente consumo de pescado, a balança comercial brasileira está, e sempre esteve, em incômodo desequilíbrio; em 2014 já acumulava déficit de aproximadamente R$ 3,0 bilhões (Barone et al., 2017). Por outro lado, conforme levantamentos da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR, 2020) e da Seafood Brasil (2019), a piscicultura brasileira cresceu 4,9 % em 2019, terminando o ano com a produção de 799.560 toneladas de peixes em confinamento, que representa 50,3 % do desembarque de pescado no país, 100 % destinado ao consumo humano. Este crescimento supera o de qualquer outra indústria da proteína animal.

Apesar de todos estes fatos, de tempos em tempos são veiculadas notícias especulativas, não embasadas, distorcendo os fatos, que lamentavelmente tentam jogar a opinião pública contra os avanços e a importância da aquicultura para a segurança alimentar e dos alimentos consumidos mundialmente, em particular no país. Um artigo/coluna em um respeitado diário paulistano divulgou recentemente um pronunciamento de um renomado profissional da área de saúde que, entre outras coisas, afirmava, ipisis literis, que “salmão do sushi é tão tranqueira quanto salsicha e biscoito recheado”, que mesmo em cidades autossuficientes em pesca “...o que você encontra nos restaurantes dessas cidades? Salmão e tilápia de criação”, e que “... o salmão não é capturado no mar. Ele é abundante porque vem de fazendas marinhas gigantescas, a maioria delas localizadas no Chile. ... Esse peixe não é saudável... o salmão de criação poderia ser catalogado como um alimento ultra processado – mesma categoria dos biscoitos recheados e da salsicha”.

Preocupada com a repercussão negativa de tais tipos de notícias, a Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática [AQUABIO], sociedade científica que congrega profissionais de diferentes áreas do ensino e da pesquisa na área de biologia e aquicultura, i.e., produção de pescado em confinamento, especialmente neste momento de tanta insegurança provocada pela pandemia do “Covid-19”, reuniu alguns especialistas para elaborar este texto com o objetivo de esclarecer a todos os potenciais leitores sobre a importância da aquicultura - produção de organismos aquáticos em condições controladas - na produção de alimentos, contribuindo na geração de emprego e renda e na redução da pobreza e da fome em várias partes do mundo, desempenhando assim papel de extrema relevância para a segurança alimentar e dos alimentos consumidos pela população mundial e brasileira, por extensão. Então, vamos aos fatos.

 

 

Nota de esclarescimento

Aparentemente o que se defende nas afirmações consideradas acima é que se deveria, enquanto população humana, abandonar totalmente o consumo de qualquer tipo de pescado produzido em aquicultura e voltar a consumir somente pescado (“seafood”) oriundo da pesca extrativa. Como bem posto pelo Prof. Dr. Bernardo Baldisserotto quando tomou conhecimento da matéria jornalística em tela, isso seria o mesmo que advogar que se voltasse à pesca de baleias para usar o óleo na iluminação das cidades com lampiões. Para “voltar” a depender exclusivamente da pesca para a alimentação humana, seria necessário eliminar da face do planeta, de imediato, 2,52 bilhões de pessoas, ou seja, “fazer” a atual população humana de 7,79 bilhões “voltar” aos 5,27 bilhões de habitantes registrados em 1990 quando foi constatada a estagnação do desembarque de pescado originado da pesca extrativa pela FAO. O Brasil teria que fazer sua atual população de 200,9 milhões de habitantes voltar à marca de 146,8 milhões de habitantes (para radicalizar poder- -se-ia voltar à marca de 1 (um) habitante km-2, ou seja, à capacidade de sustentação estimada do território nacional de oito milhões de km2 pelos antropologistas quando Cabral por aqui aportou em 22 de abril de 1500). Não, não existe qualquer região ou cidade do país autossuficiente em pescado. Prova está no fato que mesmo nas cidades “tidas” com autossuficientes, notadamente aquelas às margens dos piscosos rios da região norte, consome-se pescado produzido em piscicultura nos restaurantes. Para que se pudesse voltar ao consumo do pescado originado estritamente da pesca extrativa haveria necessidade de se “promover” uma hecatombe mundial!

