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Cultivo de Peixes
01 de Fevereiro de 2018 Aquaculture Brasil
A nova aposta da Aquicultura brasileira - muito prazer, Panga BR

“Panga BR” é o nome adotado para o pangasius que recentemente vêm sendo cultivado no Brasil. A espécie, Pangasius hypophthalmus, é a mesma criada de forma intensiva em cerca de dez províncias do Delta do Rio Mekong, Vietnã. No Brasil esse peixe tornou-se conhecido a partir de 2009, não pelo seu cultivo em terras brasileiras, mas quando o País começou a importar toneladas de filés do Sudeste Asiático. Atualmente importamos cerca de 70 mil toneladas de filés, enquanto a Europa importa outras 180 mil toneladas anuais.

Com um preço acessível, além de uma carne macia e sem espinhos, o panga foi bem aceito não só no mercado nacional, mas também em centenas de outros países. A espécie vietnamita é exportada para mais de 138 países, incluindo mercados exigentes como Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Austrália.

Com uma área similar ao Estado do Maranhão (cerca de 331 mil km²), atualmente o Vietnã produz 1,2 milhão de toneladas de panga, 34% a mais do que todo volume produzido pela piscicultura brasileira em 2017 (791,2 mil ton.). Em 2016, a área de produção de panga no Vietnã era de 5.547 hectares. Estima-se para 2020 uma área entre 7.600 a 7.800 hectares, ou seja, a criação da espécie cresce de vento em popa nesse país.

Do ponto de vista zootécnico, o panga é uma excelente espécie para aquicultura, em razão de algumas características:

• Não necessita de altos índices de proteína na ração, pois tem o hábito alimentar onívoro, assim como a tilápia, alimentando-se de todo o tipo de alimento (plânctons, frutos, pequenos invertebrados, entre outros);
• Tem respiração aérea facultativa, diminuindo a dependência por oxigênio dissolvido na água e permitindo altas densidades de estocagem;
• Em condições ideais atinge 1,0 kg em seis meses;
• Possui alto rendimento de filé, de 35 a 45%.

Tendo em vista todo este potencial, tanto de desempenho zootécnico da espécie quanto de mercado, a criação de panga despertou o interesse de produtores pelo Brasil. Ao final de 2016 o Estado de São Paulo foi o primeiro a regularizar o cultivo da espécie, através do Novo Decreto Paulista. Ressalta-se que a permissão é somente para cultivo em viveiros escavados ou de alvenaria, ou seja, a espécie não pode ser criada em tanques-rede no Estado de SP. No âmbito do Novo Decreto Paulista, o panga entrou em uma lista de diversas espécies aquáticas exóticas, cultiváveis nas bacias do estado de São Paulo, divulgada pelo Instituto de Pesca (IP).

 

 

ABC Panga

Após o Decreto Paulista, a união entre piscicultores do município de Araras, interior de São Paulo, em parceria com o Grupo de Estágios e Pesquisas em Monogástricos (GEPeM) da UFSCar/Araras e da empresa produtora de alevinos, Colpani Piscicultura, formou-se a Associação Brasileira dos Criadores de Pangasius (ABC Panga).

A associação tem por objetivo fortalecer a cadeia produtiva do pangasius com trabalhos de pesquisa, divulgação de informações, assistência aos produtores e interessados. Neste contexto, já foram organizados um workshop, um dia de campo no estado de São Paulo e duas reuniões técnicas, uma em São Paulo e outra no Rio Grande do Norte, estado interessado em regularizar o cultivo da espécie. Outro objetivo da associação é aproximar o produtor dos interessados em adquirir o produto, como as grandes redes de supermercado, por exemplo.

A associação defende que o panga cultivado no Brasil não irá interferir no mercado de outras espécies já cultivadas no País, uma vez que todo o ano entram toneladas desse peixe, importadas de outros países. Sendo assim, a espécie já está introduzida no mercado há cerca de 10 anos e a ideia é suprir o mercado da importação com o panga produzido nacionalmente.

A equipe da Aquaculture Brasil viajou até Mococa, município da região Nordeste Paulista, para conferir como andam os trabalhos com o pangasius.