Produtos altamente processados são, praticamente na sua totalidade, produtos embutidos, enlatados. Afirmar que tilápia e, especialmente, o salmão consumido no país, são um produto altamente processado é incorrer em séria falha conceitual. Uma coisa é o processo de gestão, e outra o processamento industrial. Tanto a criação de tilápia no Brasil, de salmão do Chile, quanto a produção de salsicha em qualquer parte do mundo, seguem os mesmos conceitos de gestão de processos (Sistema Toyota-Lean, 6-Sigma, 5-S, Kamban etc), mas são processos de produção (criação x industrialização – antes da porteira x pós porteira) completamente distintos. O processo de produção de salmões confinados no Chile é muito semelhante àquele de “produção” do salmão selvagem: vivem na água salgada em cardumes, alimentam-se diariamente de dietas que contêm teores de nutrientes semelhantes ao que encontra na natureza, inclusive os tão “famosos” ácidos graxos ômega-3 (n-3). Se assim não fosse, não sobreviveriam ao sistema de confinamento. A exemplo da tilápia, largamente produzida e consumida no país, o salmão importado pelo Brasil é produzido em sistema intensivo e comercializado a partir do processamento mínimo (vide Oetterer, 2002; Oetterer et al. 2014). Na realidade, a partir de uma exigência do mercado, o Chile exporta para o Brasil salmões com o corte desenvolvido exclusivamente para o mercado brasileiro, o corte Brasil H/ON (vide Barone e Guilguer, 2016), ou seja, peixes sem qualquer processamento outro que a evisceração, algo nem remotamente comparado ao processo industrial de produção se uma salsicha, por exemplo. “Cientificamente falando”, para que se possa fazer qualquer afirmação, para se obter resultados minimamente consistentes e confiáveis sobre os quais se possa emitir juízos de valores, só se pode (deve) fazer comparações entre produtos semelhantes, i.e., salmão “criado” x salmão selvagem; salsicha x salmão embutido. Opiniões e afirmações emitidas fora deste contexto carregam erros conceituais graves e são, consequentemente, especulativas ou não têm mesmo qualquer validade.

É oportuno também discutir algo em relação à administração de remédios “aos baldes” e à alimentação (dietas) dos peixes confinados. Os medicamentos utilizados pela aquicultura, quando utilizados, devem ser registrados e autorizados pela legislação vigente e prescritos e administrados por profissionais certificados e responsáveis. Existem transgressões às normas, claro, o que é antes a exceção que a regra. O assunto foi tratado com abrangência e muita competência em Baldisserotto et al. (2017), volume que deveria ser leitura compulsória para todos que estão necessitando ampliar os horizontes e aclarar as ideias a respeito.

Mas, dando alguma especificidade ao tratamento do assunto, considere-se de início o dito popular: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Uma coisa é: usa-se antibiótico em aquicultura como um todo, piscicultura em particular? Sim, da mesma forma que se usa em bovinocultura de corte e leite, suinocultura, avicultura etc. Mas, qualquer que seja o caso e a área, o uso de antibióticos, quimioterápicos e outros medicamentos na produção animal é extremamente regulado em nosso país, particularmente depois que o Colégio Brasileiro de Nutrição Animal promoveu e patrocinou em 1999 o Simpósio Sobre Aditivos Alternativos na Nutrição Animal, que colocou frente à frente, em debate público, duas das maiores autoridades de então na defesa e contestação do uso de antibióticos na nutrição animal, respectivamente Dr. Gary M. Cromwell (University of Kentucky, Lexington, KY, USA) e Dr. Arturo Anadón (Universidad Complutense de Madrid, España). As informações contidas nos anais daquele evento (Miyada et al., 1999) foram parte integrante do documento apresentado pela delegação brasileira no “World Trade Organization Ministerial Conference” (Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio) realizada no mesmo ano em Seattle, WA, EUA, ocasião em que vários acordos referentes ao controle do uso de medicamentos na produção animal foram celebrados e fortaleceram definitivamente a aceitação dos produtos cárneos brasileiros no mercado internacional.