Martinho Colpani, que atua na área da piscicultura desde a década de 80, é um dos produtores de alevinos e entusiastas do setor. Ele comenta que a produção de alevinos já é uma etapa tecnicamente dominada. Através de indução hormonal é possível fazer a reprodução da espécie de forma semelhante às demais do gênero. Atualmente o preço do alevino varia entre R$ 0,60 a R$ 1,20 a unidade. Entretanto, a intenção é reduzir este valor cada vez mais, a medida em que a demanda e o volume de venda/produção aumentem.

Quanto a genética, Martinho explica que é um processo constante, desde que iniciaram com a alevinagem tem se buscado melhorar os lotes, separando e identificando através de chips os peixes de melhor desempenho. Os peixes utilizados como reprodutores foram obtidos antes da portaria do IBAMA proibir a importação da espécie viva, uma vez que já entrava no país para cultivo ornamental.

Sobre o interesse nesta nova espécie, Martinho Colpani, que também é vice-presidente da ABC Panga, estima que entre produtores e interessados, o número chega a 200 pessoas, somente no Estado de São Paulo. 

 

Dados zootécnicos

Quanto ao crescimento, alevinos a partir de 20 g atinge 1,2 kg em 7 meses, através de uma conversão alimentar de 1,6:1. A produtividade ainda é baixa, de 10 a 50 toneladas/ha, quando comparada ao Vietnã, que produz até 600 toneladas/ha, mas já pode ser considerada satisfatória. Quanto à temperatura, Martinho comenta que a espécie tem sobrevivido em água com temperatura de até 15°C.

O fato da espécie possuir respiração aérea facultativa permite que o uso de aeradores seja reduzido. Esse portanto, é um ponto positivo da espécie, sobreviver em níveis muito baixos de oxigênio dissolvido na água. Assim, caso haja algum problema no sistema elétrico da propriedade e falte energia, o produtor não precisa se desesperar, pois teria entre 24 a 48 h para conseguir normalizar a situação, sem perdas no cultivo.

Outra vantagem, é que a ração mais produzida no Brasil é justamente para peixes onívoros, com 28 a 32% de proteína bruta na formulação. Assim, o produtor que já cultiva outras espécies e está iniciando com o panga, não precisa procurar uma ração específica. No Vietnã se utilizam rações na fase de engorda com até 24% de proteína, dessa forma, o peixe acaba armazenando uma maior quantidade de gordura, como pode ser verificado nos filés importados.

 

Na gôndola

O Panga BR já esteve presente nas gôndolas dos supermercados de São Paulo, entretanto não na forma de filé (corte comumente importado do Vietnã), mas vendido inteiro, in natura. A ideia é que o consumidor conheça a espécie, desmistificado um pouco da imagem desse peixe, que já sofreu com alguns mitos, especialmente os hoaxes divulgados pela internet. 

Posteriormente o panga BR também será oferecido no mercado na forma de filé. Contudo, o filé que chega ao Brasil sofre processos químicos para que seja clareado, deixando-o com a coloração mais branca. A associação comentou que o Panga BR não passará por esse processo químico, tornando-se um outro diferencial frente ao peixe importado.

 

O futuro

A intenção da associação, junto com a UFSCar-Araras é continuar produzindo conhecimento e gerando tecnologias produtivas para a espécie. Em breve deverão ser divulgados os resultados de alguns experimentos em andamento, incluindo a tolerância do panga à salinidade, demanda vinda do Rio Grande do Norte, que pretende utilizar a espécie nas fazendas de carcinicultura atingidas pela Síndrome da Mancha Branca, onde os produtores estão parados ou trabalhando em baixas densidades.

Além disso, a ABC Panga está auxiliando a estruturação de uma cooperativa formada por pequenos produtores, com sede em Araras (SP). Esta cooperativa pretende ser uma ferramenta para otimizar a compra dos alevinos, ração e demais insumos a preços mais baixos, e também agilizar a logística de venda do produto final.

Com algumas espécies já consolidadas na aquicultura brasileira, o Panga BR também pretende figurar entre elas, contribuindo para geração de renda ao pequeno, médio ou grande produtor. É uma nova aposta do “aquanegócio”, em um novo momento da aquicultura brasileira. Muito prazer, Panga BR.

 

Autora: Jéssica Brol
Aquaculture Brasil
jessica@aquaculturebrasil.com

 

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