No que concerne a piscicultura, usa-se especialmente a enrofloxacina e o florfenicol no tratamento das bacterioses dos peixes confinados. Enfatize-se: no tratamento, nunca como agente profilático ou promotor de crescimento. Marques et al. (2018) demonstraram recentemente que o florfenicol tem um período de depleção (“withdrawal period”) de 129 graus dia (graus dia é o somatório da temperatura média de dias subsequentes, e.g.: 129 graus dia é o somatório de uma temperatura média de 25,8 o C de um período de cinco dias). Sistemas de salmonicultura operam em temperaturas variando de 14 a 17 o C, de formas que todo o florfenicol, administrado em qualquer forma a salmões em criação estaria eliminado do corpo dos animais em aproximadamente nove dias. Essa regra do 120 - 140 graus dia para a depleção dos antibióticos em peixes é bem geral, ou seja, se um peixe de clima temperado ficar sem ser alimentado com dietas contendo antibiótico ou sem ser injetado por antibióticos por cerca de 10 ~14 dias, ou 4,3 dias para o caso de peixes tropicais, como a tilápia, estará apto para consumo humano.

Outros trabalhos chegaram a conclusões semelhantes para antiparasitários como o levamisole e albendazole e outros quimioterápicos, como a oxitetracilina e a enrofloxacina (vide Busatto et al., 2018; Paschoal et al., 2013; Zanon et al., 2012; Paschoal et al., 2011). A explicação para a universalidade deste fenômeno reside no fato que peixes habitam um meio que favorece a dispersão de moléculas circulantes no corpo por difusão osmótica, particularmente via brânquias, de formas que tudo que está em circulação no corpo destes animais, logicamente em maior concentração que na água em que vivem, tende a se difundir de modo passivo, “fácil”, para o meio. O advento das práticas de vacinação de peixes produzidos em sistemas intensivos, salmonídeos e tilápias em particular, reduziram significativamente e devem “zerar” o uso de antibióticos e quimioterápicos em piscicultura (vide Mouriño et al., 2017; Delphino et al. 2019).

Um argumento “definitivo”, mas de cunho absolutamente pragmático e vivencial na discussão deste aspecto, é o que segue: é de domínio público e conhecimento geral que o controle que a “Food and Drug Administration of the United States Department of Health and Human Services” (Administração de Drogas e Medicamentos do Departamento de Saúde e Serviços Humanos – FDA) do governo dos Estados Unidos da América exerce sobre a qualidade dos alimentos comercializados naquele país é um dos mais severos, senão o mais severo, do mundo. Se houvesse qualquer possibilidade de contaminação de qualquer produto ou subproduto do pescado importado pelos EUA, seguramente a importação do produto em tela seria suspensa. Ora os EUA representam 27 % de todo o mercado chileno de salmão, um volume de aproximadamente 171 mil toneladas. Se o salmão chileno fosse impróprio para consumo simplesmente não faria parte do portfólio de produtos importados pelos EUA. Não faz sentido supor que o Chile produza, ou mesmo que consiga produzir, 171 mil toneladas de salmão para exportação para um mercado extremamente exigente como o americano e outras 81 mil toneladas contaminadas, inadequados para consumo humano, somente para comercializar com e no Brasil.

Resta, então, refletir sobre o aspecto nutrição e qualidade dos peixes produzidos em confinamento. Como afirmado, quando em confinamento salmões são alimentados com rações que contêm teores de nutrientes semelhantes àqueles encontrados nas dietas que consomem na natureza, inclusive os tão “famosos” ácidos graxos da série n-3; se assim não fosse, não sobreviveriam ao sistema de confinamento.

Não, não há qualquer exagero nesta afirmação e uma abordagem pragmática do assunto é oportuna:

(i) peixes são animais pecilotérmicos (ou ectotérmicos, ou poiquilotérmicos, dependendo do viés linguístico-gramatical de cada um), ou seja, sua temperatura corporal varia (equilibra-se) com a temperatura do meio;

(ii) o meio aquático é não somente termicamente mais estável que o meio terrestre, como também o padrão de definição e comparação dos limites de variação térmica (calor específico “padrão” = 1), i.e., sólido em temperaturas inferiores a 0 o C, líquido em temperaturas entre 0 e 100 o C, e gasoso em temperaturas superiores a 100 o C;

(iii) lipídios são “classificados” basicamente em saturados – gorduras e graxas, sólidos à temperatura ambiente –, e insaturados – óleos em geral, líquidos à temperatura ambiente, subdivididos em duas classes: (a) monoinsaturados, que apresentam apenas uma ligação dupla de carbono, e (b) poli-insaturados, que apresentam mais de uma ligação dupla de carbono.

Como peixes não regulam a temperatura corporal, para que mantenham a funcionalidade dos seus sistemas orgânicos, em que se inclui a capacidade de locomoção, reprodução e funcionalidade do sistema imunológico, é mister que quando em confinamento, sejam alimentados com rações formuladas para conter níveis adequados de gorduras insaturadas, líquidas ou pelo menos “maleáveis” em um meio de temperatura naturalmente mais amena que a do meio terrestre (afinal, em situações de desconforto térmico em épocas de calor intenso, tanto mamíferos quanto aves procuram a água para arrefecer a temperatura corporal por imersão, por banhos). Este entendimento está ao alcance de qualquer ser humano com capacidade mínima de raciocínio lógico e, claro, não há como negar estas evidências.

De toda forma, mesmo que recebam quantidades às vezes desproporcionais de gorduras saturadas na dieta através da ração, peixes têm capacidade, conquanto limitada, de “alongar” cadeias de ácidos graxos saturados para produzir, depositar e utilizar ácidos graxos insaturados no corpo, como suficientemente provado e discutido por Martino et al. (2002a, b) em relação a peixes tropicais (bagres) e Turchini et al. (2011) e Kjær et al. (2016) especificamente em relação aos salmonídeos. Na realidade, Turchini et al. (2011) demonstraram que salmões são, na realidade, antes de consumidores, verdadeiros produtores de ácidos graxos n-3 de cadeia longa, i.e., insaturados.

O padrão-ouro mundial da nutrição de peixes e camarões é a publicação NRC (2011). As exigências nutricionais em ácidos graxos de tilápias e salmões estão resumidas na publicação em questão e recomendam que dietas para salmões contenham 1% de 18:2n-6 (ácido linoleico - LNA) mais 1% de 18:3n-3 (ácido linolênico – (A)LA), e assim são formuladas. A falta destes lipídios nas dietas dos salmonídeos implica em sérias perdas econômicas em função da redução do ritmo de crescimento e redução da eficiência alimentar, quando não na perda total do estoque confinado resultante de anemia crônica, degeneração do epitélio branquial, esteatose, hipertrofia (hepatomegalia) e degeneração hepática e consequente falência completa do sistema imunológico. Desta forma, se o salmão chega à mesa do consumidor é porque recebeu adequada nutrição lipídica (e também, claro, em energia, aminoácidos, vitaminas e minerais) e tem, consequentemente, composição corporal e qualidade próprias para consumo. O mesmo é verdade em relação aos peixes tropicais, tilápias aí incluídas, como recentemente relatado em trabalho que reuniu esforços dos grupos de pesquisa da Universidade Federal de Lavras, do Centro de Aquicultura da UNESP e do Departamento de Biologia e do Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, o qual demonstrou que a otimização da relação LNA:LA na dieta melhora o perfil de ácidos graxos corporais em juvenis de tambaqui (Paulino et al., 2018), ou seja, a nutrição lipídica dos peixes confinados pode, na realidade, permitir “desenhar” a composição em lipídios da carne dos peixes, tornando- -a em verdadeiro alimento funcional. É impossível que grupos de pesquisadores de tão reconhecida capacidade possam estar todos equivocados ao mesmo tempo!

Parece oportuno também esclarecer a afirmação que a ingestão de alimentos com alto grau de processamento produz peixes “ultra processados”. Primeiramente, fica bastante difícil compreender como o alimento processado pode “passar” para o peixe o seu grau de processamento. Seria o mesmo que afirmar que se um ser vivente qualquer ingerisse uma quantidade inespecífica de batatas “chips”, iria acordar empacotado à vácuo em uma gôndola de supermercado.

Existe basicamente três níveis de processamento de rações para uso em aquicultura (ou qualquer outra criação animal): (i) rações fareladas, que consistem na simples mistura dos ingredientes (farelos) utilizados para formular a dieta; (ii) rações granuladas ou peletizadas, que consiste na compactação (prensagem) das rações fareladas, geralmente em ambiente úmido, em grânulos (péletes); e (iii) rações extrudadas, que consiste na granulação das dietas na forma farelada sob cozimento, o mais alto grau de processamento que se aplica a uma dieta formulada para organismos aquáticos (Moscicki, 2011). Somente o uso de dietas (rações) completas e altamente processadas, i.e., cozidas, pode garantir alta eficiência alimentar (otimização do índice de conversão alimentar) e, com isso, segurança econômica, sanitária e ambiental no sistema de produção.

Quanto melhores a qualidade nutricional – formulação precisa e alta digestibilidade – e a estabilidade do alimento na água – grãos extrudados são formados por gelatinização do amido e matriciamento e, assim, se mantêm estáveis por tempo suficientemente longo para que os peixes possam consumir todo o alimento administrado em uma refeição –, maior a produtividade e menor a carga poluente do sistema de produção. O uso de rações extrudadas reduz as perdas físicas do manejo alimentar e a emissão de metabólitos (de nitrogênio e fósforo) e sólidos (fezes) pelos peixes em cerca de 90% (vide os trabalhos clássicos de Colt, 1991; Beveridge e Phillips, 1993).

A matéria a que se refere este artigo termina em um post script, onde se ressalta que o que foi afirmado em relação especificamente ao salmão é aplicável também para outros animais de criação, em particular o frango, e considera que como é inviável para a maioria da população adquirir carnes produzidas em fazendas que adotam boas práticas, seria melhor continuar comendo “carne de baixa qualidade” que não comer qualquer proteína, mesmo que o alimento consumido não seja bom. Tal afirmação não somente desmerece todo e qualquer produtor rural brasileiro, da agropecuária ou da agricultura, bem como a todo e qualquer engenheiro agrônomo, médico veterinário, zootecnista ou técnico agropecuário em atividade no país. A carne de aves, de suínos, de bovinos, de peixes ou qualquer outro produto cárneo consumido pela população brasileira e mundial, não “brota” por geração espontânea nas gôndolas de supermercados ou nas prateleiras de um refrigerador. O mesmo é verdade para qualquer produto agrícola, de uma uva a uma melancia. Ovos também não “brotam” nas caixas ou bandejas. Leite também não “mina”, não jorra das caixas longa vida (“tetra pak”) ou embalagens plásticas. Todo alimento consumido pela raça humana, qualquer que seja o processo de produção, é resultado de trabalho árduo, duríssimo, ininterrupto, dedicado, competente, resultado de muito estudo e pesquisa e tecnologia. E de altíssima qualidade! Assim não fosse, nosso país não seria o maior produtor e exportador mundial de carne bovina, o segundo, e em horizonte muito curto, o maior produtor e exportador de carne de frango, e o quarto maior exportador de carne suína. O mesmo vale para soja e milho. Segundo o dito popular, se conselhos fossem bons pessoas não os davam, mas sim vendiam. É impossível cercear o direito de se ter e publicar qualquer ideia, mas é sensato e honesto acatar o aforismo do filósofo Voltaire (1694 – 1778), segundo algumas fontes, ou de sua biógrafa Evelyn Hall, segundo outras, “Posso não concordar com uma única palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la”. Assim sendo, o que segue, então, não é um conselho, mas sim um alerta. As informações oferecidas no parágrafo anterior são frutos da leitura do excelente volume organizado pelo Dr. Roberto Rodrigues, eminente ex-Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura do Brasil, enquanto ocupante da Cátedra Luiz de Queiroz da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo: “Agro é Paz: Análises e propostas para o Brasil alimentar o mundo”. Quem sabe seja interessante antes de se propalar falsas informações ou expor ideias não balizadas ao escrutínio público em nome sabe-se lá de qual grupo de interesse ou ideologia, que os perpetradores de tais leviandades não somente lessem o livro em tela como estudassem o assunto sobre o qual irão discorrer, começando, no caso particular da aquicultura, pela lista de referências bibliográficas que segue.

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações e bibliografias. Clique aqui
 

Autores: José Eurico Possebon Cyrino1 , Juliana Antunes Galvão2 , Daniel Yokoyama Sonoda3 e Célia Maria Dória Frascá-Scorvo4*
¹ Departamento de Zootecnia Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo
² Coordenadora do GETEP Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo
3 Instituto de Pesquisas e Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE) Piracicaba, SP
4 APTA Regional, Polo Leste Paulista, SAA-SP Presidente da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática *celia.scorvo@sp.gov.br

 

 

 

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